Voyager: do Pálido Ponto Azul à fronteira do Sistema Solar

    Concepção artística mosta a Voyager 1.
Em 24 de novembro de 2007, o Apolo11 publicou uma matéria sobre os 30 anos das naves Voyager 1 e 2. Na ocasião, as sondas estavam há 15 bilhões de km de distância de nós. Passados três anos, a Voyager 1 atingiu a impressionante marca de 17.4 bilhões de quilômetros e é o objeto humano mais distante da Terra. Segundo o cientista-chefe do projeto Voyager, Edward Stone, a Voyager 1 começou a detectar uma mudança bastante significativa no fluxo de partículas solares ao seu redor. De acordo com Stone, as partículas não estão mais se dirigindo mais para fora do Sistema Solar, mas movimentando-se lateralmente, o que segundo ele significa que a sonda deve estar muito perto de mergulhar definitivamente no espaço interestelar. Os dados foram registrados pelo detector de partículas de baixa energia a bordo da sonda, que monitora a velocidade do vento solar. Esse fluxo de partículas carregadas é chamado de heliosfera e forma uma espécie de bolha em torno do Sistema Solar. Viajando em velocidades que superam facilmente 1 milhão de quilômetros por hora, esse vento produz uma verdadeira onda de choque ao se encontrar com as partículas vindas de outras estrelas, gerando calor. De acordo com os pesquisadores do Laboratório de Propulsão a Jato, da Nasa, os sensores da sonda determinaram que na posição atual a velocidade do vento solar chegou a zero, confirmando que a Voyager 1 está na zona de transição entre o Sistema Solar e o espaço interestelar.
Detalhe de um dos "Discos de Ouro" levados junto às Voyagers 1 e 2. Do lado esquerdo vemos a "capa" do disco, que ensina como utilizá-los.

Cultura Pop

Inicialmente, o objetivo principal da Nasa era explorar os planetas Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, missão que foi concluída em 1989, mas a história reservava para as sondas algo muito mais importante e duradouro Lançadas nos meses de agosto e setembro de 1977, as sondas gêmeas Voyager 1 e 2 não são apenas um símbolo da exploração do espaço. Tornaram-se também ícones da cultura pop, inspirando novelas, jogos de computador, músicas, videoclipes e dezenas de filmes entre os anos 1980 e 1990. A maior parte desses trabalhos de ficção mostrava o que poderia acontecer se uma raça alienígena conseguisse localizar a Terra utilizando os dados dos famosos "discos de ouro", levados pelas espaçonaves. Desde o início das explorações espaciais da Nasa, as naves levavam placas com informações sobre nosso planeta, que poderiam ser úteis no caso de serem interceptadas por uma raça alienígena. Isso inspirou o diretor do projeto Voyager, John Casani, a contratar o astrônomo e autor Carl Sagan, com o objetivo de dirigir o comitê de mensagens a ser embarcado na missão. Os discos das Voyager continham uma seleção de sons e imagens e retratavam a Terra através de pessoas jovens e velhas, homens e mulheres entre outras espécies, além de incluir informações sobre os continentes e a localização da Terra no espaço.

Mensagem da garrafa

Em seu livro "Murmúrios da Terra: a viagem interestelar", Carl Sagan descreve como o comitê criou o disco e como foram escolhidas as gravações. Foi o físico Frank Drake quem sugeriu a ideia de gravar sons de um lado e imagens do lado oposto. O grupo teve menos de seis semanas para produzir o trabalho que deveria representar toda a população da Terra e descrever o planeta de um modo geral, e que acima de tudo, também pudesse ser compreendido por uma raça extraterrestre.

O astrônomo e sua esposa, Ann Druyan. Sagan morreu em 20 de dezembro de 1996, aos 62 anos.

Apesar da chance das mensagens virem a ser encontradas por seres de outro mundo ser extremamente pequena, o disco de ouro das Voyagers se tornou um ícone.
"É a clássica mensagem da garrafa. A probabilidade de ser encontrada é muito baixa, mas a recompensa não tem preço", diz Ann Druyan, autora e produtora científica. Na época, Ann era diretora de criação do projeto e mais tarde se casou com Carl Sagan. Ed Stone explica que mesmo sendo pequenas as chances de ser encontrada, a gravação é uma importante mensagem para todos nós. "É um apelo à unificação", diz Stone. "Não é uma mensagem qualquer. É uma mensagem da Terra! Ela contém cumprimentos em muitas línguas, músicas de diversas culturas e imagens que retratam nosso planeta, nossa casa. É nossa tentativa de dizer o que é a Terra e o que pensamos de nós mesmos".

Missão romântica

Druyan também explica que a ideia de mesclar música, arte e ciência a fez devotar muita energia ao projeto. "A gravação representava um ideal e mostrava que ciência, arte e tecnologia podiam caminhar juntas". É uma das poucas grandes histórias que nós temos sobre a raça humana. Foi a forma que encontramos de celebrar a glória de vivermos nesse "Pálido Ponto Azul". "Essa foi a mais romântica e maravilhosa missão jamais realizada pela Nasa. Havia de tudo um pouco nas gravações: um beijo, uma mãe dizendo "Olá" pela primeira vez ao filho recém-nascido. Tudo é música e foi feito durante a Guerra Fria. Todos sabiam que haviam mais de 50 mil armas nucleares que poderiam ser disparadas a qualquer momento e havia muita dúvida sobe o futuro. Foi um trabalho muito positivo, um jeito de representar a Terra e dar um passo de qualidade em direção ao futuro. Foi irresistível"
Uma das mais belas fotos da Terra: "Pálido Ponto Azul". A imagem, feita pela Voyager 1 no dia 14 de fevereiro de 1990 mostra nosso diminuto planeta a uma distância de 6.4 bilhões de quilômetros de distância. "Pálido Ponto Azul" foi feita a pedido do próprio Carl Sagan, para justamente mostrar-nos quão ínfimo é o nosso planeta quando comparado à nossa arrogância.

Diga olá para eles!

Nick, filho de Carl Sagan, tinha seis anos em 1977, quando as gravações foram feitas. Ele participa de uma das faixas onde cumprimenta um possível ouvinte: "Olá das crianças do planeta Terra". Anos mais tarde, Nick confessou que não tinha a menor ideia da magnitude do que estava fazendo. "Meus pais me colocaram na frente de um microfone e disseram: O que você gostaria de dizer aos extraterrestres? Diga olá para eles!". Hoje em dia, 33 anos mais tarde, as Voyagers continuam sua jornada rumo ao desconhecido. Mesmo sendo infinitamente pequenas as chances de serem interceptadas por outra civilização, as mensagens e sua enorme distância deixam uma importante lição, no sentido de refletirmos sobre a necessidade de cuidarmos melhor da nossa própria casa, que a 17 bilhões de quilômetros, não passa de um distante "Pálido Ponto Azul".

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