Observações do trânsito de Vênus ao longo da história

O evento passou a ser observado após a formulação das Leis de Kepler para o movimento planetário. Na noite do dia 05 de junho de 2012 para o dia 06, poderemos observar um evento astronômico que ocorre com pouca frequência: o trânsito de Vênus, fenômeno semelhante a um eclipse solar. Trânsitos de Vênus sempre aconteceram, mas não temos notícias de alguém que tenha observado algum por acaso, embora isso fosse possível (os raios solares, passando por um furo em uma janela, podem reproduzir a imagem do Sol no chão do quarto escuro, por exemplo). Passamos a observar trânsitos de Vênus a partir do século XVII, após Johannes Kepler haver conseguido entender e equacionar as leis que regem os movimentos dos planetas. Os trânsitos planetários tornaram-se assim previsíveis.

As primeiras previsões do evento - Em 1627 Kepler previu um próximo trânsito de Mercúrio para 07 de novembro de 1631 e de Vênus para 07 de dezembro, também de 1631. (A observação desses fenômenos serviria, inclusive, para "provar" as suas teorias.) Kepler faleceu em 1630. O trânsito de Mercúrio foi observado pelo menos por quatro pesquisadores (em Paris, Alsácia, Tirol e Bavária). O trânsito de Vênus não foi observado, pois ocorreu algumas horas antes do previsto, na madrugada europeia do dia 6 para o dia 7. Hoje sabemos que apenas o final desse trânsito poderia ter sido observado da Europa Central. Segundo Kepler os trânsitos de Vênus ocorreriam em intervalos de aproximadamente 120 anos. Também segundo Kepler, em dezembro de 1639, Vênus deveria passar por detrás do Sol.

Em outubro daquele ano, menos de sessenta dias antes do fenômeno, Jeremiah Horrocks, astrônomo e matemático inglês, descobriu que Vênus passaria, de fato, na frente do Sol, e não atrás, como previu Kepler. Deveria haver um trânsito de Vênus no dia 04 de dezembro daquele mesmo ano. Horrocks, a partir de sua vila próxima a Preston e seu amigo William Cabtree, a partir de Manchester (ambos na Inglaterra), foram os primeiros a observar um trânsito de Vênus. Cabtree haveria ficado tão emocionado com o fenômeno que se esqueceu de fazer qualquer anotação. Horrocks projetou a imagem do Sol em uma folha de papel quadriculado, o que lhe ajudou em suas anotações. Horrocks morreu subitamente em 1641. O seu trabalho só foi publicado em 1662, juntamente às observações do trânsito de Mercúrio de 1661 feitas pelo astrônomo Johannes Hevelius.

Século XVIII - Várias expedições científicas foram organizadas para observar o trânsito de 1761 dos "mais longínquos pontos do planeta". Em uma época em que as viagens eram caras e demoradas, foram necessários altos investimentos. Pela primeira vez a comunidade científica mundial se organizou com um mesmo propósito.
A França e a Inglaterra fizeram os maiores investimentos. A França enviou expedições à Ilha de Rodriguez (norte de Madagascar), Sibéria e Viena; enquanto que a Inglaterra enviou seus astrônomos para a Ilha de Santa Helena e Sumatra. Os resultados foram desapontadores. Os valores para a paralaxe solar, obtidos por diferentes pesquisadores variaram de 8,5" a 10,5". A principal fonte de erro, além da já prevista imprecisão nas longitudes dos locais de observação, foi um inesperado efeito de difração ao qual foi dado o nome de "Gota Negra". No entrar e no sair de Vênus sobre o disco solar, aparece um "borrão" entre Vênus e a borda do disco solar. Com isso perdemos a precisão dos instantes de entrada e de saída.


A visibilidade total do trânsito de 1769 aconteceria em regiões "ainda mais longínquas" do planeta. Foram realizadas 77 expedições que efetuaram medições a partir de sítios espalhados pela América Central, América do Norte, Oceano Pacífico e Ásia. Apenas quatro dessas expedições foram para regiões de visibilidade total (Finlândia, Bahia de Hudson, California e Tahiti). Uma única expedição observou a partir do hemisfério sul. Foi uma expedição inglesa comandada pelo então tenente James Cook. Essa expedição teve também a missão de "explorar os mares do sul". As observações se deram no Tahiti (ilha que havia sido descoberta dois anos antes) e foram realizadas pelo astrônomo Charles Green e pelo próprio James Cook.

Século XIX - O progresso tecnológico obtido pela humanidade em um século foi significativo nas observações do trânsito de 1874. Medidas de tempo já haviam se tornado problemas menores e longitudes eram conhecidas com certa facilidade, mas o grande avanço nessas observações foi possibilitado pela invenção da fotografia.  A região de visibilidade total compreendia a Oceania e Asia oriental. A região de visibilidade parcial compreendia por um lado o Oceano Pacífico e por outro o restante da Ásia, África e Europa Oriental. As principais expedições continuaram sendo organizadas pela França e Inglaterra, mas cresceram significativamente contribuições de outros países.

A França organizou três expedições para o hemisfério norte e três para o hemisfério sul. Os cientistas franceses desenvolveram especialmente para essas observações uma espécie de "revolver fotográfico", que podia fazer 48 exposições seguidas do trânsito em um "daguerreótipo circular". No trânsito de 1882 a região de visibilidade total compreendia toda a América do Sul; toda a América Central e o leste da América do Norte. Além da França e da Inglaterra, aumentaram ainda mais as contribuições de outros países, dentre eles dos Estados Unidos, com oito missões organizadas pelo Observatório Naval de Washington. As missões norte americanas obtiveram aproximadamente 1400 fotos aproveitáveis do fenômeno. O Brasil participou com três missões organizadas pelo Observatório Nacional. A primeira, sob a coordenação de J. d'O. Lacaille, ficou em território nacional e observou a partir de Olinda; a segunda, sob o comando do Barão de Teffé foi para a ilha de São Tomaz (Antilhas); e a terceira, tendo à frente Luis Cruls, diretor do Observatório Nacional e coordenador das missões, observou a partir de Punta Arenas (Chile). Apesar das medidas brasileiras aproveitáveis haverem sido apenas correspondentes aos instantes em que Vênus completou a sua entrada no disco solar (segundo contacto: medida aproveitável apenas de Punta Arenas) e começou a sair do disco solar (terceiro contato: medidas aproveitáveis realizadas pelas três expedições), o valor da paralaxe solar obtido foi muito próximo do valor atualmente aceito: 8,808".
Fonte: Universitario.com.br

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