O Futuro do Curiosity: Mapeamento Montanhoso

Todo o planeta Terra parecia seguir a angustiante descida do rover Curiosity para a superfície de Marte. As primeiras descobertas do Curiosity mostraram que a água líquida já fluiu à superfície de Marte, mas as grandes descobertas ainda estão por vir, incluindo o Monte Sharp, com 5 km de altura.
As câmaras do Curiosity mostram o Monte Sharp à distância. O rover começará a subida do monte daqui a uns meses, seguindo a história geológica marciana à medida que sobe cada vez mais e examina no máximo 4,5 mil milhões de anos de material planetário. Crédito: NASA/JPL
O rover Curiosity tem sido uma presença quase constante nas notícias desde que chegou à superfície do Planeta Vermelho em Agosto. Mas mesmo com tudo o que o Curiosity já fez, os seus dias mais emocionantes ainda estão pela frente, afirma o geólogo Ralph Millikin, da Universidade de Brown e cientista da missão da NASA. Milliken é um cientista participante da missão e regressou à sua Universidade após passar três meses a trabalhar no JPL da NASA em Pasadena, no estado americano da Califórnia. Grande parte da missão até agora tem sido de diagnóstico, afirma Milliken - testando as peças mecânicas do rover e os instrumentos científicos para se certificarem que estão fazendo o que é suposto fazerem. Até agora o Curiosity está de boa saúde, realça Milliken, e fez várias descobertas interessantes. Mas a ciência está realmente apenas começando.

Para ele, a parte mais emocionante da missão ainda paira bem longe no horizonte marciano, na forma imponente do Monte Sharp. Elevando-se a mais 5 km de altura da base da Cratera Gale, o Monte Sharp detém um registo com 4 mil milhões de anos de história geológica marciana. O Curiosity irá dirigir-se para a montanha nos próximos meses, e Milliken espera que o veículo possa contar esta história, como uma agulha que lê um disco de vinil. As encostas são suaves o suficiente para que o Curiosity seja capaz de explorar uma parte substancial da montanha - talvez mais do que um quilómetro vertical de estratos, espera Milliken - antes do terreno se tornar muito íngreme. Os cientistas esperam que o Monte Sharp responda à grande questão do porquê de Marte ter secado e se as rochas contêm a história de ambientes habitáveis no passado. As missões anteriores revelaram pistas tentadoras de um passado marciano mais quente e mais húmido, e o Curiosity já confirmou que a água fluiu na superfície de Marte.

No início da missão deparou-se com o que parecia ser um leito antigo. As rochas tinham uma aparência arredondada, consistente com erosão provocada por água com uma altura entre o tornozelo até à anca de uma pessoa. Mas esta descoberta deixa muitas perguntas. Terá sido a água corrente em Marte um evento passageiro ou ficou lá por um longo período? E talvez mais importante, para onde foi a água?  Podemos ver a partir de dados de satélite em órbita de Marte que os minerais que transportam água estão na parte inferior do Monte Sharp, e à medida que subimos, deixamos de os ver," explica Milliken. "O fundo tem estes canais esculpidos pela água e no topo não existem. Isto é tudo consistente com a ideia de que as rochas no Monte Sharp preservam a história do desaparecimento da água em Marte."

À medida que o Curiosity sobe, irá mapear essa transição. Milliken vai trabalhar especificamente com o instrumento DAN (Dynamic Albedo of Neutrons). O DAN funciona através da detecção da velocidade a que neutrões são emitidos a partir da superfície e da subsuperfície directamente por baixo da sonda. O hidrogénio nas moléculas de água diminui a velocidade dos neutrões. Por isso, em locais onde a libertação dos neutrões é mais lenta, os cientistas podem inferir a presença de hidrogénio, e portanto, de minerais hidratados. Além de recolher passivamente as emissões de neutrões naturais, o instrumento DAN também pode enviar um pulso activo de neutrões para o chão e ver o que salta para trás.  À medida que viajamos, podemos fazer estas medições activas e passivas para tentar criar um mapa de como a água por baixo da superfície está realmente distribuída," afirma Milliken. "E à medida que subimos a montanha - à medida que viajamos no tempo para rochas mais jovens - esperamos ter uma visão de alta-fidelidade do que está acontecendo com os minerais hidratados nessas rochas."

Tudo isto irá dar-nos mais pistas acerca da questão fundamental que o Curiosity foi para Marte tentar responder: será que a área da Cratera Gale já teve condições para suportar vida? "As medições dos instrumentos a bordo do Curiosity poderão apontar para locais onde devemos procurar evidências de vida, se ela existiu, e lugares onde tais evidências estão mais provavelmente preservadas," afirma Milliken.

Ao longo do caminho, afirma Milliken, também podemos aprender coisas fundamentais acerca de como os planetas terrestres evoluem ao longo do tempo - coisas que não podemos facilmente aprender aqui na Terra. No nosso planeta, as rochas mais antigas são desgastadas pela erosão, pelo clima e pelo deslocamento das placas tectónicas. Mas parece que em Marte as rochas são muito mais antigas que as da Terra. Uma das coisas que mais me entusiasma é que temos preservação em Marte, de como um planeta terrestre teria sido há quatro ou há quatro mil milhões e meio de anos atrás," realça Milliken. "Simplesmente não encontramos rochas com 4,5 mil milhões de anos na Terra. Nós temos que fazer alguma suposição sobre como era a Terra nessa altura porque não temos as rochas. Mas em Marte elas estão preservadas." Por isso, talvez Marte seja mais do que apenas o nosso vizinho mais próximo no Sistema Solar. Talvez seja um fóssil planetário que pode dizer-nos mais sobre a formação e evolução do nosso próprio planeta.
Fonte: Astronomia On-Line

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