Hubble “estica” a régua astronômica

Nova técnica permite medir com precisão a distância de estrelas e objetos a até 10 mil anos-luz da Terra, dez vezes mais do que se podia antes
Há 24 anos na órbita da Terra, o telescópio espacial Hubble continua a se mostrar um instrumento de grande serventia para inovadores usos e descobertas. Desta vez, cientistas desenvolveram uma nova técnica que permite usar suas observações para medir com precisão a distância de estrelas e outros objetos a até 10 mil anos-luz da Terra, “esticando” em dez vezes a régua astronômica do método de paralaxe.  Muito usado também para fazer medições em terra, o método de paralaxe usa a trigonometria básica para calcular distâncias com base no fenômeno que faz com que a posição aparente de um objeto em relação a um fundo ainda mais longínquo mude quando observado de dois pontos de vista diferentes.

Assim, sabendo a distância exata entre os dois pontos de vista, a “base” do triângulo, e medindo a mudança aparente na posição do objeto, é possível saber a que distância ele está também.  No caso da astronomia, o método de paralaxe consiste em observar as mudanças aparentes de posição das estrelas em momentos com seis meses de diferença, quando a Terra está em pontos opostos na sua órbita em torno do Sol. O problema é que as distâncias astronômicas já são muito grandes quando comparadas ao diâmetro da órbita terrestre, cerca de 300 milhões de quilômetros. Além disso, quando mais longe estiver a estrela, menor será a variação na sua posição aparente. Isso faz com que mesmo a posição aparente de Alfa Centauro, o sistema estelar mais próximo do Sol, varie em apenas um segundo de arco, ou o equivalente à largura de uma moeda de dez centavos vista a pouco mais de três quilômetros de distância.

Com a nova técnica baseada na grande resolução de
imagens fornecida pelo Hubble, no entanto, os cientistas foram capazes de medir as mudanças na posição aparente de estrelas de um tipo conhecido como “variáveis cefeidas” de até cinco bilionésimos de grau, ou o equivalente a ler a placa de um carro estacionado na Lua. Além disso, as variáveis cefeidas têm um brilho conhecido, o que faz com que já sejam usadas há mais de um século como “velas padrão” na escala que nos ajuda a medir as distâncias dentro da nossa galáxia, da mesma maneira que as supernovas do tipo Ia, que também têm um brilho conhecido, representam o degrau seguinte, ajudando a medir as distâncias intergalácticas.

Juntando tudo isso, os especialistas esperam poder calcular com ainda mais precisão a velocidade de expansão do próprio Universo e como ela aparentemente está sendo acelerada pela misteriosa energia escura. Esta nova capacidade do Hubble deverá nos dar mais pistas sobre a natureza da energia escura, o misterioso componente do espaço que está esticando o Universo a um ritmo cada vez mais rápido – diz Adam Reiss, pesquisador do Space Telescope Science Institute, responsável pelas operações científicas do telescópio espacial e um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 2011 justamente pela sua descoberta, em 1998, de que a velocidade de expansão do Universo está se acelerando a partir da análise de observações de supernovas do tipo Ia em galáxias distantes.
Fonte: OGlobo

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