LBV 1806-20, uma estrela hipergigante ou um sistema binário de estrelas?

Segundo uma equipe de astrônomos, liderada por S. Eikenberry (Universidade da Florida, EUA), a estrela LBV 1806-20 é 5 milhões a 40 milhões de vezes mais luminosa do que o Sol. Até agora, a estrela considerada a mais luminosa era a estrela Pistola, que é 5 a 6 milhões de vezes mais luminosa do que nosso Sol. Embora seja extremamente luminosa, LBV 1806-20 não é facilmente observável, pois encontra-se a 45.000 anos-luz de distância de nós, do outro lado da Galáxia, e a luz que emite é absorvida pelo material interestelar que nos separa – a sua detecção foi feita com observações no infravermelho, que é uma região do espectro electromagnético que penetra mais profundamente a poeira interestelar. Os astrônomos conhecem LBV 1806-20 desde 1990, quando foi identificada como um estrela variável azul luminosa – um tipo de estrela relativamente rara, caracterizada por ser uma estrela muito quente e luminosa, de massa elevada e que exibe variabilidade. LBV 1806-20 tem, provavelmente, mais de 150 vezes a massa do Sol e a sua idade estima-se em 2 milhões de anos; compare-se com o Sol, por exemplo, que tem 5 bilhões de anos. A equipe utilizou imagens obtidas com a câmara de infravermelhos no Telescópio Hale (Caltech) de 5 m, no Monte Palomar (EUA), para determinar a massa e a luminosidade da estrela.

 Com observações adicionais realizadas com o Telescópio Blanco de 4 metros (NOAO /AURA), no Observatório de Cerro Tololo (Chile), determinaram ainda a distância da LBV 1806-20, a sua temperatura à superfície e a extinção da luz infravermelha emitida por LBV 1806-20 provocada pelo meio interestelar. Todas estas medições contribuíram para determinar a luminosidade da estrela. Contudo, um dos problemas em determinar a massa e a luminosidade de estrelas muito luminosas que se encontram a grandes distâncias é a dificuldade em confirmar que se trata apenas de uma estrela isolada e não de um sistema múltiplo.

As observações, embora de altíssima resolução, deixam ainda em aberto a possibilidade de se tratar de uma coleção de algumas estrelas numa órbita apertada, sendo necessárias mais observações para estabelecer a singularidade da estrela. Tomando-a como estrela única, um dos mistérios de LBV 1806-20 é o processo pelo qual conseguiu formar-se com uma massa tão elevada. Atualmente as teorias de formação de estrelas sugerem que as estrelas devem estar limitadas até cerca de 120 massas solares, pois o calor e a pressão do centro destas estrelas enormes afastam a matéria da sua superfície, impedindo a acreção de mais massa.

Uma possibilidade é LBV 1806-20 ter sido formada a partir de um processo chamado de "formação de estrelas por choque induzido", que ocorre quando uma supernova explode e induz a formação de uma ou mais estrelas de massa elevada numa nuvem molecular. A sua massa elevadíssima não é a única característica peculiar da estrela. LBV 1806-20 está localizada num pequeno enxame de estrelas onde se encontra uma estrela muito rara (só se conhecem quatro deste tipo em toda a Galáxia): uma repetidora de raios gama moles (soft gamma ray repeater), que é uma estrela de nêutrons magnética peculiar.

 Com um campo magnético centenas de bilhões de vezes mais intenso do que o campo magnético da Terra, esta estrela ganhou o seu nome de repetidora de raios gama moles devido às suas fulgurações periódicas de raios gama. Pensa-se ainda que o enxame possui também uma estrela em formação, ou recentemente formada. A presença de estrelas tão diferentes como a variável azul luminosa, a repetidora de raios gama moles e uma estrela ainda em formação é um exemplo de que as estrelas num enxame não se formam todas ao mesmo tempo, nem mesmo num aglomerado pequeno.
Créditos: Portal do Astrónomo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atena para a Lua

Capacete de Thor

Messier 87

Lápis grosso

Messier 81

Messier 4

Finalmente, vida extraterrestre detectável?

Banhado em azul

James Webb confirma que há algo profundamente errado na nossa compreensão do universo

Observações do JWST detectam disco empoeirado ao redor da estrela central da Nebulosa do Anel