Calisto - O Futuro da exploração joviana

A face de Calisto, mostrando uma das maiores bacias de impacto do Sistema Solar, baptizada como Valhalla, que deu origem a um enorme sistema de anéis múltiplos concêntricos. Crédito: JPL/NASA
Calisto é o mais distante dos quatro satélites galileanos de Júpiter. É também o menos denso, e aquele cuja superfície apresenta menores sinais de actividade geológica. De facto, a face desta lua de grandes dimensões parece apresentar-se completamente coberta por crateras, o que constitui uma indicação segura de que é muito antiga.  Antes da missão Galileo, Calisto era mesmo considerado um mundo pouco interessante. Porém, as imagens obtidas por esta sonda revelaram que há muitos mistérios neste satélite gelado – a começar pelo aspecto escuro da superfície. Tal parece dever-se à acumulação de poeira rochosa, que resiste aos processos que eliminam o gelo da face do satélite (nomeadamente a sua sublimação). Se a distribuição geográfica das crateras parece homogénea, indicando que não há áreas de idade muito diferente na superfície de Calisto, a verdade é que o mesmo não se passa quanto às suas dimensões. Existem poucas crateras de grandes dimensões (acima dos 60 km de diâmetro) e, surpreendentemente, quase nenhumas abaixo de 1 km.

Nesta imagem de alta resolução da superfície de Calisto sobressaem duas características: o aspecto escuro (de baixo albedo) da face desta lua, e a estranha ausência, ainda sem explicação, de crateras de reduzida dimensão. Crédito: JPL/NASA

Além disso, as maiores e mais antigas crateras parecem ter sofrido um processo erosivo que degradou a sua morfologia, adoçando-a – um facto difícil de explicar por processos exógenos, neste mundo praticamente sem atmosfera. Uma justificação razoável para a aparência actual de muitas crateras em Calisto prende-se com um processo de relaxamento da topografia numa época em que existia alguma energia interna (por outra palavras, calor) ainda a libertar-se. Este relaxamento pode mesmo ter apagado as maiores crateras formadas nessa época recuada. Posteriormente,o arrefecimento da litosfera (a camada externa, definida pela sua maior rigidez e não por qualquer diferença composicional) permitiu a retenção de crateras de cada vez maiores dimensões. Tal como em Europa e Ganimedes, também no caso de Calisto foi detectado um fraco campo magnético, variável, que se pensa ser induzido pela magnetosfera de Júpiter num hipotético oceano salgado... situado a grande profundidade sob o gelo, a julgar pela falta de sinais de actividade superficial. As passagens da sonda permitiram ainda deduzir a estrutura interna desta lua, e aí reside mais uma surpresa: talvez exista um núcleo, mas a sua natureza é rochosa, não metálica; mas, no caso de Calisto, quase se pode falar de um corpo não diferenciado, formado por uma mistura homogénea de gelo e rocha.

O futuro da exploração joviana

Calisto é um satélite de grandes dimensões, pouco menor que Ganimedes; estranhamente, o seu interior parece não ter sofrido diferenciação, mantendo uma composição homogénea de gelo e silicatos misturados. Crédito: JPL/NASA

O sistema joviano apresenta uma riquíssima diversidade em termos geológicos. Os seus quatro grandes satélites mostram-nos um espectro que vai do mais activo corpo planetário do Sistema Solar a um outro que, estranhamente, dadas as suas dimensões, não parece sequer ter dado o primeiro passo na evolução planetária, diferenciando-se internamente. A missão Galileo forneceu uma extraordinária quantidade de dados acerca destes fabulosos mundos (e, naturalmente, do seu gigantesco primário). Como é natural na actividade científica, se eles permitiram obter algumas respostas a questões que se punham antes da chegada da sonda ao sistema, abriram novos caminhos, levantaram novas questões, apontaram novos mistérios.
Uma das ideias mais ambiciosas para a exploração de Europa era a de enviar um cryobot, capaz de fundir e atravessar a camada externa gelada desta lua e de mergulhar até ao fundo do seu oceano, em busca de possíveis formas de vida alimentadas por actividade hidrotermal. Crédito: JPL/NASA

E depressa surgiram ideias para aprofundar o conhecimento humano sobre estes mundos distantes. Um dos principais focos de interesse, claro, é o de aprofundar a exploração de Europa: verificar a presença de um oceano, conhecer a sua química... mergulhar nele e procurar indícios de vida. Foram idealizados planos para missões ambiciosas, que incluíam a descida na superfície desta lua, e a perfuração da camada de gelo por robots capazes de, depois, explorarem as suas profundezas oceânicas. A realidade económica, como também é costume, intrometeu-se nestes planos, e rapidamente eles se viram reduzidos a um Europa Orbiter, uma sonda destinada a orbitar Europa.

Uma sonda de aspecto futurista para a continuação da exploração do sistema joviano. Por enquanto, apenas no papel. Mas a esperança não morre. Crédito: JPL/NASA

E as esperanças daqueles que gostariam de saber mais sobre os gelados satélites de Júpiter viram-se agora para o Projecto Prometheus, um programa da NASA que engloba o desenvolvimento de novos sistemas de propulsão para sondas, e que prevê o lançamento, por volta de 2015, do JIMO, acrónimo de Jupiter Icy Moons Orbiter. Este projecto de sonda automática com motores iónicos, pelo menos tal como é actualmente concebido, parece estar em andamento, tendo sido já concretizados alguns contratos de desenvolvimento. Além de uma viagem mais curta, esta sonda terá a possibilidade de investigar os vários satélites, em vez de ficar em órbita de apenas um. E assim, na próxima década, talvez venhamos a ter mais notícias dos estranhos mundos de Júpiter, dos seus vulcões, oceanos e campos magnéticos, e das suas fantásticas histórias geológicas.
Fontes: http://www.portaldoastronomo.org/tema_pag.php?id=14&pag=5


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