Astrônomos desvendam mistério da formação de dunas em Plutão

Mistério sobre o planeta, que tem atmosfera 100 mil vezes menos densa que a da Terra e, portanto, rarefeita demais para abrigar ventos fortes, intrigou cientistas por anos.

Até então, dunas só eram reconhecidas como existentes na Terra, em Marte, em Vênus, em Titã - a maior das luas de Saturno - e no cometa 67P (Foto: Nasa)

Em julho de 2015, ao observarem os registros feitos pela missão não tripulada New Horizons, que sobrevoou Plutão, cientistas da Nasa, a agência espacial americana, ficaram intrigados: estranhamente, entre montanhas e glaciares, havia dunas no planeta-anão.

Para que dunas sejam formadas, é necessário que haja vento - e com um mínimo de intensidade. Mas a atmosfera de Plutão é 100 mil vezes menos densa do que a da Terra, rarefeita demais para abrigar fortes correntes de ar.

Então, afinal, como teriam se formado as dunas de Plutão?

A resposta parece ter sido finalmente encontrada a partir de um estudo realizado por uma equipe internacional e interdisciplinar de especialistas - geógrafos, físicos e astrônomos -, liderada pelo professor e pesquisador Matt Telfer, da Universidade de Plymouth, do Reino Unido.

A partir das imagens captadas pela New Horizons e fornecidas pela Nasa, eles realizaram uma análise detalhada da superfície de Plutão. E, graças a recursos de modelagem por computador, conseguiram projetar como se deu a formação das misteriosas dunas.

Em artigo que será publicado na revista Science nesta sexta-feira, eles anunciaram a descoberta de que as dunas de Plutão ocorrem em uma camada de gelo ao lado de uma cordilheira. Mais especificamente, em uma área de 75 quilômetros de diâmetro, próxima à vasta planície batizada de Sputnik Planitia.
Pesquisadores concluíram que, por conta do ar rarefeito e da gravidade muito mais baixa do que na Terra, ventos até 100 vezes mais fracos do que o necessário para formar dunas por aqui já seriam suficientes para formá-las em Plutão (Foto: Nasa)

Até então, dunas só eram reconhecidas como existentes na Terra, em Marte, em Vênus, em Titã - a maior das luas de Saturno - e no cometa 67P. Com a sublimação do nitrogênio de Plutão, ou seja, a conversão do nitrogênio sólido diretamente em gás, os cientistas concluíram que pequenas partículas de metano acabam sendo lançadas na atmosfera do planeta. (Plutão é composto basicamente de nitrogênio, metano e monóxido de carbono.)

Protegidos por essa cordilheira e conduzidos por oscilações de temperatura, esses grãozinhos se comportam de modo semelhante à nossa areia no deserto, formando, assim, as dunas.

Ventos fracos, mas eficazes

Os ventos dessa região existem e chegam a, no máximo, 40 quilômetros por hora. Os pesquisadores concluíram que, por conta do ar rarefeito e da gravidade muito mais baixa que a da Terra, ventos até 100 vezes mais fracos do que o necessário para formar dunas por aqui já seriam suficientes para formá-las em Plutão. Além disso, os grãos de gelo da superfície têm seus gradientes de temperatura influenciados pela radiação solar, favorecendo essa movimentação.

Entre a cordilheira e a camada de gelo, as tais dunas ficam sedimentadas. No estudo, analisando as formações rochosas do planeta, os cientistas também concluíram que esse fenômeno não ocorre desde sempre. Teria se iniciado há 500 mil anos.

De acordo com o professor Telfer, é de se supor que todo corpo do Sistema Solar com atmosfera e superfície rochosa tenha dunas. A questão é justamente explicar a formação de tais estruturas em locais quase sem atmosfera e com temperatura média tão baixa - em Plutão, cerca de 230ºC negativos.

A equipe, formada por cientistas da Universidade de Plymouth (Reino Unido), da Universidade de Colônia (Alemanha) e Universidade de Brigham Young (Estados Unidos) deve continuar analisando imagens colhidas pela New Horizons, buscando compreender mais sobre as formações geológicas do planeta.

É planeta ou não é?

Plutão tem simpatia popular não só por ser o mais distante dos nove planetas do Sistema Solar - na conformação clássica -, mas também por ter sido "vítima" de um rebaixamento recente da comunidade científica internacional. Primeiro, deixou de ser considerado planeta. Depois, retomou parcialmente o "status", mas como planeta-anão.

Sua história para a humanidade começa em 1840, quando o matemático e astrônomo francês Urbain Le Verrier previu a posição de Netuno. Observações seguintes deste planeta começaram a fazer os cientistas suporem que haveria um outro corpo celeste além dele. Nascia o conceito de Planeta X, obsessão do matemático e astrônomo americano Percival Lowell.

Em 1906, ele lançou um grande projeto para tentar localizar o que seria o nono planeta. Morreu sem conseguir. Ou, ao menos, sem saber que tinha conseguido - na verdade, ele chegou a fotografar Plutão duas vezes, mas não o reconheceu. Oficialmente, Plutão só seria descoberto em 1930, pelo astrônomo americano Clyde Tombaugh. O nome Plutão foi sugestão de Venetia Burney, uma menina de onze anos de Oxford, fã de mitologia clássica e astronomia.

Plutão logo caiu nas graças do povo. O destrambelhado cão Pluto, da Disney, criado no mesmo ano de 1930, recebeu este nome em homenagem ao então recém-descoberto planeta. Em 1941, o químico Glenn Seaborg descobriu um novo elemento da tabela periódica e deu a ele o nome de plutônio, também em referência ao último dos planetas.

Na virada do século 21, entretanto, a comunidade astronômica mundial passou a debater se Plutão deveria ou não ser considerado um planeta. Isso porque outros astros de tamanho próximo a ele passaram a ser descobertos, caso de Éris, encontrado em 2005 e com quase o mesmo diâmetro de Plutão - chegou a ser chamado de "o décimo planeta".

Em 2006, a União Astronômica Internacional criou uma definição formal do que era ou não um planeta. E Plutão foi rebaixado. Virou ex-planeta. Houve muita comoção popular e até mesmo dentro da comunidade científica. Plutão acabaria reclassificado como planeta-anão.

New Horizons
Lançada em 2006 pela NASA, a New Horizons foi a primeira sonda a sobrevoar Plutão - o que ocorreu em 14 de julho de 2015. A espaçonave também fotografou suas cinco luas, Caronte, Nix, Hidra, Cérbero e Estige.
Fonte: G1

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