A prima desconhecida de SN1987A

A explosão da supernova de SN1987A foi um marco na astronomia moderna. Esse foi o evento de morte de uma estrela de muita massa mais próximo de nós ocorrido na era dos telescópios modernos. Ela explodiu na Pequena Nuvem de Magalhães, a meros 160 mil anos-luz de distância. A uma distância tão pequena (comparada, claro, com a de outras galáxias a milhões de anos-luz), a supernova SN1987A tem sido estudada praticamente mês a mês e, desse monitoramento quase contínuo, muitos pontos da teoria das fases finais de vida de estrelas de alta massa puderam ser aprimorados. Agora, uma outra supernova com características similares foi identificada em arquivos públicos de imagens.

A supernova explodiu entre 28 de fevereiro de 1995 e 15 de março de 1996 na galáxia de Circinus, a 13 milhões de anos luz. Essa foi a única supernova entre as cinco mais próximas (dos últimos 25 anos) que não foi detectada tão logo explodiu. A galáxia de Circinus é uma bastante estudada por ser uma das mais próximas e por mostrar gás ejetado em forma de anéis. SN1996cr, como foi batizada, foi observada pela primeira vez apenas em 2001, por Franz Bauer, dos EUA, analisando uma imagem de raios-X obtida pelo Telescópio Espacial Chandra. Na hora ele confessou que não entendeu muito bem o que tinha descoberto, e só depois de vasculhar os bancos de imagens públicos de observatórios do mundo inteiro é que ele se deu conta de estar diante de uma supernova.

Essa explosão passou despercebida porque, na faixa da luz visível, ela foi fraca e numa região da galáxia com muita poeira e gás. Como a galáxia de Circinus é bem observada, Bauer encontrou várias imagens, antes e depois da explosão, e percebeu que as similaridades com SN1987A eram imensas. Na verdade, a única diferença apreciável é a intensidade de brilho em rádio e raios-X. Comparada à SN1987A, essa prima distante é muito mais intensa. Ela aparece na imagem composta do Chandra (em azul) e do Hubble neste post como a bolota azul no canto inferior direito. As semelhanças são principalmente no que se refere aos momentos antes da explosão.

As duas supernovas mostram uma grande quantidade de material ejetado. Esse material se move com uma velocidade muito grande e forma uma onda de choque que limpa o meio onde a estrela moribunda está. No caso da supernova de Circinus, a onda foi tão violenta que quase não restou material em volta, e por isso ela brilha mais em raios-X do que a supernova na Grande Nuvem de Magalhães. Agora veja só o que Nathan Smith achou de Eta Carina a singelos 7.500 anos luz de distância: material ejetado a altas velocidades, no caso em 1843. Em duas supernovas relativamente próximas, isso aconteceu logo antes da explosão. Isso significa que esse deve ser mesmo o sinal de que a hora final de uma estrela com muita massa é precedida por eventos violentos desse tipo. Então, como eu disse no post abaixo, é só esperar que a Eta Carina logo, logo vai virar uma bela atração nos céus.
Créditos: Cássio Barbosa - G1

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lua eclipsa Saturno

Um rejuvenescimento galáctico

Uma enorme bolha de rádio com 65.000 anos-luz rodeia esta galáxia próxima

Marte Passando

Observações exploram as propriedades da galáxia espiral gigante UGC 2885

O parceiro secreto de Betelgeuse, Betelbuddy, pode mudar as previsões de supernovas

Telescópio James Webb descobre galáxias brilhantes e antigas que desafiam teorias cósmicas:

Telescópio James Webb encontra as primeiras possíveis 'estrelas fracassadas' além da Via Láctea — e elas podem revelar novos segredos do universo primitivo

Astrônomos mapeiam o formato da coroa de um buraco negro pela primeira vez

Mu Cephei