Conheça a Astrobiologia, a Ciência que busca vida extraterrestre
Reprodução artística mostra superfícia de Titã, lua de Saturno, que poderia abrigar vida Foto: Divulgação
Angela Joenck Pinto
A busca pela vida fora da Terra, fugindo dos estereótipos criados pelo cinema, é o trabalho dos astrobiólogos, que procuram compreender a origem, evolução, distribuição e destino da vida no Universo. Para atingir este objetivo, é necessário um esforço de pesquisadores de diferentes áreas que, trabalhando juntos, resolvem problemas dos campos da astronomia, física, química, biologia e geologia. No Brasil, a Astrobiologia está apenas começando. Em 2006, o País teve o seu primeiro workshop na área, atraindo cerca de 80 pesquisadores interessados e com projetos já em andamento. Logo em seguida, foi montado o primeiro grupo de estudos em Astrobiologia do Brasil, cadastrado no CNPq sob o nome Astrobio Brazil e coordenado pelos professores Eduardo Janot Pacheco (IAG-USP) e Claudia Lage (UFRJ).
Em 2009, a USP começou a construção do primeiro laboratório de Astrobiologia do Hemisfério Sul, o AstroLab. Segundo o atual coordenador, professor Douglas Galante, o intuito do projeto é ser um laboratório multidisciplinar e multi-institucional para o estudo da vida em ambientes extremos terrestres e para simulações de ambientes extraterrestres. "Enquanto o laboratório está sendo montado, temos usado grandes aceleradores para estudos de simulações, como o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, e o síncrotron Diamond, no Reino Unido", disse o cientista. "Nosso grupo também colabora em outros projetos, como o lançamento de um experimento de Astrobiologia em um sonda de espaço profundo, que ficará três anos viajando até um asteroide (missão Aster) e em estudos de microbiologia ambiental, trabalhando e coletando amostras da Antártica, Atacama, Andes, Amazônia e fundo dos mares", afirmou.
Para Galante, um dos fatores interessantes da Astrobiologia é que ela não é ramo formal da Ciência. "É um campo de estudo, no qual os diferentes ramos tradicionais podem conversar e buscar soluções em conjunto para perguntas muito complicadas, como: qual a origem da vida? Quais os limites para existência de vida? Existe vida fora da Terra? O que acontecerá com a vida na Terra no futuro?", falou. "Por isso, um Astrobiólogo pode ser um biólogo trabalhando com um organismo capaz de sobreviver na Antártica, mas transpondo seus resultados para saber como tal organismo sobreviveria em Marte ou Encélado (lua de Saturno). Ou um astrônomo estudando como a radiação de diferentes estrelas interage com um planeta e possibilita que se formem as primeiras moléculas necessárias para a vida, como os aminoácidos", completou o professor.
Mesmo com o interesse crescente no tema, não há cursos de graduação em Astrobiologia, apenas poucos programas de pós-graduação específicos na área, mas fora do Brasil. Por isso, Douglas Galante afirma que a melhor opção é escolher um curso relacionado com a área e com o viés de maior interesse do aluno, seja ela Biologia, Astronomia, Química ou similares. "É preciso procurar ter uma formação interdisciplinar e fazer iniciação científica em um projeto relacionado com Astrobiologia desde o início. E estudar muito, pois é importante ter uma sólida formação na sua área específica e uma visão geral de todas as outras. Depois, fazer uma pós-graduação com um pesquisador com interesse em Astrobio e um tema de pesquisa na área", disse.
Grandes projetos
Graças a sua característica multidisciplinar, a Astrobiologia tem projetos para todos os gostos. Na Astronomia, as grandes iniciativas estão focados na busca de exoplanetas, ou planetas orbitando estrelas fora do Sistema Solar. Em especial, o interesse é a busca de planetas parecidos com a Terra. "Com os telescópios atuais podemos apenas buscar planetas grandes, do tamanho de Júpiter, mas com a próxima geração de equipamentos, tanto os grandes telescópios em terra (telescópio de 30m, ELT, etc) quanto telescópios no espaço (Telescópio Espacial James Webb, Plato, etc) já seremos capazes de detectar planetas do tamanho da Terra.
Uma vez detectados o próximo passo será medir a composição química da possível atmosfera desses planetas, na tentativa de encontrar gases que sejam indicativos da presença de vida", explica Galante. Em Biologia, os avanços têm sido no estudo da vida como ela existe na Terra, e através dos seus limites, explicar se a vida poderia existir em outros planetas. Por isso, vários biólogos têm estudado a vida em ambientes extremos - desertos, pólos, vulcões, fundo dos oceanos, fundo da terra - pois esses organismos, os extremófilos - seriam capazes de sobreviver ao estresse imposto pelas condições espaciais ou de alguns planetas, como Marte.
Em Química, um dos grandes problemas é estudar a origem da vida e das moléculas pré-bióticas, mostrando como os átomos se organizaram para formar moléculas mais complexas e eventualmente formar um organismo vivo. Já em Ciências Espaciais há as grandes missões de exploração dos corpos do Sistema Solar, em especial Marte, para estudar sua geologia e buscar sinais da existência passada ou presente de vida.
Nasa gera expectativas
A Nasa - a agência espacial americana - criou expectativas ao anunciar para esta quinta-feira uma entrevista à imprensa sobre uma descoberta científica ligada a vida extraterrestre. Douglas Galante aposta na possibilidade do anúncio ser relativo à descoberta de um organismo - uma bactéria - capaz de usar arsênico ao invés de fósforo em seu metabolismo. "O fósforo é um elemento chave no metabolismo de todos os seres vivos terrestres, e está presente no DNA, nas proteínas e no ATP, a molécula de energia celular.
Até hoje, achava-se que ela era essencial para a existência de vida, junto com carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre (formando a sigla CHONPS). Essa descoberta mostra que a vida é ainda mais versátil do que imaginávamos, e que podem existir seres aqui na Terra completamente diferentes do que conhecemos, verdadeiros ETs vivendo entre nós. E também aumenta a possibilidade de vida fora da Terra, pois agora o arsênico também é uma opção, além do fósforo. Claro, isso vale apenas para alguns microrganismos, por enquanto", completou.
Fonte: noticias.terra.com.br
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