A fábrica de supernovas

Logo aqui ao lado, a uns 7.500 anos-luz de distância, uma verdadeira fábrica de supernovas está em pleno funcionamento. Mais ainda, ela mostra sinais de que está aumentando sua produção!  Trata-se da Nebulosa da Carina, uma região de formação de estrelas com muita massa, localizada no braço de Sagitário-Carina da nossa Galáxia. Essa região é um dos alvos favoritos dos astrônomos, sendo observada por meio de raios-X e até ondas de rádio. Estrelas com muita massa são abundantes nesta parte da Via Láctea, concentradas em aglomerados jovens, iniciando suas curtas vidas.

A Nebulosa de Carina abriga também uma personagem ilustre: Eta Carinae. Essa hóspede é na verdade um sistema duplo de estrelas com pelo menos 70 massas solares cada. De cinco em cinco anos, as duas estrelas se aproximam tanto que a interação entre elas provoca um verdadeiro “apagão” em algumas linhas do espectro. Como esse tipo de estrela tem um tempo de vida muito curto, da ordem de 5 milhões de anos, elas rapidamente queimam seu hidrogênio em elementos químicos mais pesados e logo explodem como supernovas. Com tanta “mãe” dando origem a supernovas, a Nebulosa de Carina se tornou um excelente laboratório para estudos sobre como as estrelas com muita massa se transformam em supernovas.

A própria Eta Carinae está prestes a explodir. Seria um caso de hipernova, uma explosão muito poderosa. Alguns colegas afirmam que ela será o exemplo local das explosões de raios gama que se observa no Universo, mas a distâncias gigantescas. Esses mesmos colegas garantem que estamos todos a salvo e que será apenas um grande espetáculo nos céus. Voltando à Nebulosa de Carina, uma campanha observacional intensa usando o telescópio espacial Chandra fez um levantamento detalhado da emissão de raios-X desta região. Observando a área por quase 2 semanas em 22 apontamentos diferentes, a equipe envolvida conseguiu fazer um balanço entre a emissão proveniente de 14 mil estrelas e a emissão proveniente de nuvens de gás aquecido.

A própria existência dessas nuvens aquecidas já era um indício de que a fábrica de supernovas está funcionando. No aglomerado Tr15, um dos 10 aglomerados da nebulosa, estrelas com 20 a 40 vezes a massa do Sol já não existem mais. Quanto mais massa, menor o tempo de vida. Todas elas explodiram como supernova nos últimos milhões de anos. Outro achado importante foi a detecção de seis estrelas de nêutrons, produto final das explosões das estrelas com muita massa. Estrelas de nêutrons em nebulosas como essa são raras de se encontrar. Essa pequena amostra revela não apenas como a fábrica de supernovas está ativa, como também está aumentando a produção!
Créditos: Cássio Leandro Dal Ri Barbosa

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