Universo: Teia cósmica tem fios de matéria escura
Os cálculos indicam que os filamentos que unem os aglomerados de galáxia
contêm mais da metade de toda a matéria no Universo. [Imagem: Dietrich
et al./Nature]
Eclipse científico - A virtual descoberta do bóson de Higgs praticamente eclipsou uma descoberta igualmente expressiva no campo da cosmologia. Jörg Dietrich e seus colegas da Universidade Observatório de Munique,
na Alemanha, afirmam ter detectado componentes de matéria escura entre
dois super-aglomerados de galáxias a 2,7 bilhões de anos-luz de
distância da Terra. É a primeira vez que se detecta claramente o "esqueleto" de matéria escura que permeia a teia cósmica de matéria no Universo. E, o que é mais interessante, esse esqueleto aparece justaposto com a
distribuição de matéria comum, permitindo uma comparação sem
precedentes entre as duas fontes de gravidade.
Teia cósmica - A matéria comum forma uma teia no espaço, com galáxias e aglomerados
de galáxias interligados por filamentos de gases quentes muito tênues -
mas formados por átomos de matéria comum. É necessário lembrar que, apesar de galáxias e aglomerados de
galáxias serem estruturas descomunais, a maior parte do que chamamos
"cosmos" é um imenso espaço vazio. Como esses filamentos se espalham por
distâncias imensas, os cálculos indicam que eles contêm mais da metade
de toda a matéria do Universo. Assim, um espaço aparentemente vazio ganha uma estrutura graças à presença desses filamentos. A gravidade produzida por eles, contudo, indica que esses filamentos
não podem ser feitos apenas de matéria bariônica - a nossa matéria
comum, que compõe 4% da massa do Universo. Eles possuem um fortíssimo componente de matéria escura - essa "alguma coisa" invisível que compõe 85% da massa do Universo.
Filamento de matéria escura - Mas ninguém até hoje havia conseguido identificar o componente de matéria escura de um filamento. Dietrich e seus colegas encontraram-no no filamento que une os
aglomerados Abell 222 e Abell 223 - dois aglomerados de galáxias
pertencentes ao catálogo criado pelo astrônomo George Abell em 1958, que
contém 2712 enxames de galáxias. A forte gravidade do filamento que une os dois aglomerados funciona
como uma lente para a luz que vem de galáxias mais distantes em direção à
Terra. Os pesquisadores usaram essa luz para calcular a massa e o formato do filamento. Raios X emitidos pelo gás quente de matéria comum mostram que essa
matéria está distribuída ao longo de todo o filamento, mas compondo
apenas cerca de 9% de sua massa. Simulações em computador mostraram que outros 10% de massa podem ser atribuídos às estrelas e galáxias visíveis. O resto só pode ser "parte de uma rede matéria escura que conecta aglomerados de galáxias através do Universo, disse Dietrich.
Estrutura do Universo - Astrônomos já haviam usado uma técnica semelhante para traçar um mapa da distribuição da matéria escura no interior de um outro aglomerado de galáxias, o Abell 1689. Mas esta é a primeira vez que se detecta a matéria escura nas "interligações" de matéria comum. A possibilidade de fazer um mapa mostrando matéria comum e matéria
escura juntas pode mostrar a inter-relação entre as duas e ajudar a
determinar se a matéria escura é formada por partículas "frias" (de
movimento lento) ou por partículas "quentes" (de movimento rápido). E isso serve para dar a dimensão da importância dessa observação, uma
vez que ela pode ajudar os astrofísicos a entender a estrutura do
Universo e, usando a mesma técnica, tentar descobrir o que compõe essa
substância invisível conhecida como matéria escura.
Fonte: Inovação Tecnologica
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