A descoberta inovadora confirma a existência de buracos negros supermassivos em órbita
A concepção do artista mostra dois buracos negros supermassivos, semelhantes aos observados pelos pesquisadores da UNM, orbitando uns aos outros a mais de 750 milhões de anos-luz da Terra. Crédito: Joshua Valenzuela / UNM
Pela
primeira vez, astrônomos da Universidade do Novo México (UNM) afirmam ter
conseguido observar e medir o movimento orbital entre dois buracos negros
supermassivos a centenas de milhões de anos-luz da Terra – descoberta que levou
mais de uma década para ser alcançada.
A
principal autora do trabalho é a estudante de pós-graduação do Departamento de
Física da UNM, Karishma Bansal, que deu ao estudo o título “Constraining the
Orbit of the Supermassive Black Hole Binary 0402+379”, publicado recentemente
na revista The Astrophysical. Além dela, o professor da UNM Greg Taylor,
colegas de Stanford, o Observatório Naval dos Estados Unidos e o Observatório
Gemini também analisaram a interação entre esses buracos negros durante 12
anos.
“Por
muito tempo temos buscado no espaço um par desses buracos negros supermassivos,
que orbitam como resultado da fusão de duas galáxias”, disse Taylor. “Mesmo
que, em teoria, já prevíssemos essa possibilidade, ninguém jamais havia visto
algo dessa natureza até agora”.
Procedimentos
No
início de 2016, uma equipe internacional de pesquisadores que trabalhou no
projeto Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory (LIGO Project)
detectou a existência de ondas gravitacionais, confirmando a previsão
centenária de Albert Einstein e surpreendendo a comunidade científica. Essas
ondas gravitacionais surgem como resultado da colisão, no espaço, de dois
buracos negros de massa estelar (aproximadamente 30 massas solares), segundo a
Lei de Hubble. Agora, graças a pesquisas mais recentes, cientistas poderão
compreender melhor o que leva à fusão de buracos negros supermassivos que criam
ondulações no tecido do espaço-tempo, além de aprender mais sobre a evolução
das galáxias e o papel dos buracos negros em seu interior.
Por
meio do VeryLay Baseline Array (VLBA), um sistema composto por dez
radiotelescópios nos EUA e operado em Socorro, no Novo México, os pesquisadores
conseguiram observar várias frequências de sinais de rádio emitidos por esses
buracos negros supermassivos (Supermassive Black Holes, ou SMBH). Ao longo do
tempo, os astrônomos foram capazes de traçar sua trajetória e reconhecê-los
como um sistema binário visual. Em outras palavras, eles observaram a órbita
desses buracos negros entre si.
“Quando
o Dr. Taylor me informou esses dados, eu apenas começava a aprender como
imaginá-los e entendê-los”, disse Bansal. “E, a partir de alguns dados que
existem desde 2003, nós os acompanhamos e determinamos que estão orbitando
entre si. É muito interessante”.
Duas
décadas de pesquisa
Para
Taylor, a descoberta é o resultado de mais de 20 anos de trabalho e representa
um feito incrível, dada a precisão necessária para determinar tais medidas. A
cerca de 750 milhões de anos-luz da Terra, a galáxia chamada 0402+379 e seus
buracos negros supermassivos estão incrivelmente longe de nós; mas, ao mesmo
tempo, localizam-se a uma distância ideal da Terra e entre si para que possam
ser observados.
Bansal
informa que esses buracos negros supermassivos têm, em conjunto, uma massa 15
bilhões de vezes maior do que o nosso sol, ou 15 bilhões de massas solares. O
tamanho inacreditável desses buracos negros significa que seu período orbital
leva cerca de 24 mil anos. Embora a equipe os venha analisando por mais de uma
década, ainda não foi possível detectar a curvatura mais suave de sua órbita.
“Imagine
um caracol se movendo a 1 centímetro por segundo no planeta semelhante à Terra,
descoberto recentemente, em órbita na Proxima Centauri a 4.243 anos-luz de
distância. Esse é o movimento angular que estamos decifrando por aqui”, disse o
professor de Física da Universidade de Stanford, Roger Romani, membro da equipe
de pesquisa.
“O
que conseguimos fazer é uma verdadeira conquista técnica ao longo desse período
de 12 anos, usando o VLBA para alcançar resolução e precisão o suficiente na
astrometria para de fato enxergar o movimento em órbita, disse Taylor. “Essa
conquista se deve, em grande parte, ao triunfo na tecnologia”.
O
futuro da Via Láctea
Ainda
que a realização técnica dessa descoberta seja por si só surpreendente, Bansal
e Taylor dizem que a pesquisa também pode nos ensinar muito sobre o universo,
de onde vêm as galáxias e para onde elas vão.
“As
órbitas de estrelas binárias proporcionaram descobertas interessantíssimas
sobre as estrelas”, disse Bob Zavala, astrônomo do Observatório Naval dos EUA.
“Agora, poderemos utilizar técnicas similares para entender os buracos negros supermassivos
e as galáxias onde se localizam”, afirmou.
Dar
sequência à observação da órbita e da interação desses dois buracos negros
também pode ajudar a antever melhor como e qual deve ser o futuro da nossa
galáxia. Agora, a galáxia andrômeda, que também detém um SMBH em seu centro,
está no caminho de colidir com a nossa Via Láctea. Isso significa que o
acontecimento observado por Bansal e Taylor pode ocorrer também em nossa
galáxia dentro de alguns bilhões de anos.
“Os
buracos negros supermassivos exercem uma grande influência nas estrelas à sua
volta e no crescimento e evolução da galáxia em si”, explicou Taylor. “Isso
significa que, a partir do entendimento sobre o que ocorre quando eles se
fundem um ao outro, pode-se fortalecer a nossa compreensão sobre o universo”.
Bansal
destacou que a equipe de pesquisa irá empreender outra observação desse sistema
dentro de três ou quatro anos, para confirmar o movimento e determinar uma
órbita mais precisa. Nesse intervalo, espera-se que a descoberta possa encorajar
trabalhos semelhantes de astrônomos em todo o mundo.
Fonte:
Phys.org
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