Cem bilhões de estrelas fracassadas podem estar escondidas em nossa galáxia
As anãs marrons, estrelas falhas
que não conseguiram começar a fusão nuclear e que são mais parecidas com
planetas do que com estrelas, são muito mais abundantes na nossa Via Láctea do
que os astrônomos imaginavam. Uma nova pesquisa sugere que uma enorme
quantidade de 100 bilhões deste corpos celestiais pequenos e fracos pode estar
à espreita em toda a Via Láctea.
Como a maioria das estrelas, as
anãs marrons se formam quando nuvens de gás interestelar e poeira colapsam sob
sua própria gravidade. Nas estrelas de sequência principal, como o nosso sol, o
calor e a pressão inflamam o núcleo através da fusão nuclear. Mas algumas
estrelas aspirantes nunca alcançam esse ponto: em vez disso, elas entram em um
estado estável antes que a fusão possa começar.
Sem fusão, essas estrelas
falhadas não emitem muita luz, e podem ser difíceis de observar para os
astrônomos. Este novo estudo tenta identificar a quantidade de anãs marrons que
se escondem na Via Láctea, revelando um número que é muito maior do que o esperado.
Estudos anteriores determinaram
que há cerca de seis estrelas para cada anã marrom em nossa vizinhança cósmica.
Esses estudos apenas analisaram anãs marrons dentro de uma faixa de cerca de
1.500 anos-luz da Terra, onde objetos tão fracos e pequenos são mais fáceis de
detectar. No entanto, toda a Via Láctea abrange uma distância muito maior, de
cerca de 100.000 anos-luz, e nossa vizinhança não é exatamente representativa
de toda a galáxia.
Três vezes mais
Usando observações do espaço
profundo feitas no Very Large Telescope do European Southern Observatory no
norte do Chile, uma equipe internacional de astrônomos pesquisou grupos de
estrelas na Via Láctea para determinar o quão comum esses objetos realmente
são. O time, liderado por Koraljka Muzic, da Universidade de Lisboa, em
Portugal, e Aleks Scholz, da Universidade de St Andrews, na Escócia, começou a
buscar anãs marrons em regiões próximas de formação de estrelas em 2006.
Enquanto eles estavam conduzindo
sua pesquisa “Substellar Objects in Near Young Clusters” (SONYC), os
pesquisadores descobriram que o conjunto de estrelas NGC 1333 continha um
número excepcionalmente alto de anãs marrons. Em vez de uma anã marrom por cada
seis estrelas, cerca de um terço das estrelas neste conjunto de estrelas são
anãs marrons – três vezes a estimativa anterior.
A princípio, eles não tinham
certeza se o NGC 1333 era apenas um ponto bizarro cheio de anãs marrons ou se
essa observação tinha maiores implicações. Assim, os pesquisadores expandiram
sua pesquisa para examinar um pedaço maior da Via Láctea. Eles então viraram o
telescópio para outro grupo de estrelas chamado RCW 38, que fica a 5.500
anos-luz de distância, na constelação de Vela. Este grupo não só está
aproximadamente cinco vezes mais distante da Terra do que as regiões
previamente pesquisadas, mas também é mais densamente povoado, com astros
maiores e brilhantes.
Para detectar as anãs marrons no
RCW 38, os pesquisadores usaram uma câmera especial de ótica adaptativa no Very
Large Telescope do European Southern Observatory chamada NACO. Este instrumento
combina duas tecnologias: o Nasmyth Adaptive Optics System (NAOS), que
neutraliza a distorção causada pela turbulência na atmosfera da Terra, e o
Near-Infrared Imager and Spectrograph (CONICA), uma câmera e espectrômetro
infravermelho. Como as anãs marrons emitem luz vermelha e infravermelha, essas
tecnologias permitiram que os pesquisadores observassem os objetos distantes,
fracos e minúsculos escondidos entre uma multidão de estrelas grandes e
brilhantes.
Mais uma vez, os pesquisadores
contaram cerca de um terço de anãs marrons em RCW 38. “Isso está de acordo com
os valores encontrados em outras regiões jovens formadoras de estrelas, não
deixando evidências de diferenças ambientais na eficiência da produção de anãs
marrons e estrelas de massa muito baixas possivelmente causadas por altas
densidades estelares ou presença de numerosas estrelas maciças “, escreveram os
autores do estudo em um documento de pesquisa.
“Nós encontramos muitas anãs
marrons nesses aglomerados. E seja qual for o tipo de aglomerado, as anãs
marrons são realmente comuns”, disse Scholz em um comunicado. “Anãs marrons se
formam ao lado de estrelas em cachos, então nosso trabalho sugere que há uma
enorme quantidade de anãs marrons lá fora”.
Os pesquisadores determinaram que
o número mínimo de anãs marrons na Via Láctea está em algum lugar entre 25
bilhões e 100 bilhões. Mas há provavelmente muito mais do que isso, os
pesquisadores suspeitam, porque há muitas mais anãs marrons na galáxia que são
muito pequenas e fracas para serem detectadas nos telescópios de hoje.
Fonte: HypeScience.com
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