O futuro do sol
Quando olhamos para as estrelas, temos a impressão de que elas não mudam nunca, que estão sempre do mesmo jeito. Isso não é verdade: como vimos em um artigo anterior ("As três mortes das estrelas",
Ciência Hoje das Crianças, no. 20), as estrelas "nascem" e :"morrem", só que isso demora muito tempo (milhões ou bilhões de anos). Como vivemos pouco em relação à "vida" das estrelas, não conseguimos acompanhar as mudanças.
O
Sol também é uma estrela e por isso vai morrer um dia. Quando e como isso
acontecerá é uma questão que os astrônomos tentam resolver. Para chegar a esta
resposta, eles criaram uma teoria, com a qual podemos entender a formação de
uma estrela, o que ocorre com ela ao longo do tempo, as mudanças de brilho e
tamanho, e várias outras coisas.
Algumas
pessoas perguntam como se pode ter certeza de que a teoria está certa, já que,
em geral, não podemos perceber as mudanças nas estrelas. Felizmente, podemos
observar muitas estrelas, com várias idades diferentes. É como se um
extraterrestre visitasse a Terra por um dia apenas: ele não poderia ver as
pessoas crescendo, já que em um dia não crescemos muito, mas poderia observar
que existem bebês, crianças, adolescentes, adultos e velhos. Com um pouco de
imaginação, ele poderia entender como é a vida dos seres humanos.
No
começo, o Sol era uma gigantesca nuvem de gás e poeira, muitas vezes maior que
o sistema solar hoje. Essa nuvem foi se contraindo e se tornando mais densa,
até se transformar em uma verdadeira estrela. Isso demorou cerca de 50 milhões de
anos.
A
partir de então, o Sol entrou em uma fase bem tranquila, na qual ainda se
encontra. Seu tamanho e sua temperatura quase não mudam. Pouco varia também a
quantidade de energia que elem emite para o espaço em cada segundo, o que
chamamos "luminosidade".
Isso
nos interessa muito, porque a vida na Terra depende da energia que vem do Sol:
se ela aumentar ou diminuir muito, mudanças profundas e até catastróficas vão
acontecer. Essa fase de "tranquilidade" deve durar, no total, cerca
de 11 bilhões de anos. Como ela se iniciou há cerca de 4,5 bilhões de anos, o
Sol ainda tem pela frente aproximadamente 6,5 bilhões de anos de tranquilidade.
Mas,
para nós da Terra, essa fase não será tão calma assim, porque a luminosidade do
Sol sempre aumenta, ainda que de forma lenta, e deverá dobrar ao final dos 11
bilhões de anos. Ficando mais brilhante, o Sol vai aquecer mais a Terra. Com
mais calor, toda a água do nosso planeta vai evaporar. Não sabemos exatamente
quando isso vai acontecer, mas poderá ser em pouco mais de 3 bilhões de anos,
dependendo da quantidade de nuvens, porque elas absorvem parte da energia que
vai para a Terra.
O
que mantém o Sol nessa fase tranquila é a queima de um elemento que está em seu
interior (núcleo), chamado hidrogênio. Após 11 bilhões de anos, esse hidrogênio
vai acabar. Com a interrupção da produção de energia, o núcleo não conseguirá
suportar o peso das camadas mais externas e sofrerá um colapso, o que aumentará
muito a sua temperatura.
Então, a "fornalha" funcionará outra vez, queimando o hidrogênio que existe nas camadas próximas ao núcleo. Esse processo é tão violento que empurrará as camadas externas do Sol para fora, transformando-o em uma estrela gigante.
Essa
fase é mais rápida que a anterior e irá durar "apenas" pouco mais de
1 bilhão de anos. Nessa fase, o Sol alcançará uma luminosidade 2 mil vezes
maior que a atual e um diâmetro quase 200 vezes maior que o presente. Com um
diâmetro tão grande, a superfície total por onde escapa a energia emitida pelo
Sol fica enorme, de modo que essa superfície esfria um pouco, mesmo que a
luminosidade do Sol esteja aumentando.
A
temperatura da superfície ficará, então, próxima dos 3 mil graus, quase a
metade do valor que tem hoje. Muito grande, avermelhado e frio, o Sol será,
então, uma estrela gigante vermelha.
A
fase de gigante vermelha não será muito sossegada: o hidrogênio das camadas
próximas ao núcleo também se esgotará e o Sol passará a queimar um novo
elemento, o hélio. Essa queima ocorre por meio de pulsos, ou seja, em episódios
rápidos. O brilho e o tamanho do Sol vão variar muito, sempre em valores mais
altos que os atuais. Nessa fase do Sol, os planetas vão sofrer várias
alterações.
Por
exemplo, Mercúrio, que é o planeta mais próximo do Sol (cerca de 60 milhões de
quilômetros), será completamente engolido. Quanto aos planetas seguintes, Vênus
e Terra, não temos certeza do que acontecerá. O destino desses dois planetas
dependerá basicamente da quantidade de matéria que o Sol irá perder daqui para
a frente.
A
perda de matéria é algo que acontece com todas as estrelas, mais ou menos como
em um regime de emagrecimento. Por exemplo, atualmente podemos observar
partículas muito pequenas vindas do Sol, que formam o chamado "vento
solar". Outras estrelas, como as gigantes vermelhas, perdem uma quantidade
muito grande de matéria.
Existem
várias causas para que as estrelas percam massa. No caso do Sol, os astrônomos
sabem há muito tempo que ele tem uma região muito quente, com temperaturas de
milhões de graus, chamada "coroa solar". Sendo tão quente, essa coroa
está se evaporando, e o resultado é o vento solar. Já as estrelas gigntes são
muito luminosas e a própria luz pode empurrar parte da massa para fora da
estrela.
E
o que tem a ver a perda de matéria com as órbitas (caminho que os planetas
fazem em torno do Sol) dos planetas? A resposta é simples: os planetas, como
Vênus e Terra, têm órbitas situadas a uma distância que depende da massa do
Sol. Quanto menor essa massa, maior a distância do planeta em relação ao Sol.
Assim, se o Sol perder muita matéria na fase gigante, Vênus e Terra
"fugirão" para órbitas mais distantes e não serã destruídos.
Caso
contrário, um processo semelhante ao de Mercúrio ocorrerá com esses dois
planetas. Para poder esclarecer melhor essa questão, os astrônomos precisam
ainda pesquisar muito sobre o processo de perda de massa e sua influência na
evolução das estrelas.
No
final da fase de gigante vermelha, o Sol ficará muito instável e perderá
praticamente de uma vez só todas as suas camadas externas. Essas camadas vão
expandir-se pelo espaço, na forma de um dos objetos mais bonitos que podemos
observar: uma nebulosa planetária.
A
nebulosa será muito brilhante, porque será iluminada pela parte que restou do
interior do Sol, que é muito quente.Essa fase dura menos que a anterior. Em
apenas 100 mil anos o Sol passa de uma estrela gigante fria a uma estrela
pequena e quente, uma "anã branca". Então, esgotados seus principais
combustíveis nucleares, o hidrogênio e o hélio, não haverá mais produção de
energia. O Sol irá esfriar calmamente até se transformar em uma "anã
negra", espécie de cinza invisível no céu.
Fonte: astro.iag.usp.br
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