O que se passa com o universo?
No dia 22 de janeiro, a NASA
anunciou o resultado de uma pesquisa que vai mexer com a ideia que temos do
nosso universo. É que uma equipe de astrônomos, usando o telescópio espacial
Hubble, apresentou a melhor medida da taxa de expansão do universo jamais
obtida. Essa taxa, chamada de constante de Hubble, começou a ser medida pelo
próprio Edwin Hubble há uns cem anos e ela expressa a velocidade em que as
galáxias se afastam umas das outras. Do jeito que ela é calculada a partir de
medidas precisas da velocidade de galáxias, é possível obter a idade do
universo.
Desde que foi proposta nesses
moldes, cosmólogos observacionais procuram obter o valor da constante de Hubble
justamente para saber como o universo se expande e qual sua idade. O grande
problema é com a precisão das medidas das distâncias até as galáxias. Durante
muito tempo, o erro nessas medidas era muito alto, levando a dois valores
possíveis: e um era o dobro do outro! Alguns astrônomos acharam 50 km/s por
megaparsec (uma unidade de distância equivalente a 3,2 milhões de anos luz),
enquanto outros afirmavam que era 100 km/s por megaparsec. Isso dava ao
universo uma idade que poderia ser de 10 bilhões de anos, mas como também
poderia ser de 20 bilhões de anos.
Um dos principais objetivos do
Hubble (o telescópio) era melhorar a precisão das medidas da taxa de expansão
para resolver essa questão de uma vez por todas. Mas como ele demorou demais
para ser lançado, por vários motivos, essa questão acabou fechada por
telescópios em terra mesmo e o valor ficou mais ou menos na metade da distância
entre um valor e outro, tipo uns 75 km/s por megaparsec. Hoje em dia, com o uso
de diferentes técnicas e diferentes marcadores de distâncias, os valores estão
próximos de 70 km/s e todos concordam entre si dentro das margens de erro, que
não são mais de 100%! Isso dá uma idade de 13,8 bilhões de anos para o
universo.
Só que parece que tem alguma
coisa fora da ordem com o universo.
O satélite Planck, da agência
espacial europeia ESA, mediu a constante de Hubble a partir da radiação de
microondas que permeia o universo. Chamada de radiação cósmica de fundo, ela é
um resquício do Big Bang e compõe um retrato de como era o universo quando a
idade dele era de 380 mil anos apenas. Mais ou menos nessa idade a constante de
Hubble era de 67, no máximo 69, km/s por megaparsec. Até aí, tudo certo, isso é
compatível com as medidas obtidas até agora através da observação de estrelas e
supernovas.
Mas aí vieram Adam Riess e sua
equipe para melar tudo.
Riess é um dos descobridores da
famigerada e misteriosa energia escura que compõe uns 72% do universo e o faz
acelerar misteriosamente. Por esse feito, dividiu o Nobel de física em 2011.
Ele e sua equipe desenvolveram uma técnica nova para medir a distância de
estrelas usadas desde os tempos de Hubble (o astrônomo) para medir a distância
até as galáxias, as variáveis Cefeidas. Calibrando as relações de brilho
nas Cefeidas da nossa galáxia usando o Hubble (o telescópio) de uma maneira que
ninguém nunca tinha pensado na época da sua construção, Riess e sua equipe
obtiveram um método de medida de distâncias muito mais preciso para as galáxias
distantes. Ao obterem novas medidas de distância
e velocidade, chegaram a uma constante de Hubble de 73 km/s por megaparsec.
A diferença é pequena, mas seu
efeito pode ser devastador.
A medida do Planck (67 km/s) foi
obtida de um universo com menos de 380 mil de anos de idade e a medida de Riess
(73 km/s) foi obtida de um universo já mais velho, mas os dois valores não
deveriam ser assim tão diferentes. Isso indica que o universo se comportou de
maneira bem diferente do previsto pelas teorias durante sua infância. Alguma
coisa desconhecida teria agido no sentido de acelerar o universo, numa época
que a energia escura ainda não era forte o suficiente para fazer isso.
E o que poderia ter feito isso?
Ninguém sabe. Riess propôs a
introdução de uma radiação escura, desconhecida até o momento, que incluiria
até uma nova classe de neutrinos. Aí nosso universo seria constituído de
energia escura, matéria escura e radiação escura e tudo sem explicação, a gente
só conhece seus efeitos. Mas seria muito mais plausível pensar que a própria
energia escura esteja por trás disso. Ninguém conhece suas propriedades para
afirmar que ela agiu da mesma maneira durante os quase 14 bilhões de anos do
universo.
Pelo visto, Riess tem o dom de
complicar as coisas para os resto dos astrônomos, mas por outro lado suas
descobertas vão manter muita gente ocupada. Ele e sua equipe vão continuar com
o projeto para ampliar o número de galáxias usadas para medir a constante de
Hubble, mas eu queria mesmo é que os teóricos começassem a se mexer para
explicar mais esse fato bizarro, de preferência sem enfiar mais nada escuro ou
partículas exóticas e desconhecidas para costurar a teoria. Mas enfim, o
universo não precisa fazer sentido para nós então é melhor se conformar que as
coisas podem ser esquisitas mesmo...
Créditos : Cássio Barbosa - g1
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!