Eta Carinae: os segredos da maior explosão estelar que não resultou em uma supernova
Imagem colorida tirada com a câmera WFPC2 do Hubble Space Telecope, mostrando a nuvem em forma de haltere de gás e poeira ao redor da estrela. Esta nebulosa contém mais de 10 vezes a massa do nosso Sol, que foi ejetado por Eta Carinae na Grande Erupção do século XIX. Crédito: N. Smith (U. Arizona) e NASA.
Imagine viajar para a lua em apenas
20 segundos. É nessa velocidade que o material de uma erupção se afastou do
instável e extremamente massivo sistema estelar Eta Carinae, 170 anos atrás. Quando gás é lançado tão rápido assim,
resulta na completa aniquilação da estrela. Eta Carinae sobreviveu, no entanto,
o que torna esse o gás mais rápido já medido a partir de uma explosão estelar
que não levou a uma supernova na história.
A explosão
Eta Carinae é a estrela mais
luminosa conhecida em nossa galáxia. A explosão liberou quase tanta energia
quanto uma supernova típica, que teria deixado para trás um cadáver estelar. Nos
últimos sete anos, uma equipe de astrônomos liderada por Nathan Smith, da
Universidade do Arizona, e Armin Rest, do Instituto de Ciência do Telescópio
Espacial, nos EUA, têm determinado a extensão dessa explosão, observando ecos
de luz de Eta Carinae e seus arredores.
Os ecos ocorrem quando a luz de
eventos brilhantes e de curta duração é refletida por nuvens de poeira, que
atuam como espelhos distantes redirecionando-a em nossa direção. Como um eco de
áudio, o sinal de chegada da luz refletida tem um atraso após o evento
original, devido à velocidade finita da luz.
No caso de Eta Carinae, o evento brilhante foi uma grande erupção que
expeliu uma enorme quantidade de massa em meados do século XIX. O sinal tardio
desses ecos permitiu que os astrônomos decodificassem a luz da erupção com
telescópios e instrumentos astronômicos modernos, embora o episódio original
tenha sido visto da Terra centenas de anos atrás.
Estudando o evento
A grande erupção promoveu
temporariamente Eta Carinae para a segunda estrela mais brilhante visível em
nosso céu noturno, superando a luz de todas as outras estrelas da Via Láctea.
Material equivalente a cerca de dez vezes mais do que a massa do sol foi
expelido, o que também formou a intensa nuvem de gás conhecida como Homunculus
em torno da estrela.
Este remanescente é visível até por
pequenos telescópios amadores a partir do hemisfério sul e das regiões
equatoriais, mas é melhor observado em imagens obtidas com o Telescópio
Espacial Hubble. Para decodificar os ecos de luz da
erupção em si, a equipe usou instrumentos do Observatório Gemini (Havaí), do
Telescópio Blanco do Observatório Interamericano Cerro Tololo (Chile), e do
Telescópio Magellan do Observatório Las Campanas (Chile).
Com os dados, os pesquisadores
puderam fixar a velocidade da explosão: entre 10.000 e 20.000 quilômetros por
segundo. “Nós vemos essas velocidades realmente altas o tempo todo em explosões
de supernovas onde a estrela é obliterada. No entanto, neste caso, a estrela
sobreviveu. Algo deve ter despejado muita energia nela em um curto espaço de
tempo”, explicou Smith.
A hipótese
O material expulso por Eta Carinae
está viajando até 20 vezes mais rápido do que o esperado de erupções típicas de
uma estrela massiva. Os cientistas acreditam que a ajuda de duas estrelas
parceiras pode explicar o fluxo extremo. A maneira mais direta de explicar
simultaneamente a ampla gama de fatos observados em torno da erupção e do
sistema remanescente é uma interação de três estrelas, incluindo um evento
dramático em que duas delas se fundiram em uma estrela monstro. Se for esse o caso, então o sistema
binário atual deve ter começado como um sistema triplo, com uma daquelas duas
estrelas sendo a que engoliu sua irmã.
Importância
Compreender a dinâmica e o ambiente
em torno das maiores estrelas da nossa galáxia é uma das áreas mais difíceis da
astronomia. Estrelas muito massivas têm vidas curtas comparadas a estrelas como
o nosso sol. Capturar uma no ato de uma grande etapa evolutiva é
estatisticamente improvável. É por isso que um caso como o de Eta Carinae é tão
importante.
Eta Carinae é um tipo de estrela
instável conhecida como “variável luminosa azul”, localizada a cerca de 7.500
anos-luz. É uma das mais brilhantes da nossa galáxia, cerca de cinco milhões de
vezes mais do que o sol, com uma massa cerca de cem vezes maior. Também tem a
maior taxa conhecida de perda de massa antes de passar por uma explosão de
supernova.
A quantidade de massa expelida na
grande erupção de Eta Carinae no século XIX excede todas as outras conhecidas.
Ela provavelmente sofrerá uma verdadeira explosão de supernova nos próximos
meio milhão de anos, possivelmente muito mais cedo. Isso porque outras
supernovas observadas passaram por erupções semelhantes apenas alguns anos ou
décadas antes de sua morte.
Os resultados do estudo foram
publicados em dois artigos na revista científica Monthly Notices of the Royal
Astronomical Society. [ScienceDaily]
Fonte: hypescience.com
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