Físicos recriam “buracos negros” em laboratório com uma simplicidade surpreendente
Em um laboratório da Universidade
de Nottingham, no Reino Unido, pesquisadores estão estudando buracos negros
usando nada mais que um tanque de água colorida com tinta verde e um ralo. Em colaboração com físicos da
Universidade Federal do ABC, no Brasil, essa configuração ajuda os cientistas a
identificar padrões de onda na água circulando em direção ao dreno, o que
poderia nos ajudar a entender os sons feitos por um buraco negro recém-nascido.
Como assim?!
Quando os buracos negros se
fundem e formam buracos negros ainda maiores, todo o universo escuta: o espaço
“murmura” uma melodia chamada de modo quasinormal. Esse som contém pistas sobre as
características do novo buraco negro, como sua massa e momento angular.
Estudar esse modo tem se tornado
importante na física, com avanços contínuos na astronomia das ondas
gravitacionais. Os pesquisadores estão ansiosos para extrair o máximo de
detalhes que podem da maneira como o espaço “treme” e “ondula” após essas
colisões cósmicas.
Retirar informações de um modo
quasinormal, contudo, requer conhecer detalhes sobre como a energia se dissipa
em um campo e como certas características dos padrões de onda mudam ou
persistem com o tempo.
Vorticidade e água
Uma coisa que potencialmente
afeta as características de uma onda é a vorticidade, uma grandeza física usada
para quantificar a rotação das partículas de um fluido em movimento. Na maioria dos modelos simples
que descrevem as oscilações de um buraco negro, assume-se que o espaço é pouco
mais que um fundo silencioso através do qual ondas ondulam, significando que
sua vorticidade não é normalmente levada em conta.
Isso pode não fazer muita
diferença, ou pode ser significativo. Como não podemos olhar de perto esses
redemoinhos do espaço-tempo para descobrir, os pesquisadores decidiram examinar
modos quasinormais em outras plataformas. A água não é necessariamente a
metáfora perfeita para o espaço-tempo, mas os fundamentos funcionam bem. A
analogia tem seu embasamento em trabalhos teóricos conduzidos pelo físico
canadense William “Bill” Unruh há quase 40 anos, que provaram que as equações
hidrodinâmicas são uma combinação próxima para descrever a gravidade em torno
de massas de tamanho suficiente.
As descobertas
Longe de um dreno, ondas em uma
superfície tendem a se mover mais rápido que a corrente, permitindo que ondulem
virtualmente em qualquer direção. No entanto, à medida que a água
flui para o equivalente a um buraco negro, ela ganha velocidade, “bagunçando”
os padrões de onda.
“A velocidade do fluido é muito
maior do que a velocidade da onda, então as ondas são arrastadas pelo fluxo de
água mesmo quando estão se propagando na direção oposta”, disse o físico
Maurício Richartz à Agência FAPESP. Medindo as oscilações, os
cientistas descobriram padrões que se sustentaram por longos períodos perto da
borda do vórtice, estados que refletiam características do buraco negro, como
seu tamanho e ângulos.
Próximos passos
Essas oscilações não eram mais
modos quasinormais, mas um padrão diferente conhecido como “estados quase-ligados. Os pesquisadores esperam criar
intencionalmente mais desses estados de energia “quase ligados” sob diferentes
condições, e estudar suas implicações para buracos negros rotativos.
Os achados da pesquisa foram
publicados em um artigo na revista científica Physical Review Letters.
Fonte: Hypescience.com
[ScienceAlert]
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