Detectado pela primeira vez um sistema de enxames globulares no disco de uma galáxia.
Imagens a cores falsas de M106. A figura combina dados de hidrogénio neutro, obtidos com o WSRT (Westerbrook Synthesis Radio Telescope), a azul, com imagens óticas obtidas com o CFHT a verde e vermelho. Os círculos amarelos realçam os enxames globulares observados, dispostos num disco que gira em fase e à mesma velocidade que o gás neutro.Ilustração e design: Divakara Mayya (INAOE)
Um
estudo internacional realizado com o instrumento OSIRIS acoplado ao GTC (Gran
Telescopio Canarias) descobriu, na galáxia espiral Messier 106, um sistema de
enxames globulares cuja distribuição e movimento invulgares, que estão
alinhados com o disco da galáxia e que giram à mesma velocidade, mostram que
pode ser uma relíquia da época de máxima formação estelar no Universo, o
"meio-dia cósmico". Os resultados foram publicados na revista The
Astrophysical Journal.
Os
enxames globulares têm entre cem mil e um milhão de estrelas, cujos componentes
são aproximadamente da mesma idade e têm uma composição química semelhante. São
objetos muito antigos, formados há cerca de 11,5 mil milhões de anos, 2,3 mil
milhões de anos após o Big Bang. Estes enxames podem normalmente ser
encontrados em galáxias grandes, nos seus halos, distribuídos esfericamente em
torno dos seus centros.
Uma
investigação internacional, liderada por um grupo da Universidade Nacional
Autónoma do México e realizada com o instrumento OSIRIS do Gran Telescopio
Canarias (GTC), descobriu na galáxia espiral Messier 106 (também conhecida como
M106 ou NGC 4258) enxames globulares que, em vez de estarem distribuídos numa
esfera, parecem estar dispostos num disco alinhado com o disco de gás da
galáxia e a girar aproximadamente à mesma velocidade neste disco.
"Nunca
vimos isto antes, é uma daquelas descobertas totalmente inesperadas e
surpreendentes que ocorrem na ciência," explica Rosa Amelia
González-Lópezlira, investigadora do Instituto de Radioastronomia e Astrofísica
da mesma universidade mexicana, que liderou este trabalho.
"A maneira como
estes enxames se movem, e a sua distribuição, é semelhante aos discos de
galáxias durante o período de máxima formação estelar, há cerca de 10 mil
milhões de anos atrás, no que é conhecido como 'meio-dia cósmico', de modo que
pensamos que o disco de enxames em M106 possa ser um remanescente daquela
época."
O poder do GTC e do OSIRIS
Os
dados obtidos com o instrumento OSIRIS, acoplado ao GTC no observatório Roque
de los Muchachos, foram de importância extrema, sobretudo para confirmar os
candidatos a enxames globulares e para distingui-los de outras fontes pontuais
aparentes como estrelas e galáxias distantes. Para fazer isso, é necessário
obter espectros para mostrar que cada enxame tem uma população coeva de
estrelas antigas e que realmente pertence à galáxia em estudo.
Para
Divakara Mayya, investigador do INAOE (Instituto Nacional de Astrofísica,
Óptica y Electrónica), no México, e segundo autor do artigo, "as
observações do GTC e do OSIRIS são essenciais para o sucesso do estudo, dado
que os objetos estão bem distantes e requerem exposições de mais de uma hora
com o maior telescópio ótico-infravermelho do mundo a fim de extrair as
informações relevantes dos espectros".
O
instrumento OSIRIS (Optical System for Imaging and low-Intermediate-Resolution
Integrated Spectroscopy) é um espectrógrafo multiobjecto construído no IAC
(Instituto de Astrofísicas das Canárias) em colaboração com o México, que é
capaz de observar vários objetos de cada vez.
"Ter esta capacidade de
multiplexação, a de obter vários espectros simultaneamente, é fundamental para
este tipo de estudo, e está disponível em três dos atuais instrumentos do GTC,
abrangendo o ótico e o infravermelho," explica Antonio Cabrera, chefe de
operações científicas no GTC. Para este trabalho, foram observados, em dois
campos, 23 enxames globulares candidatos.
Este
artigo é um resultado de um projeto mais amplo que estudará os sistemas de
enxames globulares em nove galáxias espirais num raio de 52 milhões de
anos-luz, a fim de examinar a relação entre o número de enxames globulares e a
massa do buraco negro central nas galáxias espirais.
"Esta relação é muito
forte para galáxias elípticas, mas não é tão clara para galáxias espirais, como
a Via Láctea," comenta a cientista Lópezlira. "As nove galáxias que
planeamos estudar têm boas estimativas de massas para os seus buracos negros
centrais e ficam a distâncias onde podemos fazer bons estudos dos seus enxames
globulares."
Este
estudo recente confirma que existe uma correlação entre o número de enxames
globulares e a massa do buraco negro central de M106 e confirma a precisão do
método fotométrico usado no GTC. "Os estudos deste tipo, em mais galáxias
espirais, podem esclarecer o papel das diferentes hipóteses propostas para a
construção das galáxias, dos enxames globulares e dos buracos negros
centrais," conclui a autora principal do artigo.
Fonte: Astronomia OnLine
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