Missão espacial TESS descobre cinco estrelas raras
Variações de brilho da estrela roAp TIC
237336864, observada pelo satélite TESS. O brilho da estrela varia com duas
escalas de tempo diferentes. A variação do brilho na escala mais longa (cerca
de 4,2 dias), representada no gráfico principal, permite identificar o período
de rotação e resulta da passagem de manchas químicas pela linha de visão do
observador, à medida que a estrela roda. No destaque vê-se a variação do brilho
na escala mais curta (cerca de 7,4 minutos), resultante das sucessivas
expansões e contrações da estrela que se repetem com o período característico
das oscilações desta estrela.Crédito: Daniel Holdsworth (Instituto Jeremiah
Horrocks, U. de Central Lancashire)
Uma equipe
internacional, liderada pela investigadora do Instituto de Astrofísica e
Ciências do Espaço (IA) Margarida Cunha, recorreu a técnicas asterossísmicas
para procurar oscilações num subgrupo de cinco mil estrelas, entre as 32 mil
observadas em cadência curta nos primeiros 2 setores (aproximadamente, os 2
primeiros meses de operações científicas) do satélite TESS da NASA, e descobriu
cinco raras estrelas roAp. Estes resultados5 foram aceites para publicação na
revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
As estrelas
peculiares de oscilação rápida, ou estrelas roAp, são objetos estelares raros.
Constituem um subgrupo das estrelas peculiares magnéticas (estrelas Ap), estas
últimas caracterizadas por manchas químicas onde a abundância de terras-raras,
em particular dos elementos Si, Cr, Eu, pode ser até um milhão de vezes
superior à presente no Sol. As estrelas Ap têm campos magnéticos fortes e uma
pequena fração das mesmas, as roAp, oscilam com frequências semelhantes às
observadas no Sol.
Nestes dados, a
equipa encontrou o mais rápido oscilador roAp, que completa uma pulsação a cada
4,7 minutos. Duas destas cinco estrelas são particularmente desafiadoras à luz
do conhecimento atual da área, uma porque é menos quente do que a teoria prevê para
estrelas roAp e a outra porque oscila com uma frequência inesperadamente alta.
Margarida Cunha,
a primeira autora do artigo (IA e Universidade do Porto) explica a importância
de estudar estas estrelas: "Os dados do TESS mostram que as estrelas roAp
são raríssimas, representando menos de 1% de todas as estrelas de temperatura
semelhante. A importância da sua descoberta reside no facto de elas serem
autênticos laboratórios estelares. Permite-nos testar teorias relativas a
fenómenos físicos fundamentais no contexto da evolução das estrelas, tais como
a difusão de elementos químicos e a sua interação com campos magnéticos
intensos."
Ao fazer uma
análise detalhada de 80 estrelas previamente conhecidas por serem quimicamente
peculiares, a equipa descobriu ainda 27 novas variáveis rotacionais Ap. Nestes
casos, o brilho varia à medida que cada estrela roda, devido à passagem de
manchas químicas pela linha de visão do observador.
Para Daniel
Holdsworth, do Instituto Jeremiah Horrocks da Universidade de Central
Lancashire, estas observações do TESS: "permitem-nos estudar este tipo
raro de estrelas de uma forma homogénea. Podemos finalmente comparar cada
estrela com as restantes, sem precisar de tratar os dados de uma forma
especial. Com a continuação da missão TESS, que irá fazer uma cobertura quase
total do céu, teremos a capacidade de descobrir muitas mais estrelas
peculiares. A comparação entre elas vai permitir-nos testar e refinar os mais
recentes modelos teóricos, que tentam explicar a origem das oscilações."
A equipe também
obteve dados fotométricos de alta precisão para sete estrelas roAp, conhecidas
previamente a partir de observações terrestres. Para quatro destas estrelas,
foi ainda possível restringir o ângulo de inclinação (o ângulo de inclinação é
o ângulo definido pelo eixo de rotação da estrela e a direção do observador.) e
a obliquidade magnética (ângulo definido pelo eixo de rotação e o eixo do campo
magnético da estrela). Margarida Cunha, membro do comité executivo do TESS
Asteroseismic Science Consortium (TASC) acrescenta: "
Os processos físicos
que levam à segregação de elementos químicos, como a difusão, estão entre os
mais difíceis de modelar no contexto da física estelar. Esta descoberta de
novas estrelas roAp pelo TESS, assim como a observação a partir do espaço de
estrelas deste tipo previamente conhecidas, serão fundamentais para avançar o
conhecimento nesta matéria."
Para Victoria
Antoci, do Centro de Astrofísica Estelar da Universidade de Aarhus: "É
fascinante perceber que temos hoje mais estrelas do tipo roAp suficientemente
brilhantes para serem seguidas a partir de telescópios relativamente
acessíveis, localizados na Terra. Para compreendermos a física destas estrelas
na sua totalidade, é importante complementar os dados que agora temos com
informação sobre os seus campos magnéticos e sobre a composição química das
suas atmosferas. Estas estrelas têm campos magnéticos fortes, que podem ir até
25 kiloGauss, ou seja, cerca de 250 vezes a intensidade dos ímanes que temos
nos nossos frigoríficos."
Estes novos
resultados só se tornaram possíveis com o TESS porque este satélite observa
continuamente as estrelas por períodos de pelo menos 27 dias e sem a
interferência da atmosfera da Terra, algo que não é possível aos observatórios
à superfície do nosso planeta.
Fonte: Astronomia OnLine
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