Onde nascem as novas estrelas? O Telescópio Webb vai investigar
Esta é uma imagem, pelo Hubble, da galáxia SDSS J1226+2152, que
está a ser ampliada e distorcida pela imensa gravidade de um enxame de galáxias
à sua frente. É uma de quatro galáxias com formação estelar que a equipa
TEMPLATES vai estudar com o Webb. A equipa escolheu-a como um exemplo de uma
galáxia que não tem muita poeira. Crédito: NASA, ESA, STScI e H. Ebeling
(Universidade do Hawaii)
Quando
se trata de produzir novas estrelas, a "festa" está no fim para o
Universo atual. Na verdade, está quase no fim há milhares de milhões de anos. A
nossa Via Láctea continua a formar o equivalente a um Sol todos os anos. Mas,
no passado, esse ritmo era até 100 vezes maior. De modo que se quisermos
realmente entender como as estrelas como o nosso Sol se formaram no Universo,
precisamos de olhar milhares de milhões de anos para o passado.
Usando
o Telescópio Espacial James Webb da NASA como uma espécie de máquina do tempo,
uma equipa de investigadores pretende fazer exatamente isso. Liderada pela
investigadora Jane Rigby do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em
Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland, e por Joaquin Vieira da
Universidade de Illinois, Champaign, a equipa aproveitará os telescópios naturais
e cósmicos chamados lentes gravitacionais. Estes grandes objetos celestes
ampliam a luz de galáxias distantes que estão no pico da formação estelar.
O
fenómeno das lentes gravitacionais ocorre quando uma enorme quantidade de
matéria, como uma galáxia gigante ou enxame galáctico, cria um campo
gravitacional que distorce e amplia a luz de objetos por trás, mas na mesma
linha de visão. O efeito permite que os cientistas estudem os detalhes das
primeiras galáxias demasiado longe para serem vistas de outra forma, mesmo com
os telescópios espaciais mais poderosos.
"Estamos
a estudar quatro galáxias que parecem muito, muito mais brilhantes do que
realmente são, porque foram ampliadas até 50 vezes. Usaremos lentes
gravitacionais para estudar como essas galáxias estão a formar as suas
estrelas, e como essa formação estelar é distribuída pelas galáxias,"
explicou Rigby.
"O
lado bom de usar fontes que sofrem o efeito de lente gravitacional é que é como
uma lupa cósmica, onde a galáxia é esticada, aumentando assim a resolução do
seu telescópio," explicou Vieira.
O
programa tem o nome TEMPLATES (Targeting Extremely Magnified Panchromatic
Lensed Arcs and Their Extended Star Formation). Embora TEMPLATES seja um
acrónimo, o seu significado é mais profundo. A palavra "template"
pode ser traduzida para português como "modelo", uma palavra que se
refere a algo usado como padrão, molde ou guia para projetar ou construir itens
semelhantes. "Queremos tornar estas quatro galáxias em alvos incrivelmente
bem estudados, para que outros investigadores do Webb possam usá-las como
modelos, ou bons exemplos, quando trabalharem para entender os dados de um
grande número de galáxias que são muito mais fracas," disse Rigby.
Como os alvos foram
escolhidos
Uma
das principais razões pelas quais estas quatro galáxias foram escolhidas é
porque são muito brilhantes, facilitando o estudo. "Todas estas galáxias
estão a formar furiosamente estrelas," acrescentou Vieira.
Estes
alvos também representam grande parte da variedade de galáxias no Universo em
termos de quão empoeiradas são, quão brilhantes são e quantas estrelas já
fabricaram. Os astrónomos chamam as galáxias de "empoeiradas" quando
as suas imagens mostram manchas escuras, muitas vezes difusas, que vêm da
poeira da galáxia que bloqueia a luz estelar.
Duas
das galáxias são muito empoeiradas, e duas delas não o são. As duas galáxias
empoeiradas são, cada uma delas, ampliadas por uma outra galáxia. As duas
galáxias que não parecem ter poeira são ampliadas por enxames de galáxias.
Das
galáxias com muita poeira, os cientistas têm uma imagem de como as galáxias
evoluíram. De levantamentos de galáxias sem poeira, têm uma imagem diferente.
Essas imagens nem sempre correspondem. Espera-se que o Webb forneça uma
história mais completa da formação estelar, pois tem sensibilidade para ver a
luz da poeira aquecida por estrelas jovens - mesmo em galáxias que não têm
muita poeira - bem como a sensibilidade para ver luz visível até das galáxias
empoeiradas.
A
equipe do programa TEMPLATES vai usar três dos quatro instrumentos a bordo do
Webb, bem como muitos dos filtros e configurações do telescópio, para obter o
máximo de dados possível destas galáxias. Além de obter fotos, a equipa vai
usar espectroscopia, uma técnica que revela a composição química das galáxias,
como o gás está a mover-se e quão denso e quente esse gás é.
O
Webb vai permitir que a equipa faça essas medições em cada galáxia. "É
como uma dissecação," explicou Rigby. "Vamos separar cada pedaço da
galáxia, em vez de obter apenas uma medição média."
Desbloqueando os mistérios da
formação estelar
A
equipe TEMPLATES tem quatro objetivos principais:
1.Medir
quantas novas estrelas estão a formar-se, para determinar com que rapidez as
galáxias formam estrelas. Ao fazer diferentes tipos de medições de ritmos de
formação estelar para as quatro galáxias, a equipa planeia ver como concordam
ou discordam uma das outras. Por meio de verificações cruzadas, a equipa
determinará se estas galáxias estão, ou não, em formação estelar vigorosa, ou se
apenas formam uma estrela ocasionalmente;
2.Mapear
o ritmo de formação estelar nestas galáxias.
Os
cientistas não sabem muito sobre onde as estrelas se formam nas galáxias
durante a maior parte do tempo cósmico. O mapeamento da formação estelar em
galáxias no Universo próximo é relativamente fácil, mas é muito mais difícil
para galáxias distantes. Observando no passado distante, as galáxias longínquas
parecem muito pequenas no céu e as características individuais não podem ser
resolvidas. De modo que os cientistas não têm uma boa compreensão de onde as
estrelas se formaram nas galáxias do Universo inicial;
3.Comparar
as populações estelares jovens e velhas.
Os
cientistas vão medir as estrelas mais antigas - estrelas que vivem milhares de
milhões de anos, como o Sol. Vão determinar onde essas estrelas residem, dentro
de uma galáxia, o que irá informá-los sobre o passado da formação estelar.
Poderão depois comparar esses dados com o local onde as novas estrelas estão a
formar-se. Isto revelará como a formação estelar mudou nas galáxias com o
passar do tempo e responderá a algumas questões básicas sobre como as galáxias
crescem. Por exemplo, constroem-se de dentro para fora ou de fora para dentro?
4.Medir
as condições do gás dentro destas galáxias.
Os
cientistas determinarão quanto da tabela periódica estas galáxias já
construíram - por exemplo, quanto carbono, oxigénio e azoto contêm. Vão também
medir outras condições físicas como a densidade do gás.
Ajudando outros
investigadores a entender o Webb
As
observações da equipa farão parte do programa Científico Discricionário Inicial
do Diretor, que fornece tempo para projetos selecionados no início da missão do
telescópio. Este programa permite que a comunidade astronómica aprenda
rapidamente a melhor maneira de usar as capacidades do Webb, ao mesmo tempo que
produz ciência robusta. A equipa também está a ajudar outros investigadores a
entender a melhor maneira de obter dados com este telescópio.
"O
TEMPLATES apenas arranha a superfície do que podemos fazer com o Webb," continuou
Rigby. "Definitivamente não será a última palavra - é uma das primeiras
palavras do que este telescópio será capaz de fazer, como podemos entender as
galáxias. O que estamos a fazer com o TEMPLATES é que queremos ter a certeza de
que estamos a começar esta missão com o 'pé direito' para realmente entender
como aproveitar ao máximo as incríveis capacidades do Webb."
O
Telescópio Espacial James Webb será o principal observatório científico
espacial do mundo quando for lançado em 2021. Vai resolver mistérios do nosso
Sistema Solar, olhar para mundos distantes em torno de outras estrelas e
investigar as misteriosas estruturas e origens do nosso Universo e o nosso
lugar nele. O Webb é um projeto internacional liderado pela NASA e pelos seus
parceiros, a ESA e a Agência Espacial Canadiana.
Fonte: Astronomia OnLine
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