Objeto detectado por astrônomo amador pode ser mais um visitante interestelar
Em 2017, a passagem do
misterioso objeto interestelar Oumuamua intrigou a comunidade científica, sendo
este o primeiro já descoberto em nossos arredores com origem fora do Sistema
Solar. Pouco se pôde descobrir sobre ele, pois foi avistado quando já estava
"de saída". Já era especulado que, com as tecnologias atuais, muito
em breve detectaríamos novos visitantes interestelares passeando em nosso
quintal espacial — o que pode ter acabado de acontecer, graças a um astrônomo
amador ucraniano.
Concepção
artística do Oumuamua (Imagem: Getty)
Gennady Borisov avistou o
novo objeto no finalzinho de agosto, e para isso usou um telescópio que ele
mesmo construiu. Sua observação chamou a atenção do Minor Planet Center (MPC) —
organização operando no Observatório Astrofísico Smithsonian sob os cuidados da
União Astronômica Internacional (IAU) —, que acaba de lançar um documento sobre
o corpo chamado provisoriamente de C/2019 Q4 (Borisov). E como o objeto foi
detectado ainda em seu caminho de vinda à nossa região espacial, certamente a
comunidade científica terá muito mais oportunidades e meios de observá-lo,
aprendendo mais sobre ele do que foi possível de se fazer com o Oumuamua.
O nome provisório começa com
a letra "C" pois a IAU entende por enquanto que ele pode ser um
cometa, pois o que já se sabe sobre ele é que o objeto se comporta mesmo como
um cometa, ejetando gases à medida em que vai se aproximando do Sol — diferente
do Oumuamua, que apresentava características cometárias muito discretas, e isso
gerou dúvidas suficientes para que os cientistas não entrassem em acordo para
definir se ele seria um cometa ou um asteroide, ou de repente o resto de um
cometa interestelar que se desintegrou.
Mas, caso seja confirmado que o C/2019
Q4 (Borisov) tem mesmo origem interestelar, ele deverá fazer parte da
classificação "I" — o nome oficial do Oumuamua é 1I/2017 U1, então o
novo objeto interestelar teria nome começando por 2I, ou seja, o segundo objeto
interestelar já confirmado passando pelo nosso sistema.
À medida em que fazem mais
observações, os cientistas já conseguiram estimar a órbita do objeto, e os
dados revelam que ele tem uma trajetória hiperbólica. Traduzindo: sua
velocidade é alta o suficiente para que ele escape da atração gravitacional do
Sol, com a órbita sendo uma espécie de curva aberta, o que é diferente das
órbitas de objetos que estão "presos" à atração da gravidade solar.
Ou seja, o novo visitante só estaria mesmo dando um "passeio" por
aqui, para provavelmente não voltar mais.
No entanto, outros objetos já
foram inicialmente detectados com órbitas aparentemente hiperbólicas no
passado, mas novas observações e estudos acabaram provando que suas órbitas
eram mais típicas, com eles habitando o Sistema Solar mesmo. E o próprio MPC
reconhece que novas observações e análises de dados são necessárias para se
bater o martelo quanto à órbita do C/2019 Q4 (Borisov), bem como sua provável
origem interestelar.
De acordo com Matthew Holman,
diretor do MPC, o objeto está na direção do Sol quando avistado da Terra, o que
dificulta sua observação neste momento. De qualquer maneira, o fato de que ele
está ainda chegando à nossa vizinhança é empolgante, pois há tempo para
observá-lo com mais afinco do que aconteceu com a passagem do Oumuamua.
E mais:
os cientistas poderão fazer comparações entre os dois objetos misteriosos, o
que nos ajudará a entender ainda mais coisas sobre eles. O MPC diz que, caso o
C/2019 Q4 (Borisov) não sofra alguma tragédia como uma desintegração
inesperada, ele será observado atentamente por pelo menos um ano.
O provável novo visitante
interestelar veio da direção da constelação de Cassiopeia e passará perto de
Marte no periélio (nome dado à máxima aproximação do Sol) em algum momento
próximo do dia 7 de dezembro. Depois disso, ele pegará a "estrada" e
começará a sair do Sistema Solar. Ou seja: podemos nos preparar para uma
"chuva" de informações sobre o objeto nos próximos meses!
Fonte: Canaltech
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