Para planetas recém-nascidos, os sistemas solares são naturalmente "à prova de bebés"
Um jovem
planeta num sistema à prova de bebé: os novos resultados mostram como um limite
dentro do disco em torno de jovem estrela parecida com o Sol atua como uma
barreira que impede que os planetas mergulhem na estrela.Crédito: Departamento
Gráfico do Instituto Max Planck para Astronomia
Simulações numéricas de um
grupo de astrónomos liderado por Mario Flock do Instituto Max Planck para
Astronomia, mostraram que os sistemas planetários jovens são naturalmente
"à prova de bebés": os mecanismos físicos combinam-se para impedir os
jovens planetas nas regiões interiores de darem um mergulho fatal para a
estrela. Processos similares também permitem que os planetas nasçam perto das
estrelas - a partir de detritos presos numa região próxima da estrela. A
investigação, publicada na revista Astronomy & Astrophysics, explica
descobertas pelo Telescópio Espacial Kepler que mostram um grande número de
super-Terras em órbita íntima das suas estrelas, nos limites da região à prova
de bebé.
Quando uma criança nasce, os
pais certificam-se que a sua casa é à prova de bebé, estabelecendo barreiras de
segurança que mantêm a criança longe de áreas particularmente perigosas. Novas
investigações sobre a formação planetária mostram que algo muito semelhante
ocorre nos jovens sistemas planetários.
Os planetas formam-se em
torno de uma jovem estrela, cercada por um disco de gás e poeira. Dentro deste
disco protoplanetário, os grãos de poeira unem-se, ficando cada vez maiores.
Após alguns milhões de anos, atingem alguns quilómetros em diâmetro. Neste ponto,
a gravidade é forte o suficiente para unir estes objetos e assim formar
planetas, objetos redondos, sólidos ou com um núcleo sólido, com diâmetros de
alguns milhares de quilómetros ou mais.
Uma
curiosa multidão no limite interior
Assim como crianças, os
objetos sólidos num sistema planetário tão jovem tendem a mover-se em todas as
direções - não apenas em órbita da estrela, mas flutuando para fora e para
dentro. Isto pode ser potencialmente fatal para planetas que já se encontrem
relativamente próximos da estrela central.
Perto da estrela,
encontraremos apenas planetas rochosos, com superfícies sólidas, semelhantes à
nossa Terra. Os núcleos planetários só podem capturar e manter quantidades
significativas de gás para se transformarem em gigantes gasosos muito mais
longe da estrela quente. Mas o tipo mais simples de cálculo para o movimento de
um planeta perto da estrela, no gás de um disco protoplanetário, mostra que um
planeta deste tipo deverá flutuar continuamente para dentro, mergulhando na estrela
numa escala de tempo inferior a um milhão de anos, muito menos do que a vida
útil do disco.
Se fosse este o cenário
completo, seria surpreendente que o satélite Kepler da NASA, que examinou
estrelas parecidas com o Sol (dos tipos espectrais F, G e K), encontrasse algo
completamente diferente: inúmeras estrelas têm as chamadas super-Terras em
órbita íntima, planetas rochosos mais massivos do que a nossa própria Terra.
Particularmente comuns são planetas com períodos de aproximadamente 12 dias,
até períodos tão baixos quanto 10 dias. Para o nosso Sol, isso corresponderia a
raios orbitais de mais ou menos 0,1 UA, apenas cerca de um-quarto do raio
orbital de Mercúrio, o planeta mais próximo do nosso Sol.
Foi este o quebra-cabeças que
Mario Flock, líder de grupo do Instituto Max Planck para Astronomia, decidiu
resolver juntamente com colegas do JPL, da Universidade de Chicago e da Queen
Mary University em Londres. Os investigadores envolvidos são especialistas em
simular o ambiente complexo em que os planetas nascem, modelando os fluxos e as
interações de gás, poeira, campos magnéticos e planetas nos seus vários
estágios percursores. Dianto do aparente paradoxo das super-Terras íntimas
vistas pelo Kepler, propuseram-se a simular em detalhe a formação planetária
perto de estrelas parecidas com o Sol.
Um
Sistema Solar à prova de bebés
Os seus resultados foram
inequívocos e sugerem duas possíveis razões por trás da ocorrência comum de
planetas em íntima órbita. A primeira é que, pelo menos para planetas rochosos
com até 10 vezes a massa da Terra ("super-Terras" ou
"mini-Neptunos"), estes sistemas estelares jovens são à prova de
bebés.
A barreira de segurança que
mantém os planetas jovens fora da zona de perigo funciona da seguinte maneira.
Quanto mais perto estivermos da estrela, mais intensa a sua radiação estelar.
Dentro do limite chamado frente de sublimação, a temperatura do disco sobe
acima dos 1200 K e as partículas de poeira (silicatos) transformam-se em gás. O
gás extremamente quente dentro dessa região torna-se muito turbulento. Esta
turbulência transporta o gás em direção à estrela a alta velocidade,
adelgaçando no processo a região interna do disco.
À medida que uma jovem
super-Terra viaja através do gás, é normalmente acompanhada por gás que também
gira com o planeta num percurso orbital semelhante a uma ferradura. À medida
que o planeta se move para dentro e atinge a frente de sublimação dos
silicatos, as partículas de gás que se deslocam do gás mais fino para o gás
mais denso fora dos limites dão um pequeno chuto ao planeta. Nesta situação, o
gás exercerá uma influência (em termos físicos: um momento) ao planeta viajante
e, crucialmente, devido ao salto na densidade, radialmente para fora.
Desta forma, a fronteira
serve como uma barreira de segurança, impedindo que os jovens planetas
mergulhem na estrela. E a localização do limite para uma estrela tipo-Sol,
conforme previsto pela simulação, corresponde ao limite inferior para períodos
orbitais descobertos pelo Kepler. Como Mario Flock diz: "porque é que
existem tantas super-Terras em órbita próxima, como o Kepler nos mostrou?
Porque os jovens sistemas planetários têm uma barreira à prova de bebés
integrada!"
Construção
planetária na fronteira
Existe uma possibilidade
alternativa: ao rastrear o movimento de objetos mais pequenos, com alguns
milímetros ou centímetros de tamanho, os cientistas descobriram que estes
seixos tendem a acumular-se bem atrás da frente de sublimação dos silicatos.
Para que a pressão se equilibre diretamente na fronteira, o gás fino na região
de transição precisa de girar mais depressa do que o normal (já que deve haver
um equilíbrio entre pressão e força centrífuga). Esta rotação do gás é mais
rápida do que a velocidade orbital "Kepleriana" de uma partícula
isolada em órbita da estrela por conta própria.
Um seixo que entra nesta
região de transição é forçado para este movimento superior à velocidade
Kepleriana e é imediatamente ejetado novamente à medida que as forças
centrífugas correspondentes o empurram para fora, como uma pequena criança num
carrossel. Isto também contribui para a frequência de super-Terras em órbita
próxima. As super-Terras formadas não são as únicas com uma barreira de
segurança à prova de bebés. O facto de que objetos muito mais pequenos também
têm fornece condições ideais para a formação de super-Terras naquele local!
Os resultados não foram uma
surpresa completa para os investigadores. De facto, encontraram uma
"armadilha" semelhante em modelos de estrelas muito mais massivas
("estrelas Herbig"), embora a uma distância muito maior. Os novos
resultados estendem-se para estrelas parecidas com o Sol e acrescentam o
mecanismo à prova de bebés para planetas recém-nascidos. Além disso, o novo
artigo científico é o primeiro que fornece uma comparação com os dados
estatísticos do telescópio espacial Kepler, tendo em cuidada consideração que o
Kepler só poderia ver certos tipos de sistema (principalmente aqueles com o
plano orbital visto quase de lado).
E
o nosso próprio Sistema Solar?
Curiosamente, por estes critérios,
o nosso próprio Sistema Solar também poderia ter abrigado um planeta semelhante
à Terra mais perto do Sol do que o atual planeta mais interior, Mercúrio. Será
o facto de não existir um planeta desse tipo um acaso estatístico, ou será que
esse planeta realmente existiu, mas foi expulso do Sistema Solar? Esta é uma
pergunta interessante para investigações adicionais. Mario Flock salienta:
"O Sistema Solar não só era à prova de bebés, como é possível que o bebé
assim protegido tenha 'voado do ninho'!"
Fonte: Astronomia OnLine
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