Crise cosmológica: Não sabemos se o Universo é plano ou esférico
As lentes
gravitacionais também estão envolvidas em outro enigma para as teorias atuais:
Os muitos resultados da constante de Hubble.[Imagem: Chris Fassnacht/UC Davis]
Teoria
do Universo Plano
Se lhe parece difícil de
acreditar que ainda existam pessoas que afirmam que a Terra é plana, talvez
também possa lhe causar algum espanto o fato de que toda a teoria científica
atual, expressa no famoso modelo do Big Bang, propõe que o Universo é plano.
Não se trata de algo
filosófico, mas da matemática hoje disponível para descrever o que aconteceu
logo após a grande explosão que teria dado origem ao Universo - e, convenhamos,
modelar o início do Universo inteiro não é tarefa pequena, de forma que a
matemática usada é extremamente simplificada.
Mas também não é só teoria:
Virtualmente todos os dados cosmológicos coletados até hoje se enquadram nessa
ideia de que o Universo é plano, o que significa que ele não teria curvatura,
semelhante a uma folha de papel.
É claro que existem os
descontentes com a "Teoria do Universo Plano" - sem contar os
proponentes do Universo Holográfico.
E um trio deles acaba de
apresentar dados observacionais que mostram um Universo esférico, ou fechado.
Em outras palavras, assim como no modelo cosmológico padrão, aceito pela
comunidade científica, se você sair com uma nave espacial em qualquer direção irá
viajar para sempre, no modelo do universo fechado sua viagem sempre lhe trará
de volta ao seu ponto de partida.
Dados
das lentes gravitacionais
Eleonora Di Valentino e seus
colegas usaram dados do telescópio espacial Planck, que operou de 2009 a 2013 mapeando
o fundo cósmico de micro-ondas, um mar de luz primordial que restou do Big
Bang.
Um conjunto de observações
mostra que há mais lentes gravitacionais - um alongamento da luz devido à forma
do espaço-tempo, que pode ser distorcido pela matéria - do que o esperado. E
esses dados podem ser explicados se a forma do Universo for diferente do que
pensávamos.
O efeito extra de lente
gravitacional implica a presença de mais matéria escura do que o proposto pelo
modelo atual, o que levaria o Universo a uma esfera finita, em vez de uma folha
plana infinita.
Segundo essas observações, o
Universo tem 41 vezes mais chances de ser fechado do que plano. "Esses são
os dados cosmológicos mais precisos e estão nos dando uma imagem
diferente," disse Alessandro Melchiorri, da Sapienza Universidade de Roma.
Crise
cosmológica
Se o Universo for realmente
fechado, isso se torna um grande problema para a nossa compreensão do cosmos.
Por exemplo, outro enigma
cosmológico é que nossas imediações cósmicas parecem estar se expandindo mais
rápido do que deveriam, algo que é difícil de explicar com nosso modelo padrão
de cosmologia, que inclui um universo plano, e a equipe calculou que isso fica
ainda mais difícil com um universo esférico, juntamente com algumas outras
incompatibilidades cósmicas que ainda carecem de explicação.
É tão ruim que o trio afirma
que seus dados desencadearam uma "crise cosmológica".
"Em um universo fechado,
essas anomalias são mais graves do que pensávamos," disse Melchiorri.
"Se nada estiver de acordo, temos que pensar muito sobre o nosso modelo do
universo e sua formação".
A explicação usual da
formação do Universo inclui um período logo após o Big Bang, chamado inflação,
quando o Universo se expandiu rapidamente. Nossos modelos atuais de inflação
levam a um universo plano; portanto, se o nosso Universo for realmente fechado,
esses modelos terão que ser mudados.
"Nós precisamos de um
novo modelo e ainda não sabemos como ele é," disse Melchiorri. Ninguém
encontrou uma maneira de conciliar essas observações do telescópio Planck com
as muitas medidas cosmológicas discordantes, algumas das quais incluem até
mesmo outras observações do próprio observatório Planck.
Existe a hipótese de que os
novos dados sejam apenas uma flutuação estatística, mas os dados do
observatório WMAP, que também mapeou a radiação cósmica de fundo, já foram
igualmente interpretados de forma a mostrar um Universo esférico.
Assim, vamos ter que esperar
por mais dados. O Observatório Simons, atualmente em construção no Chile,
poderá medir as lentes gravitacionais de maneira ainda mais precisa do que o
telescópio Planck, e deverá nos dizer se realmente existe uma crise de
magnitude cósmica em nossas teorias cosmológicas.
Fonte: Inovação Tecnológica
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