O universo pode ter um formato que ninguém suspeitava
Segundo
um novo estudo liderado pelos cosmólogos Eleonora Di Valentino, da Universidade
de Manchester (Reino Unido), Alessandro Melchiorri, da Universidade de Roma “La
Sapienza” (Itália) e Joseph Silk, da Universidade Johns Hopkins (EUA), o nosso
universo pode ser curvado ao invés de plano.
Anomalia
A
sabedoria convencional é de que o universo é plano e se estende para todas as
direções. Nesse universo sem fronteiras, partículas viajando para direções
diferentes nunca se encontrariam.
O
que o novo estudo propõe não é inédito: um universo ligeiramente curvado, no
qual, se você andar em linha reta por enormes distâncias, eventualmente
retornará para o mesmo ponto onde começou a jornada. Em outras palavras, um
universo em “loop” ou “fechado”, onde partículas viajando em diferentes
direções podem eventualmente interagir.
As
evidências que possuíamos até agora não pareciam suportar tal loop, mas o trio
de pesquisadores afirma que uma anomalia nos dados do fundo cósmico de
microondas (FCM), considerado o eco do Big Bang, na verdade aponta para tal
universo fechado.
Essa
anomalia seria o fato de que há muito mais “lentes gravitacionais” no FCM do
que o esperado, o que significa que a gravidade parece dobrar as microondas
mais do que a física existente poderia explicar.
A_lens
Para
tentar explicar essas lentes “extras”, os pesquisadores criaram uma variável
chamada “A_lens” e a incluíram no modelo de formação do universo.
“Isso
é algo que você coloca lá à mão, tentando explicar o que você vê. Não há
conexão com a física. O que descobrimos é que você pode explicar A_lens com um
universo positivamente curvado, que é uma interpretação muito mais física do
que se poderia explicar com a relatividade geral”, disse Melchiorri,
esclarecendo que não há parâmetro A_lens na teoria da relatividade de Einstein.
Controvérsias
Embora
os próprios autores da proposta afirmem que ela não é conclusiva – os cálculos
oferecem uma segurança de apenas 3,5 sigma, uma medida estatística que
significa cerca de 99,8% de confiança de que o resultado não é devido ao acaso,
distante do “padrão ouro” de 5 sigma -, outros cientistas são ainda mais
céticos dessa hipótese.
Por
exemplo, outro estudo, conduzido pelos cosmólogos George Efstathiou e Steven
Gratton, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), utilizou os mesmos dados
que o trio – coletados pelo experimento Planck em 2018, o mais compreensivo
sobre o FMC já feito -, concluindo que a evidência para um universo curvado é
muito fraca, e que portanto ele deve ser plano.
+
Se
o universo for de fato curvado, isso levantaria inúmeros problemas a serem
resolvidos pela física, piorando questões já complexas como a discrepância
vista na taxa de expansão do universo, por exemplo.
Melchiorri
concorda, mas crê que talvez os cientistas tenham que lidar com isso um dia.
“Não quero dizer que acredito em um universo fechado. Sou um pouco mais neutro.
Eu diria, vamos aguardar informações e o que os novos dados dirão. O que
acredito é que há uma discrepância agora, que precisamos ter cuidado e tentar
descobrir o que é”, concluiu.
Um
artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Nature Astronomy.
Fonte: LiveScience
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