Água restante em Marte pode desaparecer mais rapidamente do que se imagina
A descoberta surpreendente pode ajudar os pesquisadores a entender melhor por que Marte moderno é um mundo deserto
Há
algum tempo, pesquisadores trabalham com a ideia de que Marte já foi coberto
por oceanos e rios de água líquida, algo que os próprios vales do Planeta
Vermelho sugerem. A maior parte água teria se perdido no espaço há bastante
tempo, e um novo estudo indica que o restante dela pode continuar desaparecendo
— e rápido. Além disso, se a pesquisa estiver correta, significa que o planeta
pode ter perdido seus oceanos de forma muito mais veloz do que se imaginava.
Observações
anteriores detectaram a presença de gelo abaixo do solo, em especial nas
calotas polares do planeta. Ali há menos de 10% da água que já houve na
superfície marciana. Esse gelo ainda libera água em forma de vapor na
superfície, mas ela está se perdendo. É que essa água alcança a atmosfera
superior, onde a radiação ultravioleta do Sol acaba por dividir suas moléculas
para formar hidrogênio e oxigênio.
Grande
parte desse hidrogênio flutua para espaço, porque o gás é extremamente leve e a
gravidade é fraca demais para retê-lo. As novas descobertas sugerem que
bastante quantidade de água pode ser rápida em chegar à atmosfera superior de
Marte em determinadas estações do ano.
Uma
equipe de pesquisa internacional, liderada em parte pelo pesquisador do CNRS,
Franck Montmessin, revelou que o vapor de água está se acumulando em grandes
quantidades e proporções inesperadas a uma altitude de mais de 80 km na
atmosfera marciana. As medições mostraram que grandes bolsas atmosféricas ficam
em um estado de supersaturação de acordo com as estações, com 10 a 100 vezes
mais vapor de água do que a temperatura deveria teoricamente permitir.
Para
entender esse cenário, cientistas analisaram dados da sonda Trace Gas Orbiter,
que orbita Marte como parte do programa ExoMars, criado em uma colaboração
entre Europa e Rússia. Os cientistas se concentraram na maneira como a água era
distribuída em altitude na atmosfera marciana em 2018 e 2019.
Assim,
descobriram que as mudanças sazonais foram os principais fatores que
influenciaram a distribuição do vapor de água na atmosfera marciana. Durante o
período mais quente e mais tempestuoso do ano, por exemplo, grandes porções da
atmosfera ficaram supersaturadas de vapor, permitindo que a água chegasse à
atmosfera superior. Esses níveis extraordinários de saturação "não são
observados em nenhum outro corpo do sistema solar", de acordo com o autor
do estudo.
Os
cientistas ficaram surpresos que quantidades tão grandes de vapor de água podem
atingir a atmosfera superior tão rapidamente, pois eles esperavam que
temperatura fria no alto impedisse o processo, condensando as partículas em
nuvens, como ocorre aqui na Terra. No entanto, já que o vapor pode subir tão
alto na atmosfera marciana sem ser impedido pela condensação "podemos
imaginar que a perda da água em Marte tenha sido muito mais eficaz do que se
pensava", disse Montmessin.
Fonte: Canaltech
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