A nova geração de experimentos para detectar matéria escura
Cientistas esperam resolver
um mistério de mais de 30 anos, e encontrar as partículas que formam 85% de
toda a massa do universo. Pesquisadores irão derramar
dez toneladas de xenônio líquido em um tanque situado a quase 1,6 quilômetros
de profundidade, no coração de uma antiga mina de ouro em Dakota do Sul. Esse
experimento extremo espera detectar o historicamente indetectável, uma
substância misteriosa que compõe mais de 85% de toda a massa do nosso universo:
a matéria escura. Uma das características
irritantes da matéria escura é que realmente não temos ideia [o que é]",
explica o diretor do projeto LUX-ZEPLIN (LZ), responsável pela experiência,
Murdock Gilchriese. "Sabemos que ela existe, mas como uma partícula e qual
é a sua massa, há uma grande lacuna".
O LZ é um dos três principais
experimentos financiados pelo Departamento de Energia dos EUA (DOE) e Fundação
Nacional de Ciência dos EUA que visam detectar diretamente a matéria escura, uma
meta que atormenta os cientistas há mais de trinta anos. Esta geração de
projetos espera enfrentar o desafio usando sistemas com escala e sensibilidade
sem precedentes.
"Você pode dizer que
somos os melhores do mundo em não encontrar nada. Quero dizer, as pessoas
disseram isso e até agora, é realmente verdade”, diz Gilchriese. "Pode
muito bem ser que as pessoas passem mais dez anos e não encontremos
absolutamente nada", completa.
O conceito de matéria escura
se originou na década de 1930. O astrônomo Fritz Zwicky acompanhou as
velocidades de mais de mil galáxias agrupadas e observou que a atração
gravitacional da matéria visível por si só não era forte o suficiente para
impedir que o aglomerado se afastasse. Zwick postulou que deve haver matéria
que não podemos ver - matéria escura - que contribui com a maior parte da força
gravitacional que mantém tudo no lugar.
Quarenta anos depois, os
astrônomos Vera Rubin e Kent Ford encontraram mais evidências da matéria escura
estudando o movimento das estrelas nas galáxias espirais. Os pesquisadores
descobriram que as estrelas que orbitam nas bordas externas dessas galáxias se
movem tão rapidamente quanto as do centro, possivelmente devido a um halo de
matéria escura que fornece uma força gravitacional extra.
Mais recentemente, uma
fotografia de duas galáxias em colisão, apelidada de Bullet Cluster, exibiu um
efeito de lente gravitacional - luz que é dobrada devido à imensa gravidade -
que não podia ser explicada apenas pela matéria visível. Os cientistas dizem
que essas observações apontam fortemente para a existência de matéria escura,
mas exatamente do que essa matéria é feita permanece um mistério.
“[Matéria escura] não é
apenas uma esperança - há pistas disso”, afirma Priscilla Cushman, porta-voz de
outro experimento de detecção de matéria escura chamado SuperCDMS SNOLAB.
"Sabemos o quanto existe, porque essa influência é imensa devido à
gravidade. ... Isso afeta toda a evolução do nosso universo a partir do Big
Bang, porque, se não estivesse lá, não teríamos a aglomeração que vemos
atualmente quando observamos as galáxias. Essa gravidade extra, criada pelas
partículas de matéria escura, é necessária para formar a estrutura que vemos
hoje. Portanto, há toneladas e toneladas de evidências", completa.
A busca por matéria escura
forma o que Cushman chama de "banco de experimentos de três pernas".
A primeira etapa é a detecção indireta, que tenta observar sinais vindos do
fundo do universo, como raios gama, que podem ter surgido da aniquilação ou
decaimento de partículas de matéria escura. Os cientistas também tentaram criar
partículas de matéria escura colidindo dois prótons de alta energia um no outro
no Large Hadron Collider, imitando o que poderia ter ocorrido no Big Bang
quando todas essas partículas se formaram.
Por fim, experimentos de
detecção direta como LZ e SuperCDMS esperam que as partículas de matéria escura
interajam ocasionalmente com a matéria normal via força fraca, permitindo que
sejam detectadas por instrumentos extremamente sensíveis. Como as
características das partículas de matéria escura são completamente
desconhecidas, os pesquisadores que tentam detectar diretamente a matéria
escura têm um palpite sobre qual a massa que seus detectores devem procurar.
"O problema de tudo isso
é que você está procurando uma agulha no palheiro", diz Cushman. “Para
construir um detector, você precisa fazer algumas suposições sobre o quão
brilhante é a agulha, e quão grande é, e onde o palheiro diz que você deve
começar a procurar primeiro. Então é isso que fazemos quando construímos esses
detectores. Pensamos no lugar mais provável e, claro, podemos estar errados. E,
à medida que o tempo passa, e não encontramos a agulha onde esperávamos
encontrá-la, olhamos cada vez mais fundo no palheiro. "
Fonte: Olhar Digital
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