O impacto das constelações de satélites nas observações astronômicas
Astrônomos
recentemente levantaram preocupações sobre o impacto das mega-constelações de
satélites na pesquisa científica. Para entender melhor o efeito que estes
satélites podem ter sobre as observações astronômicas, o ESO encomendou um
estudo científico sobre o seu impacto, focado nas observações obtidas com os
telescópios do ESO que operam no visível e no infravermelho, mas que também
leva em conta outros observatórios. O estudo considera um total de 18
constelações representativas de satélites, em desenvolvimento pela SpaceX,
Amazon, OneWeb, entre outras, num total de 26 mil de satélites e foi agora
aceito para publicação na revista Astronomy & Astrophysics.
O estudo mostra
que os grandes telescópios, como o Very Large Telescope (VLT) do ESO e o futuro
Extremely Large Telescope (ELT) também do ESO serão “moderadamente afetados”
por estas constelações de satélites em desenvolvimento. O efeito é mais
pronunciado no caso de longas exposições (de cerca de 1000 segundos), sendo que
podem ser afetadas até 3% destas exposições obtidas durante o crepúsculo (tanto
durante a madrugada como ao cair da noite).
As exposições
mais curtas serão menos afetadas, com menos de 0,5% das observações deste tipo
a afetadas. Observações realizadas em outros horários durante a noite também
seriam menos afetadas, pois os satélites ficariam na sombra da Terra e,
portanto, não seriam iluminados. Dependendo do caso científico, os impactos podem
ser reduzidos com alterações nos horários de operação dos telescópios do ESO,
embora essas alterações tenham um custo. Do lado da indústria, um passo importante e
eficaz para atenuar estes impactos passaria por escurecer os satélites.
O estudo também
mostrou que o maior impacto seria em pesquisas de campo amplo, em particular
aquelas realizadas com grandes telescópios. Por exemplo, até 30% a 50% das
exposições do Observatório Vera C. Rubin, que não é uma infraestrutura do ESO,
mas sim da Fundação Nacional de Ciência do EUA, seria “severamente afetada”,
dependendo da época do ano, da noite e das condições simplificados deste
estudo. Técnicas de mitigação que poderiam ser aplicadas aos telescópios do ESO
não funcionariam para este observatório, embora outras estratégias estejam
sendo ativamente exploradas.
São necessários
estudos adicionais para compreender completamente as implicações científicas
desta perda de dados observacionais e de complexidade na sua análise.
Telescópios de rastreio de campo amplo como o Observatório Rubin podem mapear
rapidamente grandes áreas do céu, tornando-os indispensáveis para descobrir
fenômenos de curta duração como supernovas e asteroides potencialmente
perigosos. Devido à sua capacidade única para gerar enormes quantidades de
dados e descobrir alvos de observação para muitos outros observatórios, as
comunidades astronômicas e agências de financiamento da Europa e em outros
lugares classificaram os telescópios de rastreio de campo amplo como uma
prioridade para desenvolvimentos futuros na astronomia.
Astrônomos
profissionais e amadores também levantaram preocupações sobre como as
mega-constelações de satélites poderiam ter um impacto nas condições límpidas
do céu noturno. O estudo mostra que cerca de 1600 satélites destas constelações
se encontrarão acima do horizonte de um observatório situado a meia latitude, a
maioria dos quais estará baixo no céu — em um intervalo de 30º acima do
horizonte. Acima deste valor — na parte do céu onde é feita a maioria das
observações astronômicas — haverá sempre cerca de 250 satélites
independentemente da hora.
Apesar de estarem
todos iluminados ao nascer e ao pôr do Sol, os satélites começam a entrar na
sombra da Terra à medida que a noite avança. O estudo do ESO pressupõe um
determinado brilho para todos estes satélites. Com esta pressuposição, até
cerca de 100 satélites poderão ser suficientemente brilhantes para se verem a
olho nu durante as horas do crepúsculo, com cerca de 10 acima dos 30º de
elevação. Todos este números diminuem quando a noite avança, tornando-se mais
escura, e os satélites passam para a sombra da Terra. No geral, estas novas
constelações de satélites irão duplicar o número de satélites visíveis a olho
nu no céu noturno acima dos 30º de elevação.
Estes números não
incluem os trens de satélites visíveis logo após o seu lançamento. Apesar de
brilhantes e bastante espectaculares, estes rastros são de curta duração e
visíveis apenas depois do pôr ou antes do nascer do Sol e, em qualquer momento,
apenas a partir de uma área muito limitada da superfície terrestre.
O estudo do ESO
usa simplificações e suposições para obter estimativas conservadoras dos
efeitos, os quais podem ser na realidade menores do que o calculado. Modelos
mais sofisticados serão necessários para quantificar mais precisamente os
impactos atuais. Apesar do estudo focar nos telescópios do ESO, estes
resultados se aplicam igualmente a telescópios semelhantes que, não sendo do
ESO, operam também no visível e infravermelho, com instrumentos e casos científicos
semelhantes.
As constelações
de satélites terão também impacto nos observatórios que operam no rádio, no
milimétrico e no submilimétrico, incluindo o Atacama Large
Millimeter/submillimeter Array (ALMA) e o Atacama Pathfinder Experiment (APEX).
Este impacto será considerado em estudos futuros.
O ESO, juntamente
com outros observatórios, a União Astronômica Internacional (IAU), a Sociedade
Astronômica Americana (ASS), a Sociedade Astronômica Real do Reino Unido (RAS)
e outras sociedades, está tomando medidas para sensibilizar o público sobre
este assunto em fóruns globais tais como o Comitê das Nações Unidas para o Uso
Pacífico do Espaço Sideral (COPUOS) e o Comitê Europeu de Frequências Rádio em
Astronomia (CRAF).
Ao mesmo tempo, e
em conjunto com as companhias ligadas ao espaço, estão sendo exploradas
soluções práticas que possam salvaguardar os investimentos em larga escala
feitos em infraestruturas de astronomia terrestre de última geração. O ESO
apóia o desenvolvimento de estruturas regulatórias que garantirão a
coexistência harmoniosa de avanços tecnológicos altamente promissores em baixa
órbita terrestre com as condições que permitem à humanidade continuar sua
observação e compreensão do Universo.
Fonte: ESO
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