Uma estrela invasora poderia expulsar a Terra do Sistema Solar?
Embora
pareça calmo e tranquilo, o universo é perigoso e está em constante movimento.
Em qualquer planeta onde a vida venha a surgir, haverá muitas dificuldades para
se manter, e tudo depende das condições não apenas planetárias, mas também do
sistema estelar onde este planeta estiver - e até mesmo da sua própria galáxia.
A vizinhança sempre pode ser agressiva e causar uma série de problemas, como
fazer com que o planeta seja expulso da órbita de sua estrela anfitriã.
Pois
é, existem chances de um objeto grande e massivo - uma estrela intrusa, por
exemplo - passar perto de um planeta e alterar sua órbita atual. Será que isso
poderia acontecer com a Terra? Quais seriam as chances de que sejamos
arremessados para fora do Sistema Solar? Uma dupla de pesquisadores analisou os
números e encontrou uma resposta para essa pergunta.
A gravidade é complexa
A
força da gravidade é o que mantém um planeta em órbita ao redor de uma estrela,
as luas ao redor de um planeta, as estrelas agrupadas em uma galáxia, e assim
por diante. Isso garante que as coisas fiquem como estão por bilhões de anos.
Mas o universo pode ser estranho e caótico e essa mesma gravidade pode expulsar
os objetos do lugar de onde estão.
Isso
é o que acontecerá com a nossa nova minilua, por exemplo. O objeto 2020 CD3 foi
capturado pela gravidade da Terra e está preso em nossa órbita, mas ele será
arremessado de volta para o espaço interplanetário em breve. O mesmo acontece
com alguns planetas. A gravidade pode expulsar um deles da órbita de sua
estrela anfitriã, condenando-o a vagar para sempre no espaço interestelar
gelado.
Tudo
isso é porque a gravidade é uma coisa bastante complicada. Quando dois corpos
interagindo gravitacionalmente, as coisas são simples e tudo funciona como uma
engrenagem de uma máquina de ritmo preciso, por bastante tempo. Mas se tivermos
um terceiro objeto, temos um problema que incomodou cientistas por séculos. É
que, com três objetos, qualquer pequeno desvio ou desvio pode levar a grandes
mudanças muito rapidamente.
Por
exemplo, no Sistema Solar temos planetas relativamente pequenos na órbita de
uma estrela massiva o suficiente para manter as coisas em ordem. Acontece que
cada planeta afeta e altera a órbita da Terra - felizmente de maneira muito
sutil, de modo que estamos seguros por alguns bilhões de anos.
E se algo se aproximar?
Sim,
pode acontecer. Estrelas vizinhas podem se aproximar do nosso Sistema Solar e,
se chegarem perto demais, as coisas começariam a ficar desagradáveis - uma
visita como esta poderia alterar a órbita da Terra, porque nosso planeta
receberia um “puxão” da força gravitacional da “invasora”.
E,
de fato, uma estrela chamada Gliese 710, que é cerca de 60% da massa do Sol,
está vindo em nossa direção. Trata-se uma anã que, em pouco mais de um milhão
de anos, chegará a um quinto de um ano-luz do nosso Sistema Solar. Uma
aproximação como essa faria com que a Terra se afastasse do Sol. Na verdade,
nosso planeta poderia sair da "zona habitável", a região de órbitas
ao redor do Sol que permite aos planetas oferecerem condições de sustentar
formas de vida.
E
com forças gravitacionais intrusas o suficiente, a Terra poderia ganhar tanta
energia que atingiria velocidade o suficiente para escapar do Sol, deixando o
Sistema Solar em um piscar de olhos - em termos cósmicos de passagem de tempo,
claro.
Recentemente,
uma dupla de astrônomos começou a simular os efeitos de uma estrela que
hipoteticamente passa perto da órbita da Terra. Os resultados foram publicados
no arXiv - repositório onde artigos científicos são enviados antes de serem
aprovados por revistas renomadas. Eles analisaram todos os cenários possíveis:
estrelas de diferentes massas entrando em todos os tipos de ângulos e com todos
os tipos de velocidades, para ver em quais circunstâncias elas poderiam nos
tirar da zona habitável.
No
geral, quanto mais rápido a estrela passa pelo nosso Sistema Solar, menores são
as chances bagunçar as coisas por aqui. Se a velocidade for pelo menos a mesma
com que a Terra orbita o Sol (um pouco mais de 106.000 km/h), ela precisa
passar dentro da órbita de Júpiter para ter uma chance decente de nos tirar do
lugar. Mas estrelas em movimento lento podem causar muito mais problemas apenas
passando pelos limites do Sistema Solar.
Além
da velocidade, há outros fatores importantes em jogo, como a massa e o ângulo
de aproximação. Se a estrela estiver passando no mesmo plano do nosso Sistema
Solar, há muitas chances de chegar perto o suficiente da Terra para nos
desestabilizar, e se a estrela chegar a duas vezes a distância entre a Terra e
o Sol, os outros fatores já não importam mais - estaremos condenados.
Cálculos com estrelas reais
Os
pesquisadores pegaram esses resultados e os aplicaram em dados sobre a nossa
galáxia, usando o conhecimento que já estão disponíveis sobre as posições,
massas e velocidades das estrelas mais próximas de nós. Eles descobriram que,
em média, nosso planeta teve uma chance de apenas 1 em 15.000 de se
desestabilizado gravitacionalmente nos 4 bilhões de anos.
Isso
significa que para cada 10.000 planetas semelhantes à Terra em nossa
vizinhança, apenas um pode ter sofrido um destino tão terrível quanto ser arremessado
para fora do sistema estelar. Mas no centro da Via Láctea, onde tudo é mais
movimentado e caótico, as coisas ficam mais complicadas. Com todas as estrelas
que existem por lá, a chance de catástrofe gravitacional é 160 vezes maior.
Para
nós, os resultados são satisfatórios - estamos seguros por muito tempo. Mas
pesquisas como esta são úteis para a busca por vida em planetas distantes. O
centro de uma galáxia costuma ser agitado e cheio de radiação de alta energia e
raios cósmicos. Agora, agora sabemos que há grandes chances de que estrelas
podem tirar mundos de suas órbitas com muito mais frequência do que aqui, na
periferia da Via Láctea. Se alguma forma de vida conseguiu surgir em algum dos
mundos do centro galáctico, é difícil que tenha sobrevivido.
Fonte: Canaltech
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