Cristais do tempo resolvem problema do espaço-tempo de Einstein
A
nova versão da teoria permite trocar coordenadas de tempo, mas manter as
coordenadas espaciais.[Imagem: Venkatraman Gopalan - 10.1107/S2053273321003259]
Ponte entre geometrias
Um cientista estava estudando cristais quando se deparou com uma nova
fórmula matemática que pode eliminar uma questão não resolvida de longa data,
envolvendo a compreensão do espaço-tempo, a estrutura do Universo proposta nas
teorias da relatividade de Einstein.
"A relatividade nos diz que o espaço e o tempo podem se misturar
para formar uma única entidade chamada espaço-tempo, que é quadridimensional:
três eixos espaciais e um eixo do tempo," explica o professor Venkatraman
Gopalan, da Universidade Estadual da Pensilvânia. "No entanto, alguma
coisa sobre o eixo do tempo se destaca tanto quanto um dedão machucado."
Para que os cálculos funcionem dentro da relatividade, os físicos
precisam inserir um sinal negativo nos valores referentes ao tempo, uma inversão
de sinal que eles não precisam aplicar aos valores referentes ao espaço. Os
cientistas sabem bem como trabalhar com valores negativos, mas isso significa
que o espaço-tempo não pode ser tratado usando a geometria euclidiana
tradicional - em vez disso, o espaço-tempo deve ser estudado com a geometria
hiperbólica, que é muito mais complexa.
O que Gopalan fez foi desenvolver uma abordagem matemática em duas
etapas que permite que as diferenças entre espaço e tempo sejam por assim dizer
"borradas", eliminando o problema do sinal negativo e estabelecendo
uma ponte entre as duas geometrias.
"Por mais de 100 anos, tem havido um esforço para colocar o espaço
e o tempo na mesma base," disse ele. "Mas isso realmente não
aconteceu por causa deste sinal de menos. Esta pesquisa remove esse problema,
pelo menos na relatividade especial. Espaço e tempo estão realmente no mesmo pé
agora."
Espaço-tempo combinado
renormalizado
O método de Gopalan envolve combinar duas observações separadas do
mesmo evento. A combinação ocorre quando dois observadores trocam coordenadas
de tempo, mas mantêm suas próprias coordenadas espaciais. Com uma etapa
matemática adicional, chamada renormalização, isso leva a um "espaço-tempo
combinado renormalizado".
"Digamos que eu esteja no solo e você voando na estação espacial,
e ambos observamos um evento, como um cometa passando. Você faz sua medição de
quando e onde o viu, e eu faço a minha do mesmo evento, e então comparamos as
anotações.
"Eu, então, adoto sua medição de tempo como minha, mas mantenho
minha medição espacial original do cometa. Você, por sua vez, adota minha
medição de tempo como sua, mas mantém sua própria medição espacial do cometa.
De um ponto de vista matemático, se fizermos essa combinação de nossas
medições, o irritante sinal de menos vai embora," explicou Gopalan.
Parece ser muito simples, mas esta inovação matemática pode conter a
chave também para unificar a mecânica quântica e a gravidade, dois campos
fundamentais da física que ainda não se falam adequadamente, e impulsionar um
campo emergente e intrigante de pesquisas, envolvendo cristais que se modificam
no tempo - teoricamente, eles poderiam até sobreviver ao fim do Universo.
Diagrama do espaço-tempo combinado renormalizado, que pode resolver um problema com a compreensão da estrutura do Universo proposta nas teorias da relatividade de Einstein. [Imagem: Hari Padmanabhan]
Cristais do tempo relativísticos
Ao estabelecer uma relação entre o espaço-tempo e a geometria
tradicional, esta nova abordagem trouxe implicações inesperadas para o
desenvolvimento de estruturas com propriedades exóticas, conhecidas como
cristais do espaço-tempo.
Os cristais comuns contêm arranjos de átomos que se repetem no espaço,
enquanto os cristais de espaçotempo são formados por unidades básicas que se
repetem no tempo, como uma dança. No entanto, o tempo está desconectado do
espaço nas fórmulas originais. Assim, o método desenvolvido por Gopalan permite
explorar uma nova classe de cristal do espaço-tempo, onde espaço e tempo podem
se misturar, criando um cristal do espaçotempo relativístico.
"Essas possibilidades podem inaugurar uma classe inteiramente nova
de metamateriais com propriedades exóticas de outra forma não disponíveis na natureza,
além de compreender os atributos fundamentais de uma série de sistemas
dinâmicos", comentou o professor Avadh Saxena, do Laboratório Nacional de
Los Alamos.
"A ideia de Gopalan, de cristais de espaço-tempo relativísticos
gerais, e de como obtê-los, é poderosa e ampla. Esta pesquisa, em parte,
apresenta uma nova abordagem para um problema em física que permaneceu sem
solução por décadas," comentou o professor Martin Bojowald, ele próprio um
especialista em cristais do espaço-tempo e defensor de uma ideia inusitada, a
de que o espaço-tempo não é o mesmo para todos.
Fonte: Inovação Tecnológica
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