Event Horizon captura imagem de buraco negro cuspindo matéria
A equipe de astrônomos que há dois anos capturou o primeiro close-up de um buraco negro gigante, localizado no centro da galáxia Messier 87 (M87), acaba de dar um zoom em um segundo gigante um pouco menor na próxima galáxia ativa, Centaurus A. O feito, documentado na revista científica Nature Astronomy, foi realizado pela equipe do Instituto Max Planck de Radioastronomia em Bonn, na Alemanha.
A imagem, capturada pelo Event Horizon Telescope (EHT), deve ajudar a resolver questões sobre como esses centros galácticos canalizam grandes quantidades de matéria em feixes poderosos e os disparam por milhares de anos-luz no espaço.
Juntas, as imagens sustentam a crença dos teóricos de que todos os buracos negros operam da mesma maneira, apesar das enormes variações em suas massas. “Isso é muito bom”, disse o astrônomo Philip Best, da Universidade de Edimburgo, sobre a nova imagem do EHT. “A resolução angular é surpreendente em comparação com as imagens anteriores desses jatos”, afirmou Best.
Como funciona o Telescópio Event
Horizon
O EHT combina dezenas de antenas de rádio dispersas do Havaí à França e da Groenlândia ao Polo Sul — formando um enorme telescópio virtual. Ele aponta simultaneamente as antenas para um objeto celeste, marcando cuidadosamente o tempo com um relógio atômico. Depois, os pesquisadores unem as imagens em clusters de computação — em um processo que leva anos — para produzir uma única imagem com resolução tão nítida quanto a de uma única antena do tamanho da Terra.
O EHT opera apenas por algumas semanas a cada ano e mau tempo e falhas técnicas muitas vezes estreitam ainda mais a janela de funcionamento. O telescópio virtual sondou Centaurus A em 2017 e produziu a agora famosa imagem do buraco negro supermassivo em M87 — a descoberta científica do ano de 2019.
Centaurus A, a cerca de 13 milhões de anos-luz de distância, é uma das galáxias mais próximas da Terra que brilha em comprimentos de onda de rádio. Ela tem jatos óbvios expelindo matéria acima e abaixo do disco galáctico — uma marca registrada de um buraco negro gigante ativo. “Queríamos ver a aparência do jato com a resolução que o EHT poderia oferecer", disse Michael Janssen, um dos membros da equipe. “Não sabíamos o que esperar”, completou o cientista.
O resultado foi uma imagem detalhada de como o jato emerge da região ao redor do buraco negro supermassivo da Centaurus A, mostrando uma semelhança notável com as imagens do EHT do jato da M87 — em uma escala muito menor. Enquanto imagens dos jatos de Centaurus A feitas por outros telescópios em diferentes comprimentos de onda revelaram poucos detalhes, as imagens do EHT mostram o jato com um centro escuro flanqueado por duas listras brilhantes.
Como funcionam os buracos negros
Para Best, o jato pode parecer brilhante em torno de sua borda porque suas regiões externas se "esfregam" contra o gás e a poeira circundantes, o que o faria brilhar. Mas os astrofísicos não entendem totalmente como os núcleos galácticos dirigem essas fontes poderosas.
Uma teoria sustenta que um disco de acreção — o redemoinho de matéria girando em espiral no buraco negro —, gera um campo magnético que canaliza parte da matéria em um jato. Outros acreditam que o campo magnético deve explorar a energia rotacional do próprio buraco negro para atingir tal poder colossal.
As novas observações de Centaurus A não resolvem essa questão, mas trazem pistas. Janssen diz que as imagens mostram que as bordas notavelmente paralelas do jato se estreitam em um cone próximo ao buraco negro. A base desse cone permanece larga, diz ele, o que pode sugerir que vem do disco de acreção. “Resta ver”, disse ele.
A nova visão de Centaurus A, galáxia com 55 milhões de vezes a massa do
Sol, lembra seus parentes maiores e menores, o que confirma a ideia de que os
buracos negros são objetos essencialmente simples, definidos apenas por sua
massa, carga e rotação, de modo que aqueles com a massa de uma grande estrela
não deveriam se comportar de maneira diferente de um com a massa de uma
galáxia.
Fonte: Tecmundo.com.br
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