No fim, o sinal não vinha de um alien…
Desvendado o mistério que intrigava astrônomos do mundo todo. Um sinal de rádio gravado por um telescópio australiano em 2019, que parecia vir da Proxima Centauri, a estrela mais próxima ao Sol, não era enviado por alienígenas. “Era uma interferência feita pelo homem a partir de alguma tecnologia, provavelmente instalada na superfície da Terra”, disse a astrônoma Sofia Sheikh, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, e co-autora dos dois artigos publicados na Nature Astronomy.
© M. Kornmesser/ESO/Divulgação Impressão artística mostra o planeta Proxima b orbitando a estrela anã vermelha Proxima Centauri, a estrela mais próxima do sistema solar. A estrela dupla Alpha Centauri AB também aparece na imagem entre o planeta e Proxima Centauri
O barulho foi detectado pelo Breakthrough Listen, projeto de US$ 100 milhões fundado pelos
cientistas Stephen Hawking (1942-2018) e Yuri Milner, dedicado a procurar
comunicações extraterrestres inteligentes. O achado intrigou tanto os
pesquisadores do SETI, uma organização de pesquisa sem fins lucrativos cuja
missão é explorar, entender e explicar a origem e a natureza da vida no
universo, que eles decidiram mobilizar astrônomos em uma busca de sua origem.
Foi a primeira vez que os dados do projeto privado desencadearam uma pesquisa detalhada para estudar futuras detecções. “Para nós, é muito valioso ter esses ensaios”, diz Jason Wright, astrônomo da Universidade Estadual Pennsylvania. “Precisamos desses sinais para que possamos aprender como vamos lidar com eles, provando se são extraterrestres ou de fabricação humana.”
Bips misteriosos
Desde 2016, o Breakthrough Listen usa telescópios ao redor do mundo
para ouvir possíveis transmissões de civilizações alienígenas. O programa
captou milhões de bips de rádio de origem desconhecida, quase todos
classificados como interferências de rádio na Terra, de fontes como torres de
telefones celulares ou radares de aeronaves.
Mas o sinal de 2019 era diferente. Ele foi registrado pelo Parkes Murriyang, um radiotelescópio de 64 metros localizado no sudeste da Austrália. Veio da direção onde está situada a Proxima Centauri, estrela a 4,2 anos-luz de distância, e de grande interesse para os pesquisadores, não só por ser a mais próxima do Sol como também por possuir pelo menos dois planetas pelos quais ela orbita, sendo um dele na distância exata para que exista água líquida na superfície, pré-requisito para a existência de vida. Aliás, já existe uma iniciativa do Breakthrough Listen, chamada de Breakthrough Starshot, que tem como objetivo enviar uma pequena nave espacial a este planeta em busca de formas de vida.
O sinal chamou a atenção pela primeira vez em 2020. Shane Smith, estudante de graduação do Hillsdale College, em Michigan, e estagiário de pesquisa no Breakthrough Listen, analisava dados coletados pelo Parkes ao longo de seis dias em abril e maio do ano anterior quando percebeu que o telescópio fez observações na direção da Proxima Centauri durante 26 horas. Os dados incluíam mais de 4 milhões de sinais de planetas vizinhos à estrela, mas um sinal próximo a 982 megahertz, que parecia se originar da própria estrela chamou sua atenção.
"Fiquei animado ao encontrar um sinal que atendia a todos os critérios que procurava, mas estava cético em relação a ele. Deveria haver uma explicação simples, nunca pensei que causaria tanta excitação", disse Smith, que ao compartilhar a informação com seu supervisor Danny Price, deu início a uma investigação mais profunda. “Meu primeiro pensamento foi se tratar de uma interferência. Ser cético é uma atitude saudável”, contou Price, astrônomo da UC Berkeley e cientista do projeto Breakthrough Listen na Austrália.
“Mas depois de um tempo comecei a pensar que aquele era exatamente o tipo de sinal que estávamos procurando”, acrescenta. O sinal ganhou o nome de BLC1 - "Breakthrough Listen candidate 1", sendo o primeiro a passar em todos os testes iniciais de triagem do programa para descartar fontes óbvias de interferência. “Definitivamente, pensamos 'e se?'”, afirmou Sofia.
Ela, Price e um grande grupo de pesquisadores começaram então a trabalhar em possíveis explicações, de satélites não catalogados a transmissões de espaçonaves planetárias. Na Austrália, a faixa de radiofrequência, em torno de 982 megahertz, é reservada principalmente para aeronaves, mas os cientistas não conseguiram identificar nenhum avião que estivesse na área e pudesse ser responsável por aquele sinal, até porque ele durou cinco horas.
Em novembro de 2020 e em janeiro e abril deste ano, os astrônomos apontaram novamente o telescópio Parkes em direção à Proxima Centauri para ver se conseguiam captar o sinal novamente. Não conseguiram. Foram detectados outros sinais parecidos, mas em frequências diferentes, lançados pela análise automatizada como sendo interferência terrena. Depois, um exame posterior mostrou que o BLC1 e esses sinais "semelhantes" eram todas interferências de uma fonte desconhecida. Os sinais se modulavam e turvavam um ao outro, da mesma forma que um amplificador de guitarra modula e distorce uma nota musical. Por isso, a dificuldade em identificar o BLC1 como interferência.
Origens terrestres
“Como o sinal não reapareceu nas observações de 2020 e 2021, ele pode ter vindo de um equipamento eletrônico com defeito que foi desligado ou consertado”, relatou Sofia. A equipe suspeita que o aparelho estava relativamente perto de Parkes, talvez a algumas centenas de quilômetros. “A frequência do sinal muda de forma consistente com osciladores de cristal de baixo custo, como os comumente usados em computadores, telefones e rádios”, completou Dan Werthimer, astrônomo da SETI e da UC Berkeley, especializado em processamento de sinais.
Agora, Sofia está usando algoritmos para descobrir qual a frequência de transmissão do equipamento que gerou a interferência, o que pode ajudar a rastrear sua origem. O que ainda intriga os pesquisadores é por que o sinal pareceu surgir apenas quando o telescópio foi apontado para Proxima Centauri. Isso poderia ser apenas uma coincidência caso o andamento da interferência imitasse a cadência com que o telescópio estava voltado para a estrela.
Essa interferência de rádio já afligiu outras pesquisas astronômicas, como quando se descobriu que alguns sinais intermitentes captados em Parkes eram resultado de pessoas cozinhando no micro-ondas. Sem contar o famoso sinal “Uau!”, detectado em 1977 por um radiotelescópio em Ohio, que nunca teve sua origem rastreada.
Vale ressaltar, porém, que as buscas por alienígenas se tornaram muito mais sofisticadas desde então. “Muitos grupos presumiram que se tivesse uma detecção que só aparecia quando era apontado para a fonte, era isso. Abra o champanhe e pronto”, disse Sofia. “Mas a medida que a tecnologia mudou, a maneira como examinamos os sinais também se modificou. E esse estudo tão detalhado não havia acontecido até o BLC1”, finalizou.
Fonte: msn.com
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