Buracos de minhoca se tornam possíveis e estáveis — ao menos teoricamente
Se você já leu o que cientistas e físicos teóricos dizem sobre buracos
de minhoca, provavelmente sabe que, normalmente, as equações da Relatividade
Geral de Albert Einsten sugerem que esses “túneis” no espaço-tempo são
instáveis e não duram muito tempo. Mas uma nova abordagem parece mostrar que as
coisas não precisam ser assim, necessariamente. Basta usar as métricas mais
convenientes, por assim dizer.
As hipóteses sobre buracos de minhoca — pontes que permitem ir de um
canto a outro do universo em um piscar de olhos — geralmente dependem da
Relatividade Geral, pois é ela que descreve a influência da gravidade nos
objetos do universo, e no próprio “tecido” do espaço-tempo. Se você colocar um
planeta perto de um buraco negro, por exemplo, com suas devidas massas e
órbitas, a Relatividade Geral dirá o que acontecerá nesse sistema.
Contudo, essas previsões da Relatividade Geral são bastante permissivas
no que diz respeito às abordagens que físicos teóricos podem usar. Por exemplo,
eles podem criar métricas para descrever “coordenadas” matematicamente, e,
dependendo do caso, uma métrica pode ser mais útil que outra. No caso dos
buracos de minhoca, normalmente os teóricos usam a métrica de Schwarzschild,
que não é exatamente famosa por apresentar estabilidade em singularidades de
buracos negros, por exemplo.
A métrica de Schwarzschild ainda é muito importante, porque foi através
dela que muito sobre buracos negros foi descoberto, mas ela se comporta mal a
uma determinada distância do buraco negro — o raio de Schwarzschild, também
conhecido pelo nome mais popular “horizonte de eventos”. Bem, se o buraco de
minhoca teórico é possível através da própria métrica de Schwarzschild, o que a
matemática diz sobre uma partícula que tenta atravessá-lo? O resultado padrão é
que o objeto seria instável e desapareceria antes mesmo que você tivesse uma
chance de pular nele (supondo que você consiga chegar no local, claro).
or outro lado, o físico Pascal Koiran, da Ecole Normale Supérieure de
Lyon, na França, tentou usar a métrica Eddington-Finkelstein para calcular o
que acontece perto de um hipotético buraco de minhoca. Seu artigo mostra que,
nessa abordagem, uma partícula poderia cruzar o horizonte de eventos, entrar no
túnel do buraco de minhoca e escapar pelo outro lado, tudo em um tempo finito.
A métrica Eddington-Finkelstein não se comportou de maneira “maluca”, ou se
“quebrou”, como acontece com a métrica de Schwarzschild.
Antes que alguém se anime, isso não significa que os buracos de
minhoca, se existirem, são estáveis. A Relatividade Geral e suas métricas são
sobre a gravidade, e deixam de fora outras forças da natureza como calor e a
energia. O estudo também não implica que uma métrica é melhor que outra —
apenas se comportam de maneira diferente em um sistema bastante permissivo. Nem
sempre os resultados correspondem à realidade, e sim a possibilidades.
Dito isso, o estudo é interessante por mostrar que outros métodos podem
resultar em buracos de minhoca estáveis, abrindo caminho para estudos de mais possibilidades.
O artigo, aceito para ser publicado em uma próxima edição do Journal of
Modern Physics D, está disponível no arXiv.org.
Fonte: canaltec.com.br
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