Estrela com "hélice" veloz é a anã branca com rotação mais rápida
De acordo com uma equipa de astrónomos liderada pela Universidade de
Warwick, uma anã branca que completa uma rotação a cada 25 segundos é a anã
branca confirmada com rotação mais rápida.
Publicada dia 22 de novembro na revista Monthly Notices of the Royal
Astronomical Society, é apenas a segunda anã branca com hélice magnética a ser
identificada em mais de setenta anos graças a uma combinação de instrumentos
poderosos e sensíveis que permitiram aos cientistas capturar um vislumbre da
estrela veloz.
Uma anã branca é uma estrela que queimou todo o seu combustível e
libertou as suas camadas externas, passando agora por um processo de
encolhimento e arrefecimento ao longo de milhões de anos. A estrela que a
equipa da Universidade de Warwick observou, de nome LAMOST J024048.51+195226.9
- ou J0240+1952 para abreviar, tem o tamanho da Terra, mas pensa-se que seja
pelo menos 200.000 vezes mais massiva. Faz parte de um sistema binário e a sua
imensa gravidade está a puxar material, na forma de plasma, da sua estrela
companheira maior.
No passado, este plasma caía no equador da anã branca a alta
velocidade, fornecendo a energia que deu origem à rotação vertiginosamente
alta. Colocando em contexto, uma rotação do planeta Terra leva 24 horas,
enquanto o equivalente em J0240+1952 é uns meros 25 segundos. Este valor é
quase 20% mais rápido do que a anã branca confirmada com a rotação mais comparável,
que completa uma rotação em pouco mais de 29 segundos.
No entanto, em algum ponto da sua evolução, J0240+1952 desenvolveu um
forte campo magnético. O campo magnético atua como uma barreira protetora,
fazendo com que a maior parte do plasma em queda seja expulso da anã branca. O
restante fluirá em direção aos polos magnéticos da estrela. Este reúne-se em
manchas brilhantes à superfície da estrela e conforme giram para dentro e fora
de vista, da perspetiva da Terra, provocam pulsações na luz que os astrónomos
observam, que então usam para medir a rotação da estrela.
A autora principal, a Dra. Ingrid Pelisoli, do Departamento de Física
da Universidade de Warwick, disse: "J0240+1952 terá completado várias
rotações no curto espaço de tempo que as pessoas levam para ler sobre ela, é
realmente incrível. A rotação é tão alta que a anã branca deve ter uma massa
acima da média para apenas permanecer junta e não se fragmentar.
"Está a puxar material da sua estrela companheira devido ao seu
efeito gravitacional, mas à medida que se aproxima da anã branca, o campo
magnético começa a dominar. Este tipo de gás é altamente condutor e adquire
muita velocidade com este processo, que o impulsiona para longe da estrela e
para o espaço."
J0240+1952 é uma das únicas duas estrelas com este sistema de hélice
magnética descobertas nos últimos setenta anos. Embora o material lançado para
fora da estrela tenha sido observado pela primeira vez em 2020, os astrónomos
não tinham sido capazes de confirmar a presença da alta rotação, que é um
ingrediente principal de uma hélice magnética, pois as pulsações são demasiado
rápidas e fracas para a observação por outros telescópios.
Para visualizar a estrela a essa velocidade pela primeira vez, a equipa
da Universidade de Warwick usou o instrumento altamente sensível HiPERCAM,
operado em conjunto por Warwick e pela Universidade de Sheffield com
financiamento do Conselho Europeu de Investigação. Este foi especialmente
acoplado no maior telescópio ótico do mundo atualmente em funcionamento, o GTC
(Gran Telescopio Canarias) de 10 metros de diâmetro em La Palma, a fim de
capturar o máximo de luz possível.
"Estes tipos de estudos são possíveis graças à combinação única da
capacidade de imagem rápida do HiPERCAM com a maior área de recolha de luz do
mundo, fornecida pelo GTC," disse Antonio Cabrera, chefe de operações
científicas do GTC.
O professor Tom Marsh, coautor do estudo e também do Departamento de
Física da Universidade de Warwick, acrescenta: "É apenas a segunda vez que
encontramos um destes sistemas de hélice magnética, de modo que agora sabemos
que não é uma ocorrência única. Estabelece que o mecanismo de hélice magnética
é uma propriedade genérica que opera nestes binários, caso as circunstâncias
sejam adequadas.
"A segunda descoberta é quase tão importante quanto a primeira, pois desenvolve-se um modelo para a primeira e, com a segunda, podemos testá-lo para ver se funciona. Esta descoberta recente mostrou que o modelo funciona muito bem, previu que a estrela tinha que estar a girar bastante depressa, e de facto está."
Fonte: Astronomia OnLine
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