Astrónomos descobrem sistema de quatro planetas com um processo de migração peculiar
Uma investigação internacional, na qual participa o IAC (Instituto de
Astrofísica de Canarias), descobriu um novo sistema planetário composto por 4
planetas em órbita da estrela TOI-500. Este é o primeiro sistema conhecido por
acolher um análogo terrestre com um período orbital inferior a um dia e 3
planetas adicionais de baixa massa cuja configuração orbital pode ser explicada
através de um cenário de migração não violento e suave. O estudo foi publicado
na revista Nature Astronomy.
O planeta interior, apelidado TOI-500b, é um planeta chamado de período
ultracurto, uma vez que o seu período orbital é de apenas 13 horas. É
considerado um planeta análogo à Terra, ou seja, um planeta rochoso semelhante
à Terra com raio, massa e densidade comparáveis aos do nosso planeta. "Em
contraste com a Terra, porém, a sua proximidade com a estrela torna-o tão
quente (cerca de 1350º C) que a sua superfície é muito provavelmente uma imensa
extensão de lava," diz Luisa Maria Serrano, investigadora do Departamento
de Física da Universidade de Turim e primeira autora do trabalho. O novo
planeta poderia ser um verdadeiro reflexo de como será a Terra no futuro,
quando o Sol se tornar numa gigante vermelha, muito maior e mais brilhante do
que é agora.
TOI-500b foi inicialmente identificado como um candidato a planeta pelo
satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA, um telescópio
espacial concebido para procurar planetas em órbita de estrelas próximas usando
o método de trânsito. Este método mede a diminuta diminuição de brilho de uma
estrela à medida que o planeta atravessa o disco estelar visto pelo telescópio.
TOI-500b foi subsequentemente confirmado graças a uma campanha de observação de
um ano realizada pela Universidade de Turim com o espectrógrafo HARPS no ESO.
A análise dos dados TESS e HARPS forneceu medições precisas da massa,
raio e parâmetros orbitais do planeta de período ultracurto TOI-500b. "As
medições HARPS também nos permitiram detetar 3 planetas adicionais de baixa
massa em órbita de TOI-500 a cada 6,6, 26,2 e 61,3 dias. TOI-500 é um sistema
planetário notável, importante para compreender o destino dinâmico dos
planetas," disse Davide Gandolfi, investigador do Departamento de Física
da Universidade de Turim e coautor do artigo.
A novidade apresentada pelo artigo recentemente publicado reside no
processo de migração que levou o sistema planetário à sua configuração atual.
"É geralmente aceite que os planetas de período ultracurto não se formaram
nas suas órbitas atuais, uma vez que as regiões mais interiores do seu disco
protoplanetário natal têm densidade e temperatura inadequadas para formar
planetas. Devem ter tido origem mais para fora e depois migrado para dentro,
para perto da sua estrela hospedeira," diz Hans J. Deeg, investigador do IAC
que participou no estudo.
Embora não haja consenso sobre o processo de migração, pensa-se que
muitas vezes este ocorra através de um processo violento, envolvendo a
dispersão de planetas, que encolheria e excitaria as órbitas. No seu estudo, os
autores mostram que os planetas que orbitam TOI-500 podem ter estado em órbitas
quase circulares, e depois migraram para dentro, seguindo um chamado processo
de migração secular e quási-estática que durou cerca de 2 mil milhões de anos.
"Este é um padrão calmo de migração, em que os planetas se movem
lentamente para órbitas cada vez mais próximas da sua estrela, sem esbarrarem
uns nos outros e sem saírem das suas órbitas," explica Felipe Murgas,
investigador do IAC e coautor do artigo científico.
"Este artigo demonstra a importância de associar a descoberta de sistemas que hospedam planetas de período ultracurto com simulações numéricas a fim de testar possíveis processos migratórios que os possam ter levado à sua configuração orbital atual," diz Enric Pallé, investigador do IAC e coautor do artigo. "A aquisição de dados através de uma linha de base de longo prazo torna possível revelar a arquitetura interna de sistemas semelhantes a TOI-500 e compreender como os planetas se instalaram nas suas órbitas," conclui.
Fonte: Astronomia OnLine
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