E se pudéssemos entrar em um buraco negro? O que encontraríamos no caminho?

Você já tentou imaginar como é um buraco negro por dentro? Se pudéssemos viajar por alguns milhares de anos-luz até encontrar um deles e, por algum milagre da ciência, fossemos capazes de entrar neles, o que encontraríamos? Embora seja impossível fazer isso sem ser destruído, astrofísicos têm uma boa ideia de como seria a experiência. Vamos então fazer essa viagem hipotética.

 Ilustração da atividade em torno de um buraco negro. Embora a matéria que passou no horizonte de eventos do buraco negro não possa ser vista, o material que gira fora desse limiar é acelerado a milhões de graus e irradia em raios-X (Imagem: CXC / A.Hobart)

Existem muitos tipos de buracos negros - grandes, pequenos, com ou sem cargas elétricas, com rotações rápidas ou sedentários - e, para nossa aventura imaginária, devemos escolher o mais simples possível. Vamos então imaginar um buraco negro gigante sem carga elétrica e sem rotação alguma, mesmo que isso seja um tanto irreal. À distância, o buraco negro não parece nada ameaçador. É apenas um objeto maciço e, dependendo da distância, podemos até mesmo orbitar ao redor dele. Por exemplo, um buraco negro com a mesma massa do Sol atrairá objetos exatamente da mesma forma que o Sol faz com os planetas e outros corpos do Sistema Solar. A diferença é que você não pode ver o buraco negro em si - a singularidade -, apenas será influenciado pela sua gravidade.

A primeira camada a ser ultrapassada nessa aventura é o horizonte de eventos, o que geralmente é chamado de "superfície" do buraco negro. Ele não é um limite físico real, é simplesmente a definição para a distância específica da singularidade de onde nada poderá mais escapar, nem mesmo a luz. Se você entrar nessa região, já está numa viagem sem volta rumo ao seu desaparecimento. 

Mas o fim não chegará instantaneamente, conforme explica o astrofísico da Ohio State University, Paul M. Sutter. Você terá alguns momentos para aproveitar uma experiência que, apesar de curta e fatal, poderia ser fantástica. O tempo para alcançar a singularidade depende da massa do buraco negro. Se for “pequeno” (algumas vezes a massa do Sol), tudo será em um piscar de olhos, mas se você tiver a “sorte” de entrar em um buraco negro pelo menos um milhão de vezes maior que o Sol, você terá algum tempo para ver coisas interessantes. 

Fora do horizonte de eventos do buraco negro, podemos escolher nos mover para uma das direções no espaço - esquerda, direita, para cima, para baixo, e assim por diante. Dentro do horizonte de eventos, esse entendimento se decompõe. Aqui, a singularidade é o único ponto de possibilidade, a única direção que você tem e deve seguir. Você pode virar à esquerda, para cima, não importa - a singularidade sempre permanece na sua frente. E você a atingirá logo.

Ao seguir em direção à singularidade, você não estará cercado pela escuridão. A luz do universo ao redor também está indo para lá com você. Devido à extrema gravidade, essa luz é deslocada para frequências mais altas e, com a dilatação do tempo, o universo externo parece acelerado, mas ainda está lá. Como toda a massa do buraco negro está concentrada em um ponto infinitamente pequeno, as diferenças de gravidade são extremas. Você será esticado da cabeça aos pés em um processo chamado de “espaguetificação”.

Você também será espremido ao longo de sua barriga, com uma força que também é exercida nos raios de luz ao seu redor, concentrando a luz em uma faixa brilhante em torno de sua cintura. 

Sua visão da singularidade também será distorcida - quer dizer, você não poderá vê-la exatamente, porque ela está no seu futuro e só podemos conhecer o futuro quando chegarmos lá. Mas as enormes diferenças gravitacionais se estendem rumo a ela envolvendo a maior parte de sua visão. Ao se aproximar da singularidade, parecerá que você está pousando na superfície de um planeta vasto e negro, vazio.

Quando a singularidade surgir completamente pelo horizonte, você terá chegado ao seu destino. E o que você encontrará ali? Não sabemos. Seria bom se uma sonda pudesse nos dizer, mas nada escapa de um buraco negro, incluindo a sonda e todos os seus dados. 

No entanto, segundo o físico britânico Freeman Dyson, sua percepção de tempo e espaço seria completamente diferente da percepção de alguém que porventura estivesse assistindo sua trágica jornada. Enquanto você seguiria rumo à singularidade, sem qualquer desaceleração, o observador externo veria você caindo indefinidamente sem jamais tocar o fundo. 

Fonte: canaltech.com.br

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