Conheça 3 nebulosas e entenda a importância desses objetos celestes

Na coluna “Mulheres das Estrelas”, as astrônomas Ana Posses, Duilia de Mello e Geisa Ponte destacam algumas das nebulosas mais intrigantes para a astronomia

Nebulosa da Hélice (Foto: NASA/ESA)

As estrelas nascem em nebulosas e, ao morrerem, podem virar nebulosas. Como assim? Calma, é meio confuso mesmo. E já foi mais ainda, quando até as galáxias eram chamadas por esse termo. Para que você entenda o que são esses objetos, cada uma de nós destaca a seguir uma nebulosa que representa estágios diferentes da vida de estrelas. E no final, vamos ver se você também vai achar que não existe nada mais bonito do que uma nebulosa, com todas as suas cores e mistérios.

1.Nebulosa da Hélice

Selecionada pela Ana, essa nebulosa parece um grande olho, principalmente se vista no infravermelho (veja acima). Quando a observamos, ela parece nos espiar de volta, daí porque é popularmente conhecida como “Olho de Deus”.

Mas a verdade é que não há nenhum planeta ali: nebulosas planetárias são um daqueles nomes da astronomia que geram bastante confusão, e isso aconteceu porque quem as descobriu se confundiu também.

Em 1764, o famoso astrônomo francês Charles Messier documentou pela primeira vez a Nebulosa do Haltere em seu catálogo, muito utilizado até hoje pelos astrônomos. A resolução dos telescópios da época era bem limitada, o que tornava o formato arredondado da nebulosa muito similar ao de um planeta com bastante gás em volta. Não sabemos quem cunhou inicialmente o termo, mas ele aparece diversas vezes nas anotações do astrônomo inglês William Herschel, o descobridor de Urano, no final do século 18.

Hoje sabemos que uma nebulosa planetária é o estágio final de estrelas com massa similar à do Sol ou até oito vezes mais massivas. No fim da vida desses astros, eles expelem as camadas mais externas, e é esse show de cores que vemos na nebulosa da Hélice.

No centro dela há um pontinho remanescente da estrela. Esse é um núcleo muito compacto que chamamos de anã branca, que pode chegar a temperaturas 4 mil vezes superiores que a do Sol. É sua luz que ilumina essas camadas mais externas e as fazem emitir luz também.

A nebulosa da Hélice está a aproximadamente 700 anos-luz da Terra. Ela foi a primeira onde se descobriu pequenos nódulos semelhantes a cometas. No total, conseguimos contar aproximadamente 40 mil nódulos na nebulosa da Hélice, que são em geral do tamanho do nosso Sistema Solar.

2.Nebulosa Carina

A escolha da Duilia se deve ao fato de que, além do show de cores, essa nebulosa tem de tudo: estrela “bebezinha”, estrela morrendo, pilares gasosos, ventania estelar, jatos… E é também na Carina onde encontramos uma das estrelas mais interessantes da redondeza, a Eta Carina.  

Tudo indica que essa estrela é, na verdade, uma estrela binária que está dentro de uma nuvem de gás causada por miniexplosões que uma das estrelas sofreu. A Eta Carina é 5 milhões de vezes mais brilhante que o Sol e está a 7.500 anos-luz daqui. A previsão é que ela explodirá como uma supernova e fará um espetáculo no céu, só não sabemos exatamente quando.

Na nebulosa temos também WR 25, um outro sistema binário em que uma das estrelas é enorme e está passando por uma fase que chamamos de Wolf-Rayet, em homenagem aos astrônomos Charles Wolf e Georges Rayet, descobridores desse tipo de estrela. As WRs emanam um vento estelar intenso e são importantes para o enriquecimento químico do meio interestelar.

É na Carina que se encontra ainda um glóbulo famoso, apelidado de Dedo Desafiador. Esse tipo de objeto celeste é chamado de glóbulo de Bok, em homenagem ao astrônomo holandês Bart Bok, que fez a descoberta em 1940. São esses glóbulos que depois viram estrelas.

Outro lugar fantástico na nebulosa Carina é a chamada Montanha Mística. São pilares de poeira e gás que contêm a matéria-prima das estrelas. Lá tem algumas estrelas jovenzinhas que estão emitindo jatos lindos e são conhecidas como objetos do tipo Herbig-Haro, em referência aos astrônomos George Herbig e Guillermo Haro.

E para completar o show de maravilhas, essa nebulosa tem vários aglomerados estelares, como o Tumpler 14, um aglomerado de 2 mil estrelas jovens que parece uma porção de diamantes no espaço.

3.Nebulosa de Órion

A nebulosa de Órion (M42, número 42 do catálogo de Messier) é a favorita da Geisa porque a encanta em diversos aspectos: ela é a região de formação estelar mais próximas de nós, a “apenas” 1.300 anos-luz, além de estar no meio de umas das constelações mais conhecidas, que leva o mesmo nome.

O fato dela poder ser vista a olho nu, caso você esteja num lugar com pouca (ou nenhuma) poluição luminosa, fez dela um alvo recorrente de admiração desde a antiguidade, quando lendas contavam sobre batalhas travadas no céu. A nebulosa representaria a espada de Órion, logo abaixo do seu cinturão (as Três Marias) quando ele lutava contra um escorpião (a constelação), com o auxílio de seus dois cães fiéis (Cão Maior e Cão Menor).

Ainda hoje, ela é uma das regiões mais fotografadas no céu, pela proximidade e tamanho. Não à toa, rende lindíssimas astrofotografias, seja com telescópios amadores que podemos ter no nosso quintal, seja com telescópios espaciais especializados e com acesso super-restrito, como o Hubble.

Mas o mais interessante nela nem é só a beleza, e sim o fato de ser um verdadeiro laboratório estelar. Podemos observar em alta resolução sua estrutura, estudar sua composição química, movimentos dos gases e poeiras, existência de campos magnéticos e o nascimento de novas estrelas.

Vemos também no seu interior centenas de estrelas em várias fases da vida, principalmente as mais jovenzinhas e até mesmo as que ainda são bebês, envoltas num disco de detritos que possivelmente formará planetas que ali orbitarão.

Fonte: Galileu

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