Observando pulsares cintilantes para compreender o misterioso plasma interestelar
Impressão de artista de um pulsar. Crédito: Carl Knox, OzGrav - Universidade de Swinburne
Os pulsares - remanescentes
estelares com rápida rotação e que piscam como um farol - ocasionalmente
mostram variações extremas de luminosidade. Os cientistas preveem que estas
pequenas explosões de brilho acontecem porque regiões densas de plasma interestelar
(o gás quente entre as estrelas) espalham as ondas de rádio emitidas pelo
pulsar. No entanto, ainda não sabemos de onde vêm as fontes de energia
necessárias para formar e sustentar estas densas regiões de plasma.
Para melhor compreender estas
formações interestelares, precisamos de observações mais detalhadas da sua
estrutura em pequena escala e uma via promissora para isso está no cintilar dos
pulsares.
Quando as ondas de rádio de
um pulsar são dispersas pelo plasma interestelar, as ondas separadas interferem
e criam um padrão de interferência na Terra. À medida que a Terra, o pulsar e o
plasma se movem uns em relação uns aos outros, este padrão é observado como
variações de brilho no tempo e na frequência: o espectro dinâmico. Graças à
natureza pontual dos sinais dos pulsares, a dispersão e a cintilação ocorrem em
pequenas regiões do plasma.
Após o processamento
especializado dos sinais do espectro dinâmico, podemos observar características
parabólicas impressionantes conhecidas como arcos de cintilação que estão
relacionadas com a imagem da radiação espalhada do pulsar no céu.
Um pulsar em particular,
chamado J1603-7202, passou por uma dispersão extrema em 2006, tornando-o um
alvo excitante para a análise destas densas regiões de plasma. No entanto, a
trajetória do pulsar ainda não foi determinada, pois orbita outra estrela
compacta chamada anã branca numa órbita que é vista de face, em relação ao
ponto de vista da Terra, e os cientistas não têm métodos alternativos para a
medir nesta situação.
Felizmente, os arcos de
cintilação servem um duplo propósito: as suas curvaturas estão relacionadas com
a velocidade do pulsar, assim como a distância ao pulsar e ao plasma. A forma
como a velocidade do pulsar muda à medida que orbita depende da orientação da órbita
no espaço. Portanto, no caso do pulsar J1603-7202, os cientistas calcularam as
alterações na curvatura dos arcos ao longo do tempo a fim de a fim de
determinar a orientação.
As medições obtidas para a órbita de J1603-7202 são uma melhoria significativa em comparação com análises anteriores. Isto demonstra a viabilidade da cintilação em complementar métodos alternativos. Os astrónomos mediram a distância ao plasma e mostraram que era cerca de três-quartos da distância ao pulsar, visto da Terra.
Isto não parece
coincidir com as posições de quaisquer estrelas ou nuvens interestelares de gás
conhecidas. Os estudos de cintilação pulsar exploram frequentemente estruturas
como esta, que de outra forma seriam invisíveis. A questão permanece, portanto,
em aberto: qual é a fonte do plasma que dispersa a radiação do pulsar?
Finalmente, usando a sua
medição orbital, foram capazes de estimar a massa da companheira orbital de
J1603-7202, que é de cerca de metade da massa do Sol. Quando considerada
juntamente com a órbita altamente circular de J1603-7202, isto implica que a
companheira é provavelmente um remanescente estelar composto de carbono e
oxigénio - um achado mais raro em torno de um pulsar do que os remanescentes
mais comuns à base do hélio.
Dado que agora os cientistas
possuem um modelo quase completo da órbita, é agora possível transformar as
observações de cintilação de J1603-7202 em imagens dispersas no céu e mapear o
plasma interestelar à escala do Sistema Solar. A criação de imagens das
estruturas físicas que causam a dispersão extrema das ondas de rádio pode
dar-nos uma melhor compreensão de como se formam regiões tão densas e do papel
que o plasma interestelar desempenha na evolução das galáxias.
Fonte: ccvalg.pt
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