Galáxias observadas por James Webb disputam o título de mais antiga do universo – mas existem impostoras no caminho
Desde que o primeiro lote de dados científicos do Telescópio Espacial
James Webb (JWST) foi revelado, os astrônomos têm descoberto cada vez mais
candidatas ao posto de galáxia mais distante já registrada. E quanto mais
distante uma galáxia está localizada, mais perto do início do universo os
cientistas estão enxergando.
Nas observações de Webb, a luminescência dessas galáxias esticada pela
expansão do universo, resultando em luzes azuis e ultravioletas de estrelas
jovens quentes, aparece como feixe infravermelho depois de viajar por mais de
13,5 bilhões de anos pelo espaço.
É por isso que os cientistas precisam das capacidades infravermelhas
sem precedentes do observatório orbital para vê-las. Os astrônomos chamam esse
efeito de “desvio vermelho”, que quanto maior é, mais distante está a galáxia
e, consequentemente, mais cedo na história do universo eles estão avistando.
Galáxia CEERS-DSFG-1, observada pelo Telescópio Espacial James Webb, estaria a apenas 220 milhões de anos após o Big Bang, o que a coloca na disputa pelo posto de mais antiga do universo. No entanto, ela pode ser uma impostora. Imagem: J. Zavala et al.
De acordo com um artigo publicado no início do mês no servidor de
pré-impressão arxiv, já revisado por pares e aceito pelo pela revista científica
The Astrophysical Journal, pelo menos duas dessas galáxias, porém, são
“impostoras”.
Segundo a pesquisa, liderada pelo cientista Jorge Zavala, professor
assistente de projeto do Observatório Astronômico Nacional do Japão, foi
determinado um desvio vermelho de 17 a 18 para a galáxia CEERS-DSFG-1, o que a
posiciona a apenas 220 milhões de anos após o Big Bang e a mantém no páreo.
No entanto, a equipe de Zavala, usando o telescópio submilimétrico
NOEMA (sigla em inglês para Matriz Milimétrica Estendida do Norte) na França,
descobriu que essa galáxia contém enormes quantidades de poeira.
A poeira absorve comprimentos de onda mais curtos e azuis da luz
estelar, permitindo que comprimentos de onda mais longos e mais vermelhos
passem, o que significa que uma galáxia empoeirada pode imitar a vermelhidão de
uma galáxia longínqua.
Levando isso em conta, a equipe calculou um desvio vermelho de apenas 5
para CEERS-DSFG-1, colocando-a cerca de 12,5 bilhões de anos atrás, o que
representa 1,3 bilhões de anos após o Big Bang – ainda antiga e distante, mas
não o suficiente para ser candidata a recordista.
A poeira interestelar é um subproduto do ciclo de nascimento e morte
das estrelas. Para produzir poeira suficiente para avermelhar razoavelmente sua
luz, a galáxia CEERS-DSFG-1 deve estar produzindo estrelas a uma taxa de 150
massas solares por ano, o que é 50 vezes maior do que a taxa em que as estrelas
estão se formando atualmente na Via Láctea.
Outra galáxia que pode ser uma impostora na disputa pelo título de mais distante já observada é a CEERS-1749. No diagrama acima, ela tem dados revisados por um novo estudo. Imagem: R. Naidu et al.
De acordo com modelos computacionais e estudos anteriores, galáxias com
tanta poeira poderiam ter existido 1,3 bilhões de anos após o Big Bang, mas
teriam sido relativamente raras.
No entanto, segundo as observações de Zavala, pode ser que tais
galáxias sejam mais comuns do que se pensava. Sua equipe também acompanhou mais
duas galáxias com fortes desvios vermelhos: a Galáxia de Maisie, com um desvio
vermelho de 14.3, colocando-a 280 milhões de anos após o Big Bang, e a
CEERS-1749, uma galáxia com um desvio vermelho de 16.7, a apenas 250 milhões de
anos após o nascimento do universo.
Suas observações da Galáxia de Maisie não encontraram nenhuma evidência
de grandes quantidades de poeira. “Podemos descartar que a Galáxia de Maisie é
uma galáxia empoeirada brilhante no menor desvio vermelho, o que,
indiretamente, suporta a ideia de que esta galáxia está de fato em um desvio
vermelho muito alto”, disse Zavala.
Sobre a CEERS-1749, no entanto, pairam dúvidas. “Encontramos um cenário alternativo para explicar suas cores nas observações do JWST”, disse o cientista, acrescentando que, em vez de estar no desvio vermelho de 16.7, ela estaria no desvio vermelho 5.
Fonte: Olhar Digital
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