Voyager, a mais longa missão da NASA, está a celebrar 45 anos
As sondas gémeas Voyager da NASA tornaram-se, de certa forma, cápsulas
do tempo: cada uma delas transporta um leitor de cartuchos de oito pistas para
gravação de dados, têm cerca de 3 milhões de vezes menos memória que os
telemóveis modernos e transmitem dados cerca de 38.000 vezes mais devagar do
que uma ligação 5G.
No entanto, as Voyagers permanecem na vanguarda da exploração espacial.
Geridas e operadas pelo JPL da NASA no sul do estado norte-americano da
Califórnia, são as únicas sondas a explorar o espaço interestelar - o oceano
galáctico através do qual o nosso Sol e os seus planetas viajam.
O Sol e os planetas residem na heliosfera, uma bolha protetora criada
pelo campo magnético do Sol e pelo fluxo exterior do vento solar (partículas
carregadas do Sol). Os investigadores - alguns deles mais jovens do que as duas
naves espaciais distantes - estão a combinar as observações da Voyager com
dados de missões mais recentes para obter uma imagem mais completa do nosso Sol
e de como a heliosfera interage com o espaço interestelar.
A Voyager 1 e a Voyager 2 fizeram muitos feitos desde o seu lançamento em 1977. Este infográfico destaca os principais marcos da missão, incluindo a visita aos quatro planetas exteriores e a saída da heliosfera, ou a bolha protetora de campos magnéticos e partículas criadas pelo Sol. Crédito: NASA/JPL-Caltech
"A frota de missões heliofísicas fornece conhecimentos inestimáveis
sobre o nosso Sol, desde a compreensão da coroa ou da parte mais exterior da
atmosfera do Sol, até ao estudo dos impactos do Sol por todo o Sistema Solar,
incluindo aqui na Terra, na nossa atmosfera e no espaço interestelar",
disse Nicola Fox, diretor da Divisão de Heliofísica na sede da NASA em
Washington. "Nos últimos 45 anos, as missões Voyager têm sido parte
integrante no fornecimento deste conhecimento e têm ajudado a mudar a nossa
compreensão do Sol e da sua influência de formas que nenhuma outra nave
espacial pode".
As Voyagers são também embaixadoras, cada uma transportando um disco
dourado que contém imagens de vida na Terra, diagramas de princípios
científicos básicos e áudio que inclui sons da natureza, saudações em várias
línguas e música. Os discos revestidos a ouro servem como uma "mensagem
cósmica numa garrafa" para qualquer civilização que possa encontrar as
sondas espaciais. Ao ritmo que o ouro decai no espaço e é corroído pela
radiação cósmica, os discos durarão mais de mil milhões de anos.
Para lá das expetativas
A Voyager 2 foi lançada no dia 20 de agosto de 1977, rapidamente
seguida pela Voyager 1 no dia 5 de setembro. Ambas as sondas viajaram até
Júpiter e Saturno, com a Voyager 1 a mover-se mais depressa e a alcançá-los
primeiro. Juntas, as sondas revelaram muito sobre os dois maiores planetas do
Sistema Solar e suas luas. A Voyager 2 também se tornou a primeira e única nave
espacial a passar perto de Úrano (em 1986) e de Neptuno (em 1989), fornecendo à
humanidade vistas notáveis destes mundos distantes - e mais informações sobre
eles.
Enquanto a Voyager 2 realizava estes "flybys", a Voyager 1
dirigia-se para a fronteira da heliosfera. Ao dela sair em 2012, a Voyager 1
descobriu que a heliosfera bloqueia 70% dos raios cósmicos, ou partículas
energéticas criadas por estrelas em explosão. A Voyager 2, após completar as
suas explorações planetárias, continuou até à fronteira da heliosfera, saindo
em 2018. Os dados combinados desta região, pelas sondas gémeas, desafiaram as
teorias anteriores sobre a forma exata da heliosfera.
"Hoje, à medida que ambas as Voyagers exploram o espaço
interestelar, estão a fornecer à humanidade observações de um território
desconhecido", disse Linda Spilker, cientista adjunta do projeto Voyager
no JPL. "Esta é a primeira vez que conseguimos estudar diretamente como
uma estrela, o nosso Sol, interage com as partículas e campos magnéticos fora
da nossa heliosfera, ajudando os cientistas a compreender a vizinhança local
entre as estrelas, derrotando algumas das teorias sobre esta região e fornecendo
informações chave para missões futuras".
A longa viagem
Ao longo dos anos, a equipa Voyager habituou-se a superar os desafios
que surgem com a operação de naves espaciais tão maduras, apelando por vezes à
perícia de colegas reformados ou estudando documentos escritos há décadas
atrás.
Cada Voyager é alimentada por um gerador termoelétrico de radioisótopos
contendo plutónio, que emite calor que é convertido em eletricidade. À medida
que o plutónio decai, a produção de calor diminui e as Voyagers perdem
eletricidade. Para compensar, a equipa desligou todos os sistemas não
essenciais e alguns outrora considerados essenciais, incluindo aquecedores que
protegem os instrumentos ainda em funcionamento contra as temperaturas geladas
do espaço. Todos os cinco instrumentos que tiveram os seus aquecedores
desligados desde 2019 ainda estão a trabalhar, apesar de estarem bem abaixo das
temperaturas mais baixas a que alguma vez foram testados.
Recentemente, a Voyager 1 começou a ter um problema que fez com que a
informação sobre o estado de um dos seus sistemas a bordo se tornasse confusa.
Apesar disso, o sistema e a nave espacial continuam a funcionar normalmente,
sugerindo que o problema está na produção dos dados de estado, não no sistema
em si. A sonda continua a enviar observações científicas enquanto a equipa de
engenharia tenta resolver o problema ou encontrar uma forma de o contornar.
"As Voyagers continuaram a fazer descobertas surpreendentes,
inspirando uma nova geração de cientistas e engenheiros", disse Suzanne
Dodd, gestora do projeto Voyager no JPL. "Não sabemos quanto tempo a
missão vai ainda durar, mas podemos ter a certeza de que as naves espaciais vão
proporcionar ainda mais surpresas científicas à medida que se afastam cada vez
mais da Terra".
Fonte: Astronomia OnLine
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