Astrónomos observam a luz intra-grupo - o brilho elusivo entre galáxias distantes
Uma equipe internacional de astrónomos direcionou uma nova técnica para a ténue luz entre galáxias - conhecida como "luz intra-grupo" - para caracterizar as estrelas que aí habitam.
A luz "entre" galáxias - a luz intra-grupo -, por mais ténue que seja, é irradiada por estrelas despojadas da sua galáxia natal.
A
Dra. Christina Martínez-Lombilla, autora do estudo publicado na revista Monthly
Notices of the Royal Astronomical Society, da Escola de Física da Universidade
de Nova Gales do Sul, disse: "Não sabemos quase nada sobre a luz
intra-grupo".
"As
partes mais brilhantes da luz intra-grupo são cerca de 50 vezes mais fracas do
que o céu noturno mais escuro da Terra". É extremamente difícil de
detetar, mesmo com os maiores telescópios da Terra - ou no espaço".
Usando
a sua técnica sensível, que elimina toda a luz de todos os objetos exceto da
luz intra-grupo, os investigadores não só detetaram a luz intra-grupo, como
foram capazes de estudar e contar a história das estrelas que a povoam.
"Analisámos
as propriedades das estrelas intra-grupo - aquelas estrelas que vagueiam entre
as galáxias. Analisámos a idade e abundância dos elementos que as compunham e
depois comparámos essas características com as estrelas que ainda pertencem a
grupos de galáxias", comentou a Dra. Martínez-Lombilla. "Descobrimos
que a luz intra-grupo é mais jovem e menos rica em metal do que as galáxias
circundantes".
Reconstruindo a história da luz intra-grupo
Não
só as estrelas órfãs no grupo intra-luz eram "anacrónicas", com
pareciam ser de uma origem diferente das suas vizinhas mais próximas. Os
investigadores descobriram que o caráter das estrelas intra-grupo parecia
semelhante ao da "cauda" nebulosa de uma galáxia mais distante.
A
combinação destas pistas permitiu aos investigadores reconstruir a história da
luz intra-grupo e de como as suas estrelas vieram a estar reunidas no seu
próprio "orfanato" estelar.
"Pensamos
que estas estrelas individuais se tornaram, em algum ponto, órfãs das suas
galáxias natais e agora flutuam livremente, seguindo a gravidade do
grupo", explicou a Dra. Martínez-Lombilla. "O despojamento, chamado
de despojamento de marés, é provocado pela passagem de enormes galáxias
satélite - parecidas à Via Láctea - que puxam as estrelas na sua esteira".
Esta é a primeira vez que a luz intra-grupo destas galáxias é observada.
"A
revelação da quantidade e origem da luz intra-grupo fornece um registo fóssil
de todas as interações que um grupo de galáxias sofreu e uma visão holística da
história de interações do sistema", disse a Dra. Martínez-Lombilla.
"Além disso, estes eventos ocorreram há muito tempo. As galáxias [que
estamos a observar] estão tão distantes, que estamos a observá-las como eram há
2,5 mil milhões de anos. É esse o tempo que leva para que a sua luz nos
alcance".
Ao
observar eventos de há muito tempo atrás, em galáxias tão distantes, os
investigadores estão a contribuir com dados vitais para a evolução lenta dos
eventos cósmicos.
Processo de tratamento de imagem feito à medida
Os
investigadores foram pioneiros numa técnica única para conseguir esta visão
penetrante. "Desenvolvemos um processo de tratamento de imagem feito à
medida que nos permite analisar as estruturas mais fracas do Universo",
disse a Dra. Martínez-Lombilla.
"Segue
os passos padrão do estudo de estruturas fracas em imagens astronómicas - o que
implica a modelação 2D e a remoção de toda a luz, exceto da proveniente do
intra-grupo. Isto inclui todas as estrelas brilhantes nas imagens, das galáxias
que ocultam a luz intra-grupo e uma subtração da emissão contínua do céu.
"O
que torna a nossa técnica diferente é que é totalmente baseada em Python, pelo
que é muito modular e facilmente aplicável a diferentes conjuntos de dados de
diferentes telescópios, em vez de ser apenas útil para estas imagens. O
resultado mais importante é que ao estudar estruturas muito ténues em torno de
galáxias, cada etapa do processo conta e cada luz indesejável deve ser
contabilizada e removida. Caso contrário, as suas medições estarão
erradas."
As
técnicas apresentadas neste estudo são piloto, encorajando futuras análises da
luz intra-grupo, realça a Dra. Martínez-Lombilla.
"O
nosso principal objetivo a longo prazo é alargar estes resultados a uma grande
amostra de grupos de galáxias. Depois podemos olhar para as estatísticas e
descobrir as propriedades típicas relativas à formação e evolução da luz
intra-grupo e destes sistemas extremamente comuns de grupos de galáxias. Este é
um trabalho fundamental para a preparação da próxima geração de levantamentos
de todo o céu profundo, tais como os que vão ser realizados pelo telescópio
espacial Euclid e o LSST (Large Synoptic Survey Telescope) com o Observatório
Vera C. Rubin."
Fonte:
Astronomia OnLine
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