Galáxia minúscula fornece um vislumbre para o passado
Ao espreitarem por detrás do brilho de uma estrela brilhante em primeiro plano, os astrónomos descobriram o exemplo mais extraordinário até agora de uma galáxia vizinha com características que se assemelham mais a galáxias no Universo distante e primitivo.
O Telescópio Espacial Hubble da NASA obteve uma imagem detalhada da pequena galáxia HIPASS J1131-31, apelidada de "Galáxia Peekaboo", apesar da sua proximidade com uma estrela brilhante em primeiro plano. Crédito: NASA, ESA e Igor Karachentsev (SAO RAS); processamento da Imagem - Alyssa Pagan (STScI)Com apenas 1200 anos-luz de diâmetro, a
pequena galáxia HIPASS J1131–31 foi apelidada de "Peekaboo" devido ao
seu aparecimento nos últimos 50-100 por detrás da estrela que se movia
rapidamente e que obscurecia a sua detecção. A descoberta é um esforço combinado de
telescópios no solo e no espaço, incluindo a confirmação pelo Telescópio
Espacial Hubble da NASA. Juntos, a investigação mostra evidências tentadoras de
que a Galáxia Peekaboo é o exemplo mais próximo dos processos de formação
galáctica que geralmente tiveram lugar pouco depois do Big Bang, há 13,8 mil
milhões de anos.
"Descobrir a Galáxia Peekaboo é como
descobrir uma janela direta para o passado, permitindo-nos estudar o seu
ambiente extremo e as suas estrelas a um nível de detalhe inacessível no Universo
distante e primitivo", disse o astrónomo Gagandeep Anand do STScI (Space
Telescope Science Institute) em Baltimore, no estado norte-americano de
Maryland, coautor do novo estudo sobre as propriedades intrigantes de Peekaboo.
Os astrónomos descrevem galáxias como Peekaboo como "extremamente pobres em metais" (em inglês "extremely metal-poor", ou XMP). Na astronomia, "metais" são todos os elementos mais pesados do que o hidrogénio e o hélio. O Universo primitivo era quase inteiramente constituído por hidrogénio e hélio primordiais, elementos forjados no Big Bang.
Os elementos mais pesados foram produzidos pelas estrelas ao longo da história cósmica, dando origem ao Universo geralmente rico em metais em que os humanos se encontram hoje em dia. A vida tal como a conhecemos é feita de "blocos de construção" mais pesados como o carbono, oxigénio, ferro e cálcio. Enquanto as primeiras galáxias do Universo eram extremamente pobres em metais por defeito, galáxias igualmente pobres em metais também têm sido encontradas no Universo local.
Peekaboo chamou a atenção
dos astrónomos porque não só é uma galáxia XMP sem uma população estelar
substancialmente mais velha como, a apenas 20 milhões de anos-luz da Terra,
está localizada a pelo menos metade da distância das jovens galáxias XMP
anteriormente conhecidas.
Peekaboo foi detetada pela primeira vez como uma região de hidrogénio frio há mais de 20 anos com o radiotelescópio Murriyang do Observatório Parkes, na Austrália, durante o levantamento HIPASS (HI Parkes All Sky Survey), pela professora Bärbel Koribalski, astrónoma da agência científica nacional CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation) da Austrália e coautora do último estudo de investigação sobre a metalicidade de Peekaboo.
Observações no ultravioleta distante, pela
missão espacial GALEX (Galaxy Evolution Explorer) da NASA, mostraram que se
tratava de uma galáxia anã azul e compacta.
"Ao início não nos apercebemos de quão
especial era esta pequena galáxia", disse Koribalski acerca de Peekaboo.
"Agora, com dados combinados do Telescópio Espacial Hubble, do SALT
(Southern African Large Telescope) e outros, sabemos que a Galáxia Peekaboo é
uma das galáxias mais pobres em metais alguma vez detectadas".
O Telescópio Espacial Hubble da NASA foi capaz de resolver cerca de 60 estrelas na minúscula galáxia e quase todas elas parecem ter alguns milhares de milhões de anos ou menos. As medições da metalicidade de Peekaboo, pelo SALT, completaram a imagem. Juntas, estas descobertas sublinham a grande diferença entre Peekaboo e outras galáxias no Universo local, que têm tipicamente estrelas antigas com muitos milhares de milhões de anos.
As estrelas de Peekaboo indicam que é uma das galáxias mais
jovens e menos enriquecidas quimicamente jamais detectadas no Universo local.
Isto é muito invulgar, uma vez que o Universo local teve cerca de 13 mil
milhões de anos de história cósmica para se desenvolver.
No entanto, este retrato ainda é
superficial, diz Anand, uma vez que as observações Hubble foram feitas como
parte de um levantamento por via de "instantâneos", chamado
"Every Known Nearby Galaxy Survey" - um esforço para obter dados
Hubble do maior número possível de galáxias vizinhas. A equipa de investigação
planeia utilizar o Hubble o Telescópio Espacial James Webb para continuar a
estudar Peekaboo, para aprender mais sobre as suas populações estelares e sobre
a sua composição metálica.
"Devido à proximidade de Peekaboo,
podemos realizar observações detalhadas, abrindo possibilidades de ver um ambiente
que se assemelha ao Universo primitivo com um detalhe sem precedentes",
disse Anand.
Os resultados foram aceitos para publicação
na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Fonte: Space Telescope Science Institute
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!