Hubble descobre que luz fantasmagórica entre galáxias estende-se muito para trás no tempo
Em enxames gigantescos com centenas ou milhares de galáxias, inúmeras estrelas vagueiam entre as galáxias como almas perdidas, emitindo uma névoa fantasmagórica de luz. Estas estrelas não estão gravitacionalmente ligadas a nenhuma galáxia num enxame.
A
questão que se coloca aos astrónomos tem sido: como é que as estrelas se
espalharam tanto pelo enxame em primeiro lugar? Várias teorias concorrentes
incluem a possibilidade de as estrelas terem sido retiradas das galáxias de um
enxame, ou de terem sido atiradas para fora após fusões de galáxias, ou de
terem estado presentes nos primeiros anos de formação de um enxame, há muitos
milhares de milhões de anos atrás.
Um
levantamento infravermelho recente pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA, que
procurava esta chamada "luz intraenxame", lança nova luz sobre o
mistério. As novas observações do Hubble sugerem que estas estrelas já vagueiam
há milhares de milhões de anos e que não são um produto de uma atividade
dinâmica mais recente dentro de um enxame galáctico, atividade esta que as
retiraria das galáxias normais.
O
levantamento incluiu 10 enxames de galáxias tão distantes quanto quase 10 mil
milhões de anos-luz. Estas medições têm que ser feitas a partir do espaço
porque a fraca luz intraenxame é 10.000 vezes mais fraca do que o céu noturno,
visto do solo.
O
levantamento revela que a fração da luz intraenxame em relação à luz total no
enxame permanece constante, olhando para trás no tempo há milhares de milhões
de anos. "Isto significa que estas estrelas já não tinham abrigo nas fases
iniciais da formação do enxame", disse James Jee da Universidade Yonsei em
Seul, Coreia do Sul. Os seus resultados foram publicados na edição de 5 de
janeiro da revista Nature.
As
estrelas podem ser espalhadas para fora do seu local de nascimento galáctico
quando uma galáxia se move através de material gasoso no espaço entre galáxias,
à medida que orbita o centro do enxame. No processo, a resistência empurra gás
e poeira para fora da galáxia. Contudo, com base no novo levantamento do
Hubble, Jee descarta este mecanismo como a causa primária da produção de
estrelas intraenxame. Isto porque a fração de luz intraenxame iria aumentar ao
longo do tempo até ao presente caso o despojamento fosse o principal
responsável. Mas não é esse o caso nos novos dados do Hubble, que mostram uma
fração constante ao longo de milhares de milhões de anos.
"Não
sabemos exatamente o que as tornou sem-abrigo. As teorias atuais não conseguem
explicar os nossos resultados, mas de alguma forma foram produzidas em grandes
quantidades no Universo inicial", disse Jee. "Nos seus primeiros anos
de formação, as galáxias podem ter sido bastante pequenas e ter 'sangrado' estrelas
com bastante facilidade devido a um domínio gravitacional mais fraco".
"Se
descobrirmos a origem das estrelas intraenxame, isso ajudar-nos-á a compreender
a história da 'montagem' de todo um enxame de galáxias, e elas podem servir
como rastreadores visíveis da matéria escura que envolve o enxame", disse
Hyungjin Joo da Universidade Yonsei, primeiro autor do artigo. A matéria escura
é o andaime invisível do Universo, que mantém galáxias e enxames de galáxias
juntas.
Se
as estrelas errantes fossem produzidas através de um jogo de pinball entre
galáxias, comparativamente mais recente, não teriam tido tempo suficiente para
se dispersarem por todo o campo gravitacional do enxame e, por conseguinte, não
rastreariam a distribuição da matéria escura do enxame. Mas se as estrelas
nasceram nos primeiros anos do enxame, terão sido completamente dispersas por
todo o enxame. Isto permitiria com que os astrónomos utilizassem as estrelas
sem-abrigo para mapear a distribuição da matéria escura em todo o enxame.
Esta
técnica é nova e complementar ao método tradicional de mapeamento da matéria
escura, medindo como todo o enxame distorce a luz de objetos de fundo devido a
um fenómeno chamado lente gravitacional.
A
luz intraenxame foi detetada pela primeira vez no enxame de galáxias de Coma em
1951 por Fritz Zwicky, que relatou que uma das suas descobertas mais
interessantes era a observação de matéria luminosa e intergaláctica ténue no
enxame. Dado que o enxame de Coma, contendo pelo menos 1000 galáxias, é um dos
enxames mais próximos da Terra (330 milhões de anos-luz), Zwicky foi capaz de
detetar a luz fantasmagórica até com um modesto telescópio de 18 polegadas.
A
capacidade e sensibilidade, no infravermelho próximo, do Telescópio Espacial
James Webb da NASA, irá alargar em muito a procura de estrelas intraenxame no
Universo, ajudando, portanto, a resolver o mistério.
Fonte:
ccvalg.pt
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