Telescópios espaciais Euclides e Roman: Última chance para a energia escura?
Lado escuro do Universo - Um novo telescópio espacial, chamado Euclides (Euclid, em inglês), será lançado no início de Julho pela ESA (Agência Espacial Europeia) para explorar por que a expansão do Universo está acelerando - os cientistas chamam a causa desconhecida dessa aceleração cósmica de energia escura.
Comparação dos telescópios Euclides e Roman. [Imagem: NASA/ESA/ATG]
O telescópio recebeu seu nome em homenagem ao matemático grego Euclides de Alexandria, que viveu por volta de 300 aC e sistematizou o estudo da geometria. Como a densidade da matéria e da energia está ligada à geometria do Universo, a missão foi nomeada em sua homenagem. Em maio de 2027, o telescópio Euclides terá um companheiro, o telescópio espacial Nancy Grace Roman, da NASA, que se juntará ao Euclides para explorar esse quebra-cabeça de maneiras que talvez nos tragam informações sobre esse lado escuro do Universo - Nancy [1925-2018] era conhecida como a "mãe do telescópio Hubble".
Os
cientistas não têm certeza se a expansão acelerada do universo é causada por um
componente adicional de energia ou se sinaliza que nossa compreensão da força
da gravidade precisa ser alterada de alguma forma. Os astrônomos usarão os
telescópios Euclides e Roman para testar ambas as teorias ao mesmo tempo, na
expectativa que as duas missões descubram informações sobre o funcionamento
subjacente do Universo.
"Vinte
e cinco anos após sua descoberta, a expansão acelerada do Universo continua
sendo um dos mistérios mais prementes da astrofísica," disse Jason Rhodes,
do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. "Com esses próximos
telescópios, mediremos a energia escura de maneiras diferentes e com muito mais
precisão do que antes, abrindo uma nova era de exploração desse mistério."
Medições diferentes
Cada
um dos dois telescópios usará estratégias diferentes e complementares para
estudar a aceleração cósmica. Ambas as missões farão mapas 3D do Universo para
responder questões fundamentais sobre a história e a estrutura cósmica. Juntos,
eles serão mais poderosos do que individualmente.
O
Euclides observará uma área muito maior do céu - aproximadamente 15.000 graus
quadrados, ou cerca de um terço do céu - nos comprimentos de onda óptico e
infravermelho da luz, mas com menos detalhes do que o Roman, que enxergará mais
fundo, retrocedendo 10 bilhões de anos, quando o Universo tinha cerca de 3
bilhões de anos.
O
Roman observará uma área muito menor - cerca de 2.000 graus quadrados, ou um
vigésimo do céu, e apenas no infravermelho. Contudo, assim como vem acontecendo
com o telescópio espacial James Webb, essas emissões de calor permitem enxergar
além da poeira, revelando um número maior de galáxias mais fracas.
Enquanto
o Euclides se concentrará exclusivamente na cosmologia, o Roman também
pesquisará galáxias próximas, encontrará e investigará planetas em toda a nossa
galáxia, e estudará objetos nos arredores do nosso Sistema Solar.
A caça à energia escura
O
Universo tem-se expandido desde o seu nascimento, um fato descoberto pelo
astrônomo belga Georges Lemaitre em 1927, e confirmado por Edwin Hubble em
1929.
Os
cientistas esperavam que a gravidade da matéria do Universo desacelerasse
gradualmente essa expansão. Contudo, na década de 1990, ao observar um tipo
específico de supernova, descobriu-se que, cerca de 6 bilhões de anos atrás, a
energia escura começou a aumentar sua influência no Universo, e ninguém sabe
como ou por quê. O fato de tudo estar acelerando significa que falta algo
fundamental em nossa imagem do cosmos.
Infelizmente,
todos os esforços feitos até hoje para tentar desvendar esse mistério falharam
- e não apenas para a energia escura, mas também para a matéria escura -, o que
tem dado força a teorias alternativas, dispensando esse lado escuro do
Universo. Além disso, não existe um acordo sobre a taxa de expansão do
Universo, que apresenta valores diferentes de acordo com o método usado para medi-la.
Os
telescópios Euclides e Roman vão tentar salvar as teorias mais aceitas até
agora, e farão isso de modo diferente.
Primeiro,
tanto o Euclides quanto o Roman estudarão o acúmulo de matéria usando uma
técnica chamada lente gravitacional fraca. Esse fenômeno de curvatura da luz
ocorre porque qualquer coisa com massa deforma o tecido do espaço-tempo -
quanto maior a massa, maior a deformação. As imagens de uma fonte distante
produzidas pela luz que se move através dessas distorções também parecem distorcidas.
Quando esses objetos de lente mais próximos são galáxias massivas ou
aglomerados de galáxias, as fontes de fundo podem aparecer manchadas ou formar
várias imagens.
Massas
menos concentradas, como aglomerados de matéria escura, podem criar efeitos
mais sutis. Ao estudar essas distorções menores, os telescópios criarão mapas
3D da matéria escura. Embora mapas 3D do Universo já feitos não tenham
elucidado a aceleração da expansão cósmica, os cientistas esperam desta vez
encontrar as pistas que tanto procuram porque a atração gravitacional da
matéria escura, agindo como uma cola cósmica que une galáxias e aglomerados de
galáxias, contraria a expansão do universo. Registrar a matéria escura do
Universo ao longo do tempo cósmico ajudará a entender melhor o que impulsiona
esse jogo de empurrar e puxar na aceleração cósmica.
Estranho agrupamento das galáxias
As
duas missões também estudarão o modo como as galáxias se agruparam em
diferentes eras cósmicas. Os astrônomos detectaram um padrão na forma como as
galáxias se reúnem a partir de medições do Universo próximo: Para qualquer
galáxia hoje, temos cerca de duas vezes mais chances de encontrar outra galáxia
a cerca de 500 milhões de anos-luz de distância do que um pouco mais perto ou
mais longe.
Essa
distância cresceu ao longo do tempo devido à expansão do espaço. Assim, se
olharmos mais longe no Universo, para tempos cósmicos anteriores, poderemos
estudar a distância preferida entre as galáxias em diferentes épocas, o que se
espera nos mostrará uma história da expansão do Universo.
Ver
como o agrupamento de galáxias varia ao longo do tempo também permitirá um
teste preciso da força da gravidade, o que ajudará a diferenciar entre um
componente de energia desconhecido e várias teorias da gravidade modificadas,
que apresentam explicações alternativas para a aceleração cósmica - as mais
conhecidas são a teoria MOND, uma sigla em inglês para Dinâmica Newtoniana
Modificada, e a chamada Teoria Camaleão.
O
telescópio Roman fará uma pesquisa adicional para descobrir supernovas do tipo
Ia, um tipo especial de explosão estelar. Essas explosões atingem um pico de
brilho intrínseco semelhante, o que permite usá-las para determinar a que
distância as supernovas estão simplesmente medindo o quão brilhantes elas
aparecem.
Basta
então comparar seus brilhos para detectar a velocidade com que cada uma está se
afastando de nós, um padrão muito usado para medir a taxa de expansão do
Universo.
Fonte: Inovação Tecnológica
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