Hubble da NASA encontra explosão bizarra em lugar inesperado
O fenômeno astronômico conhecido como Transiente Óptico Azul de Alta Luminosidade (LFBOT, na sigla em inglês) recentemente intrigou a comunidade científica devido a uma descoberta feita pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA.
Este
é o conceito artístico de uma das explosões mais brilhantes já vistas no
espaço. Chamado de Transiente Óptico Azul Rápido Luminoso (LFBOT), ele brilha
intensamente na luz azul e evolui rapidamente, atingindo o brilho máximo e
desaparecendo novamente em questão de dias, ao contrário das supernovas que
levam semanas ou meses para diminuir. Créditos: NASA, ESA, NOIRLab da NSF, Mark
Garlick, Mahdi Zamani
Os
LFBOTs são eventos extremamente brilhantes no espectro visível, cujas
características desafiam a compreensão dos astrônomos. Neste texto,
exploraremos em detalhes essa descoberta fascinante e suas implicações,
utilizando informações obtidas a partir do estudo realizado pelo Hubble e
outras observações complementares.
A
primeira observação relevante é a raridade desses eventos cósmicos. Desde a
identificação do primeiro LFBOT, apelidado de “a Vaca”, em 2018, apenas um
punhado de ocorrências semelhantes foi detectado. Esses eventos são
caracterizados por um brilho intenso e súbito, comparável ao de um flash de
câmera, o que os torna extremamente distintos em um cosmos repleto de fenômenos
estelares. Atualmente, os LFBOTs são detectados aproximadamente uma vez por
ano.
A
singularidade do LFBOT recentemente observado, denominado “o Pardal”
(AT2023fhn), reside em sua localização. Ao contrário de todos os LFBOTs
anteriores, o Pardal não se encontra em um braço espiral de uma galáxia, onde a
formação estelar é ativa. Em vez disso, foi encontrado entre duas galáxias
vizinhas, a uma distância de aproximadamente 50.000 anos-luz de uma galáxia
espiral e 15.000 anos-luz de uma galáxia menor.
Essa
observação desafiadora foi possível graças às capacidades de alta resolução do
Telescópio Espacial Hubble. A análise desses dados revelou a natureza
extraordinária do Pardal, levando os astrônomos a questionar as teorias
existentes sobre os LFBOTs. Um aspecto notável é que todos os LFBOTs anteriores
haviam sido associados a supernovas do tipo colapso do núcleo, que ocorrem
quando estrelas massivas chegam ao fim de suas vidas e explodem.
Entretanto,
as estrelas progenitoras dessas supernovas tendem a não se deslocar
significativamente antes de explodirem, permanecendo próximas a aglomerados de
estrelas recém-nascidas.
Uma imagem do Telescópio Espacial Hubble de um Transiente Óptico Azul Rápido Luminoso (LFBOT) designado AT2023fhn, indicado por ponteiros. Ela brilha intensamente na luz azul e evolui rapidamente, atingindo o brilho máximo e desaparecendo novamente em questão de dias, ao contrário das supernovas que levam semanas ou meses para escurecer. Créditos Imagem: NASA, ESA, STScI, Ashley Chrimes (ESA-ESTEC/Universidade Radboud)
A
localização do Pardal, no espaço vazio entre duas galáxias, desafia essa
suposição fundamental. As estrelas que se tornam supernovas do tipo colapso do
núcleo geralmente não têm tempo para viajar longas distâncias desde o local de
seu nascimento até a explosão. No entanto, o Pardal é uma exceção notável,
sugerindo que os LFBOTs podem ocorrer em cenários que não se alinham com as
explicações tradicionais.
Outro
aspecto intrigante desse fenômeno é a rapidez com que ele atinge seu pico de
brilho e depois se desvanece, em questão de dias, ao contrário das supernovas,
que levam semanas ou meses para se extinguirem. Isso levanta a questão sobre o
que pode causar um evento tão intenso e fugaz no cosmos.
Uma
hipótese em consideração é a possibilidade de que os LFBOTs sejam provocados
por estrelas sendo despedaçadas por buracos negros de massa intermediária, com
massas entre 100 e 1.000 vezes a massa do nosso Sol. Para investigar essa
hipótese, o Telescópio Espacial James Webb, da NASA, com sua alta resolução e
sensibilidade no infravermelho, poderá ser empregado para examinar o local do
Pardal em um aglomerado globular de estrelas na periferia de uma das duas
galáxias vizinhas. Aglomerados globulares de estrelas são locais propícios para
a presença de buracos negros de massa intermediária.
Uma teoria alternativa que ganhou destaque é a ideia de que o Pardal poderia ser resultado da colisão de duas estrelas de nêutrons que, ao longo de bilhões de anos, espiralaram em direção uma à outra. Tais colisões produzem um fenômeno conhecido como kilonova, uma explosão mil vezes mais poderosa do que uma supernova padrão.
Imagem intitulada "AT2023fhn HST WFC3/UVIS" com teclas coloridas, barra de escala e setas de bússola mostra três galáxias contra o pano de fundo preto aveludado do espaço. Créditos Imagem: NASA, ESA, STScI, Ashley Chrimes (ESA-ESTEC/Universidade Radboud)
Nesse cenário, uma das estrelas de nêutrons envolvidas na
colisão poderia ser altamente magnetizada, conhecida como magnetar, o que
amplificaria ainda mais o poder da explosão, tornando-a até cem vezes mais
brilhante do que uma supernova comum.
No
entanto, é importante ressaltar que essas teorias ainda são especulativas e
exigem uma investigação mais aprofundada para determinar qual delas é a mais
apropriada para explicar o Pardal. Como observa Ashley Chrimes, autor principal
do estudo do Hubble sobre o assunto, “A descoberta levanta mais perguntas do
que respostas. Mais trabalho é necessário para descobrir qual das muitas
explicações possíveis é a correta.”
Dada
a natureza fugaz dos eventos astronômicos transitórios e sua capacidade de
ocorrerem em qualquer lugar e a qualquer momento, os pesquisadores dependem de
pesquisas de amplo campo que monitoram continuamente grandes áreas do céu para
detectá-los e alertar outros observatórios, como o Hubble, para realizar
observações de acompanhamento. No entanto, a compreensão completa dos LFBOTs
requer uma amostra maior desses eventos para obter insights mais robustos.
Futuros
observatórios, como o Observatório Rubin Vera C., que realizará varreduras de
todo o céu, podem contribuir significativamente para essa compreensão,
dependendo da física subjacente a esses eventos.
Em
resumo, a descoberta do LFBOT “o Pardal” desafia as concepções convencionais
sobre esses eventos cósmicos brilhantes e efêmeros. Sua localização entre duas
galáxias e suas características singulares abrem um novo campo de investigação
para astrônomos e astrofísicos. A busca por respostas continua, e a exploração
de eventos como o Pardal nos lembra da vastidão do universo e da infinita
complexidade de seus fenômenos.
Fonte: hubblesite.org
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