Lítio pode indicar quais estrelas têm planetas
O que torna o Sol único
Astrônomos
da USP descobriram uma correlação entre a presença de planetas ao redor de uma
estrela e um baixo conteúdo de lítio nessas estrelas hospedeiras.
Concepção artística da formação de um sistema planetário. Os planetas rochosos e o núcleo de planetas gigantes são formados a partir de rochas e metais, "roubando" lítio e outros elementos refratários da nuvem-mãe.[Imagem: Lynette Cook/Nasa/Fuse]
Essa
correlação pode ajudar a explicar por que o Sol possui uma abundância de lítio
anormalmente baixa em comparação com suas estrelas "gêmeas" e ajudar
a identificar estrelas que possuem planetas em suas órbitas a partir da análise
da sua composição química - detectar os próprios planetas é muito mais difícil
do que estudar a luz das estrelas, que dá pistas sobre os elementos que a
formam.
Como
o Sol rege o único sistema planetário que conhecemos abrigando vida, os
astrônomos voltam sua atenção para ele tentando descobrir qual aspecto torna o
Sol tão único. Quão parecido ou diferente é o Sol em comparação às outras
estrelas do Universo que poderia ter influenciado o surgimento da vida ao seu
redor?
Diversos
estudos conduzidos com "gêmeas solares" (estrelas com massa,
temperatura e composição química muito parecidas com as do Sol) revelaram uma
peculiaridade em nossa estrela hospedeira: Ela possui um conteúdo de lítio
muito mais baixo do que suas gêmeas de mesma idade. E essa característica pode
ser resultado do processo de formação do Sistema Solar.
"Todo
sistema planetário - composto tanto pela estrela quanto por seus planetas - é
formado a partir de uma mesma nuvem de gás e poeira. Portanto, eles têm os
mesmos elementos químicos disponíveis para a sua formação. Elementos que não
são facilmente condensados a altas temperaturas [como o hidrogênio ou o
nitrogênio] são encontrados geralmente em forma gasosa e são usados para compor
a estrela e os planetas gasosos," explicou a astrônoma Anne Rathsam.
"Por
outro lado, elementos que se condensam com facilidade [por exemplo, o lítio e o
ferro] formam sólidos, como os planetas rochosos. Sendo assim, é possível que o
lítio seja 'roubado' da nuvem-mãe durante a formação dos sistemas planetários
para compor os planetas, deixando a estrela hospedeira empobrecida em
lítio," acrescentou.
Lítio nas estrelas
A
pesquisa foi conduzida com dados do espectrógrafo HARPS, um instrumento
instalado no telescópio de 3,6 metros do Observatório Europeu do Sul (ESO), no
Chile, e envolveu a observação de 36 estrelas que possuem planetas conhecidos e
156 estrelas sem planetas detectados.
O
espectrógrafo, que funciona como um prisma, decompõe a luz da estrela nas
diferentes frequências e revela assinaturas que refletem a composição química
da estrela. Seguindo esse princípio, os pesquisadores puderam determinar o
conteúdo de lítio das estrelas estudadas, comparando as com e sem planetas em
busca de possíveis correlações.
Os
resultados revelam que estrelas sem planetas conservam aproximadamente o dobro
do conteúdo de lítio em relação às estrelas com planetas. Os testes
estatísticos indicam que é improvável que esse resultado seja fruto do acaso,
ou seja, a probabilidade de que ele reflete o comportamento real das estrelas é
alta (cerca de 99%).
"Encontramos
mais um argumento em favor da hipótese de que o Sol possui composição química
diferente de suas estrelas gêmeas devido, ao menos parcialmente, à presença de
planetas," afirmou Rathsam. "Não apenas isso, mas agora podemos buscar
por estrelas que possuem planetas a partir do estudo de suas abundâncias
químicas. Quando identificarmos uma estrela com conteúdo de lítio anormalmente
baixo, como no caso do Sol, teremos um indicativo de que ela pode ter planetas
ainda não detectados em sua órbita."
Fonte: Inovação Tecnológica
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