Rover Perseverance decifra a história antiga de lago marciano
Ao
assinalar o seu milésimo dia marciano no Planeta Vermelho, o rover Perseverance
da NASA completou recentemente a sua exploração do antigo delta de um rio que
contém evidências de um lago que encheu a cratera Jezero há milhares de milhões
de anos. Até à data, o cientista de seis rodas recolheu um total de 23
amostras, revelando a história geológica desta região de Marte.
Este mosaico de 360 graus do local "Airey Hill", no interior da cratera Jezero, foi gerado a partir de 993 imagens individuais obtidas pela Mastcam-Z do rover Perseverance, entre 3 e 6 de novembro. O rover permaneceu estacionado em Airey Hill várias semanas durante a conjunção solar. Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASU/MSSS
Uma
amostra chamada "Lefroy Bay" contém uma grande quantidade de grãos
finos de sílica, um material conhecido por preservar fósseis antigos na Terra.
Outra, "Otis Peak", contém uma quantidade significativa de fosfato,
que está frequentemente associado à vida tal como a conhecemos. Ambas as
amostras são também ricas em carbonato, que pode preservar um registo das
condições ambientais de quando a rocha se formou.
As
descobertas foram partilhadas na terça-feira, 12 de dezembro, na reunião de
outono da União Geofísica Americana, em São Francisco.
"Escolhemos a cratera Jezero como local de aterragem porque as imagens de órbita mostravam um delta - uma evidência clara de que um grande lago encheu a cratera. Um lago é um ambiente potencialmente habitável e as rochas do delta são um ótimo ambiente para enterrar sinais de vida antiga como fósseis no registo geológico", disse o cientista do projeto Perseverance, Ken Farley do Caltech.
"Depois de uma exploração minuciosa, reunimos a história geológica da cratera, traçando a sua fase de lago e rio do princípio ao fim."Jezero formou-se a partir do impacto de um asteroide há quase 4 mil milhões de anos. Após o pouso do Perseverance em fevereiro de 2021, a equipa da missão descobriu que o chão da cratera é feito de rocha ígnea formada a partir de magma subterrâneo ou de atividade vulcânica à superfície.
Desde
então, encontraram arenito e lamito, sinalizando a chegada do primeiro rio à
cratera centenas de milhões de anos mais tarde. Por cima destas rochas
encontram-se lamitos ricos em sal, indicando a presença de um lago pouco
profundo que sofreu evaporação. A equipa pensa que o lago acabou por crescer
até 35 quilómetros de diâmetro e 30 metros de profundidade.
Mais
tarde, a água de fluxo rápido transportou pedras do exterior de Jezero,
distribuindo-as no topo do delta e noutros pontos da cratera.
"Conseguimos
ver um esboço geral destes capítulos da história de Jezero em imagens de
órbita, mas foi necessário aproximarmo-nos com o Perseverance para compreender
realmente a linha temporal em pormenor", disse Libby Ives, pós-doutorada
no JPL da NASA no sul da Califórnia, que gere a missão.
Esta imagem da cratera Jezero de Marte é sobreposta com dados de minerais detetados a partir de órbita. A cor verde representa carbonatos - minerais que se formam em ambientes aquosos com condições que podem ser favoráveis à preservação de sinais de vida antiga. O Perseverance da NASA está atualmente a explorar a área verde acima do leque de Jezero (centro). Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS/JHU-APL
Amostras sedutoras
As
amostras recolhidas pelo Perseverance têm o tamanho de um pedaço de giz de sala
de aula e são armazenadas em tubos metálicos especiais como parte da campanha
MSR (Mars Sample Return), um esforço conjunto da NASA e da ESA. Trazer os tubos
para a Terra permitiria aos cientistas estudar as amostras com equipamento de
laboratório potente, demasiado grande para ser levado para Marte.
Para
decidir quais as amostras a recolher, o Perseverance começa por usar uma
ferramenta de abrasão para desgastar um pedaço de uma prospetiva rocha e depois
estuda a química da rocha usando instrumentos científicos de precisão,
incluindo o PIXL (Planetary Instrument for X-ray Lithochemistry), construído
pelo JPL.
Num
alvo a que a equipa chama "Bills Bay", o PIXL detetou carbonatos -
minerais que se formam em ambientes aquosos com condições que podem ser
favoráveis à preservação de moléculas orgânicas (as moléculas orgânicas
formam-se tanto por processos geológicos como por processos biológicos). Estas
rochas também tinham sílica em abundância, um material que é excelente para
preservar moléculas orgânicas, incluindo as relacionadas com a vida.
"Na
Terra, esta sílica de grão fino é o que se encontra frequentemente num local
que já foi arenoso", disse Morgan Cable do JPL, o investigador principal
adjunto do PIXL. "É o tipo de ambiente onde, na Terra, os restos de vida
antiga podem ser preservados e encontrados mais tarde".
Os
instrumentos do Perseverance são capazes de detetar tanto estruturas
microscópicas, semelhantes a fósseis, como alterações químicas que podem ter
sido deixadas por micróbios antigos, mas ainda não viram evidências de nenhuma
delas.
Num
outro alvo que o PIXL examinou, chamado "Ouzel Falls", o instrumento
detetou a presença de ferro associado a fosfato. O fosfato é um componente do
ADN e das membranas celulares de toda a vida terrestre conhecida e faz parte de
uma molécula que ajuda as células a transportar energia.
Depois
de avaliar as descobertas do PIXL em cada uma destas manchas de abrasão, a
equipa enviou comandos para o rover recolher amostras de rocha nas
proximidades: "Lefroy Bay" foi recolhida junto a Bills Bay e
"Otis Peak" em Ouzel Falls.
"Temos
condições ideais para encontrar sinais de vida antiga, onde encontramos
carbonatos e fosfatos, que apontam para um ambiente aquoso e habitável, bem
como sílica, que é ótima para a preservação", disse Cable.
O
trabalho do Perseverance está, naturalmente, longe de estar terminado. A quarta
campanha científica da missão vai explorar a margem da cratera Jezero, perto da
entrada do desfiladeiro onde um rio inundou o fundo da cratera. Foram detetados
ricos depósitos de carbonato ao longo da margem, que se destaca nas imagens
orbitais como um anel dentro de uma banheira.
Fonte: Astronomia OnLine
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