Será que encontrámos uma descendente direta das primeiras estrelas?
A estrela J1010+2358 pode
descender de apenas uma das primeiras estrelas, o que a tornaria uma poderosa
sonda da elusiva primeira geração de estrelas. No entanto, uma nova
investigação descobriu que as suas propriedades são consistentes com uma série
de ancestrais estelares.
A estrela J1010+2358. Crédito:
Populär Astronomi
Em busca da primeira geração de
estrelas
As primeiras estrelas do Universo
surgiram em nuvens de gás puro contendo apenas hidrogénio, hélio e uma pequena
quantidade de lítio. Este conjunto simples de ingredientes químicos
provavelmente permitiu com que a primeira geração de estrelas atingisse massas
enormes, embora a distribuição exata das suas massas seja desconhecida. Estas
estrelas primitivas criaram novos elementos nos seus núcleos e espalharam-nos
pelo Universo em grandes nuvens de gás enriquecido com metais.
Embora as estrelas massivas desta
primeira geração tenham desaparecido há muito da Via Láctea, as suas
descendentes podem ainda vaguear pela Galáxia. Encontrar estas descendentes -
especialmente aquelas em que podemos rastrear o seu material até um único
membro da primeira geração - seria uma forma poderosa de estudar as primeiras
estrelas do Universo. Recentemente, investigadores afirmaram ter encontrado uma
dessas estrelas, de nome J1010+2358.
A ausência geral de metais
(elementos mais pesados que o hélio, na linguagem dos astrónomos) e o curioso
padrão de abundância química da estrela sugerem que esta foi criada a partir do
gás deixado por uma estrela com 260 massas estelares; J1010+2358 é especialmente
pobre em elementos com números atómicos ímpares, como o sódio, em comparação
com os elementos com números atómicos pares. Agora, uma equipa liderada por
Ioanna Koutsouridou (Universidade de Florença) investigou se J1010+2358 é
realmente a descendente de um único e massivo membro da primeira geração de
estrelas.
Um estudo de genealogia estelar
A equipa de Koutsouridou examinou
se J1010+2358 contém material herdado de uma única estrela com 260 vezes a
massa do Sol, ou se contém material de várias estrelas. Usando modelos de
abundância química, a equipa descobriu que J1010+2358 pode, de facto, descender
de uma estrela com 260 massas solares - mas também pode ter tido outras
progenitoras estelares. Na verdade, sem ser possível medir vários elementos
químicos críticos no espetro de J1010+2358, só é possível dizer que o
antepassado estelar teorizado contribuiu com pelo menos 10% dos metais de
J1010+2358.
Embora J1010+2358 possa ter mais do que uma progenitora estelar, as suas propriedades podem ainda assim ajudar os investigadores a sondar a geração de estrelas que a precedeu. Usando modelos de como o enriquecimento químico da Via Láctea evoluiu ao longo do tempo, Koutsouridou e colaboradores usaram a não deteção de estrelas enriquecidas por apenas um antepassado estelar para determinar as massas das primeiras estrelas.
A força da restrição depende da quantidade de material de J1010+2358 que veio
do seu antepassado com 260 massas solares; só se mais de 70% dos metais da
estrela vierem de um único antepassado é que o seu padrão de abundância química
pode restringir a possível distribuição de massa das primeiras estrelas.
A caça às descendentes das
primeiras estrelas prossegue: os levantamentos de alta resolução continuam a
descobrir estrelas com apenas um antepassado estelar de primeira geração, e
observações futuras poderão preencher as medições de abundância elementar em
falta no espetro de J1010+2358 e assim clarificar a sua árvore genealógica.
Fonte: Astronomia OnLine
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