Onde foi parar a atmosfera de Marte? No subsolo do planeta
Marte nem sempre foi o planeta
hostil e desértico que vemos hoje. Há evidências de que, no início da sua
história, o planeta vermelho foi coberto por rios e lagos. Para isso, a
atmosfera de Marte deveria ser mais densa e espessa, evitando que a água congelasse.
2509-planeta-marte-super-site © NASA/Reprodução
O cenário mudou há cerca de 3,5
bilhões de anos, quando a água secou. O ar, que era rico em gás carbônico,
ficou mais fino e impediu que a água líquida se formasse novamente na
superfície do planeta. Esse é o estado em que Marte se encontra hoje.
Dois geólogos do Massachusetts
Institute of Technology (MIT) propõem que o CO2 foi está “preso” na argila que
cobre a crosta do planeta. A conclusão é baseada em processos geológicos que
ocorrem aqui na Terra – e, segundo os autores, poderiam se repetir em Marte. A
pesquisa foi publicada hoje (25) no periódico Science Advances.
Os autores sugerem que a água
tenha desencadeado uma série de reações que convertem o gás carbônico da
atmosfera (CO2) em metano (CH4), uma forma de carbono que pode ser armazenada
na argila marciana. De acordo com os cálculos publicados, estima-se que a
superfície de Marte possa guardar até 80% do CO2 que estava presente na
atmosfera inicial do planeta.
O caminho para a descoberta
começou em 2023, quando os autores pesquisavam uma mistura de minerais
argilosos chamada esmectita. O estudo indicou que esse mineral é produto da
atividade das placas tectônicas e pode guardar carbono por bilhões de anos na Terra.
A interação desse mineral com o gás carbônico da atmosfera ajudou a esfriar o
planeta ao longo de milhões de anos.
Após a publicação desse artigo, o
geólogo Oliver Jagoutz, professor no MIT, olhou um mapa da superfície de Marte
– e percebeu que boa parte dela está coberta por esmectita. Já conhecendo o
processo de captura de carbono na Terra, ele e seu aluno Joshua Murray
calcularam o mesmo para o planeta vermelho.
“Com base em nossas descobertas
sobre a Terra, nós mostramos que processos similares provavelmente ocorreram em
Marte”, diz Jagoutz, autor do estudo, em comunicado. “Esse metano ainda pode
estar presente e talvez até ser usado como fonte de energia em Marte no
futuro”. O carbono poderia ser usado como propulsor para futuras missões entre
Marte e a Terra.
Como o mineral se formou
em Marte?
Diferentemente da Terra, não há
atividade tectônica intensa em Marte que poderia ter trazido a esmectita para a
superfície. Os geólogos pesquisaram outros processos que explicariam a formação
do mineral no planeta.
Pesquisas e medições anteriores
mostram que parte da crosta do planeta é formada por rochas ultramáficas. Os
rios que antes existiam em Marte podem ter reagido com essas rochas, produzindo
a argila. Jagoutz e Murray desenvolveram um modelo que prevê essas reações,
baseando-se no que sabemos sobre as rochas ultramáficas da Terra.
Daí vem a captura de carbono: ao
longo de um bilhão de anos, a água que penetrava na crosta marciana teria
reagido com olivina – um mineral que está presente nas rochas de Marte e é rico
em ferro. As moléculas de oxigênio presentes na água teriam se ligado ao ferro
resultando em ferro oxidado, que dá cor ao planeta vermelho. O hidrogênio é
liberado nesse processo.
Esse hidrogênio livre se combina
com o dióxido de carbono na água, para formar metano. Com o passar do tempo, a
olivina se transforma em outro mineral rico em ferro chamado serpentina, que
então reage com a água para formar esmectita. Considerando que Marte está
coberto por esmectita ao longo de 1.100 metros de profundidade, a quantidade
seria suficiente para guardar a maior parte do CO2 que existia na atmosfera.
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