“Mundo d’água”: o primeiro planeta com a atmosfera feita de vapor d’água
Um planeta enorme, envolto em uma atmosfera de vapor de água: este é o GJ 9827 d. Ele fica a 100 anos-luz de distância da Terra e foi detectado pela primeira vez em 2017. Agora, com base em observações do Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês), cientistas puderam entender melhor sua atmosfera e composição.
1710–Telescópio-layout_site ©
Robert Lea (created with Canva)/Space/Reprodução
“É a primeira vez que vemos algo
assim”, disse Eshan Raul, coautor do estudo que analisa os dados do JWST, em um
comunicado. Segundo ele, o planeta parece ser feito quase inteiramente de vapor
quente de água. “Para ser claro, esse planeta não é hospitaleiro, pelo menos
para os tipos de vida que conhecemos na Terra.”
Os astrônomos há muito especulam
que “mundos de vapor” como o GJ 9827 d poderiam existir, mas essa é a primeira
vez que um exoplaneta desse tipo é observado. Mesmo que seja improvável que
esse planeta consiga abrigar vida, estudá-lo poderia guiar os astrônomos na
compreensão de outros exoplanetas semelhantes.
No início de 2024, o telescópio
espacial Hubble encontrou indícios de vapor de água na atmosfera do planeta.
Mas ainda havia uma grande diferença entre detectar indícios e provar que a
afirmação é real.
A investigação por trás do novo
estudo usou o JWST para capturar o espectro de luz que viajou pela atmosfera do
GJ 9827 d quando ele passou em frente a sua estrela. A técnica é chamada
espectroscopia de transmissão e funciona com base em um princípio físico: todo
elemento químico absorve e emite luz em comprimentos de onda eletromagnéticos
característicos.
Quando a luz de uma estrela
atravessa a atmosfera de um planeta, os elementos dessa atmosfera absorvem
determinados comprimentos de onda, deixando lacunas no espectro de luz. Essas
lacunas funcionam como as impressões digitais, que revelam a presença de elementos
e moléculas específicos nessa atmosfera.
Até então, a maioria dos
exoplanetas desse tipo que foram investigados possuía atmosferas compostas
majoritariamente por hidrogênio e hélio, os elementos mais leves e comuns do
Universo. Isso é muito diferente da complexa atmosfera da Terra e das atmosferas
que seriam necessárias para sustentar a vida como a conhecemos.
“GJ 9827 d é o primeiro planeta em que
detectamos uma atmosfera rica em moléculas pesadas como a dos planetas
terrestres do sistema solar”, disse, no mesmo comunicado, a líder do estudo
Caroline Piaulet-Ghorayeb. “Esse é um grande passo.”
Os resultados da pesquisa foram
publicados em 4 de outubro na revista Astrophysical Journal Letters. “Foi um
momento muito surreal”, disse Raul, que era um aluno da graduação no momento em
que a equipe percebeu que estavam lidando com um mundo d’água. “Trabalhar com
os dados do telescópio mais poderoso que já foi feito neste ponto da minha
carreira mostra que nunca houve um momento melhor para os jovens se dedicarem à
astronomia.”
msn.com
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