O universo primordial pode ter sido cheio de buracos negros supermassivos
Buracos negros
supermassivos são alguns dos objetos mais impressionantes (e assustadores) do
universo – com massas cerca de um bilhão de vezes maiores do que a do Sol. E
sabemos que eles existem há muito tempo.
Imagem via Pixabay
Na verdade, os astrônomos já
detectaram fontes extremamente luminosas e compactas localizadas no centro de
galáxias, conhecidas como quasares (buracos negros supermassivos em rápido
crescimento), quando o universo tinha menos de 1 bilhão de anos.
Agora, um novo estudo publicado
na *Astrophysical Journal Letters* usou observações do Telescópio Espacial
Hubble para mostrar que havia muito mais buracos negros (menos luminosos) no
início do universo do que se pensava. Isso pode nos ajudar a entender como eles
se formaram – e por que muitos deles parecem ser mais massivos do que o
esperado.
Como Buracos Negros
Crescem:
Buracos negros aumentam de massa
ao “engolir” material ao seu redor, em um processo chamado acreção. Isso produz
uma enorme quantidade de radiação, e a pressão dessa radiação impõe um limite
fundamental na velocidade com que os buracos negros podem crescer.
Isso representava um desafio para
os cientistas explicarem esses quasares massivos tão cedo na história do
universo: sem muito tempo cósmico para se alimentar, eles teriam que ter
crescido mais rápido do que fisicamente possível ou terem nascido surpreendentemente
grandes.
Sementes Leves vs.
Sementes Pesadas:
Mas, afinal, como os buracos
negros se formam? Existem algumas possibilidades. Uma delas é que buracos
negros chamados “primordiais” existam desde logo após o Big Bang. Embora isso
seja plausível para buracos negros de baixa massa, a formação de buracos negros
supermassivos em grande quantidade não seria possível segundo o modelo padrão
da cosmologia.
Sabemos que buracos negros podem
se formar no final da vida de estrelas massivas, e que eles poderiam crescer
rapidamente em aglomerados de estrelas extremamente densos, onde estrelas e
buracos negros se fundem. Esses seriam os chamados “sementes de massa estelar”,
que precisariam crescer muito rápido.
Outra hipótese é que os buracos
negros possam se formar a partir de “sementes pesadas”, com massas cerca de mil
vezes maiores que as das estrelas mais massivas conhecidas. Um mecanismo seria
o “colapso direto”, onde estruturas formadas por matéria escura aprisionam
nuvens de gás, impedindo a formação de estrelas e levando-as a colapsar
diretamente em buracos negros.
Mais Buracos Negros do Que
Imaginávamos:
Durante anos, tivemos uma boa
ideia de quantas galáxias existiam no primeiro bilhão de anos do universo. Mas
encontrar buracos negros nesses ambientes era difícil (só os quasares luminosos
podiam ser detectados).
Os buracos negros não crescem de
forma constante – eles “se alimentam” em períodos irregulares, fazendo sua
luminosidade variar com o tempo. Monitoramos algumas das galáxias mais antigas
por mudanças de brilho ao longo de 15 anos e usamos isso para estimar quantos
buracos negros existiam.
Descobrimos que havia várias
vezes mais buracos negros em galáxias comuns do início do universo do que
imaginávamos.
Novas Formas de Formação:
Existe uma outra forma exótica de
formar buracos negros que poderia criar sementes abundantes e massivas. Durante
a formação de estrelas, se um número significativo de partículas de matéria
escura for capturado, a estrutura interna poderia ser alterada, evitando que a
estrela acendesse como as normais. Isso permitiria que ela continuasse
crescendo por muito mais tempo, eventualmente colapsando em um buraco negro.
Agora acreditamos que processos
semelhantes a esse possam ter ocorrido para formar o grande número de buracos
negros que observamos no universo primordial.
Próximos Passos:
O estudo da formação de buracos
negros no início do universo passou por uma transformação nos últimos anos, mas
ainda estamos apenas começando.
Novos observatórios no espaço,
como a missão Euclid e o Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, irão completar
nosso levantamento de quasares menos luminosos. O projeto NewAthena e o
radiotelescópio Square Kilometer Array, na Austrália e na África do Sul,
ajudarão a entender os processos em torno dos buracos negros nos primórdios.
Mas é o Telescópio Espacial James
Webb que promete os avanços mais imediatos. Com sua capacidade de imagem e
espectroscopia, esperamos que os próximos cinco anos tragam respostas
definitivas sobre o número de buracos negros quando as primeiras galáxias estavam
se formando.
Podemos até mesmo presenciar a
formação de buracos negros em ação, ao observar explosões associadas ao colapso
das primeiras estrelas. Isso é possível, mas exigirá um esforço coordenado e
dedicado dos astrônomos.
Terrarara.com.br
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